Oriundos de Londres, os Pombagira chegam a 2013 com um novo álbum que marcará, certamente, o caminho que têm vindo a calcorrear desde 2006. Apostados em marcar a diferença no seio dum estilo com algumas limitações como é o Stoner/Doom Metal e com uma nova abordagem à sua sonoridade, estivemos à conversa com Pete Giles, uma das forças criativas da banda.
TODM- O início de 2013 vê
chegar um novo álbum. Qual o sentimento relativo a este trabalho e quais as
expectativas da banda?
As nossas espectativas são altas relativamente
à forma como o álbum tem sido aceite. Somos os primeiros a admitir que não vai
ser fácil ouvi-lo devido a ser um álbum longo, com hipnotizantes movimentos
psicadélicos, vibrantes que catapultam a mente para lugares que a maior parte
da música moderna/actual é incapaz de o fazer.
Em suma e resumindo, a nossa
aspiração com este álbum é ir para além dos limites celestes, com a introdução
deste novo conceito, de expansão musical, onde outros ainda não conseguiram
chegar.
TODM - Desde 2008, altura em
que surgiu 'Crooked Path', os Pombagira não pararam, mantendo um bom ritmo de
lançamento de discos. Onde se inspiram para manterem este ritmo criativo?
O propósito da nossa criatividade
é continuarmos conectados com outros seres ligados pela mesma opinião/gosto
musical, de uma forma física e ao nível metafísico também. ‘Maleficia Lamiah’
marca, definitivamente, o longo período entre lançamentos. Mas precisávamos de
tempo, de meditar, para aperfeiçoar o caminho a percorrer futuramente, fazendo
um esforço conjunto para não repetir o que já tínhamos feito anteriormente.
TODM - 'Maleficia Limiah' é
um pouco diferente do que tem sido hábito na vossa música. Esta opção foi
pensada, delineada ou encaram este como o passo natural que queriam dar?
Sim, é absolutamente intencional.
Crescemos a ouvir isto e estamos cansados de ouvir sempre os mesmos riffs
tocados por milhentas bandas de Doom, ou
bandas que tentam recuperar o passado, sem fazerem a menor ideia de como
conseguir fazê-lo. Havia também uma infinidade de bandas de Drone que,
confinadas ao seu minimalismo, recusaram-se a olhar para além do seu espaço.
Temos de perceber o ‘Iconoclast Dream’ e libertarmo-nos, procurando recuperar momentos
que marcaram uma
época em que ouvíamos um
álbum de Roy Harper ou dos Hawkind, fumando
um charro, procurando bons momentos para depois apenas voltar
para casa. Esses dias estão,
naturalmente, muito longe,
tal como a boa erva, mas deixou
uma marca que eu pensei
que tinha perdido. ‘Maleficia
Lamiah’ é o
nosso regresso a esses dias de
glória. Consequentemente, podemos
dizer, que gostamos de pensar
em nós, tendo como referência de visão moderna bandas como Amon
Düül II e
outras ligadas ao movimento Krautrock
ou, então, Pink Floyd. Deste
modo, podes perguntar-nos: “Vocês estão a tentar copiar/imitar
essas bandas?” “É
claro que não!”, seria a nossa resposta.
Essas referências não
são nada mais do que pontos
de ancoragem para o
público em geral, eu não acho que o nosso som
seja igual ao de qualquer uma delas,
porque para nós, pelo menos, não há outra
banda como Pombagira. E,
no entanto, continuam consecutivamente a
atirar-nos com
esses rótulos e... isso
é o que as pessoas fazem, tentam
encaixar-te num estilo e está feito . Bem,
nós não nos revemos da forma como nos rotulam,
estamos apenas a ser nós mesmos e
a música é uma expressão disso mesmo,
“estamo-nos nas tintas” para aqueles que tentam definir, de forma muito
simples, a nossa sonoridade.
TODM - Olhando para os
lançamentos anteriores, conclui-se que houve sempre uma intenção de não se
repetirem. 'Crooked Path' foi um álbum-duplo, 'Baron Citadel' foi muito forte,
com temas «orelhudos»; depois, 'Iconoclast Dream' teve somente um tema de 40
minutos. E, agora, 'Maleficia Lamiah'. Que têm a dizer sobre isto?
(risos)
Sempre disseram exactamente isso
sobre nós, que somos repetitivos, mas também que
somos uns segundos Electric
Wizard ou uns Sleep, mas não
tão bons. Nunca vimos
essa repetição no que fizemos. Tentamos
sempre evocar uma
viagem, trilhar um caminho para
as pessoas percorrerem, um mundo onde
todos estão convidados a perderem-se. Cinco
anos após o primeiro álbum, finalmente, acho que as
pessoas começam a entender, mas não
tenho a certeza. Eu ainda
desespero quando
vejo bandas actuais, ditas “da moda”, dentro daquilo que nós também fazemos e
é por isso que ‘Maleficia
Lamiah’ é
tão diferente. As guitarras
soam diferentes, mais
barulhentas, espaçadas,
reverberando com um tom que
nunca tínhamos conseguido antes.
Para nós, pelo menos, este
é um passo absoluto acima
de todos os esforços anteriores.
TODM - Quais as principais
influências, digamos, para a construção deste álbum?
O princípio subjacente na
construção das músicas foi baseado, todo ele, em volta do querer formar um
ambiente de uma viagem ou um caminho a percorrer. Isto é baseado simplesmente
na retrospecção porque até termos completado os temas todos, não temos ainda
uma ideia clara de como as músicas se vão alinhar e interligar umas com as
outras. Como nós costumamos dizer muitas vezes, acreditamos que as músicas têm
a sua vida própria e o que nós fazemos é evocar esse espírito, fora do processo
criativo. Penso que é um convite para habitar num turbilhão abrasador, na
profundidade, no abismo das nossas composições. Estas são as nossas influências
fazer sobressair ao máximo o melhor de cada composição sem nos restringirmos
pelo tempo ou ao espaço.
TODM – Nota-se, igualmente,
um espaço cada vez maior para a «experimentação», com novos e ambientes e
texturas principalmente nos lançamentos mais recentes. É uma aposta para o
futuro e uma forma de alargarem horizontes, fugindo ao rótulo Stoner/Doom a que
estavam a ficar confinados?
Eu realmente espero que a música
experimental tenha cada vez mais o seu espaço. O principal problema, o
calcanhar de Aquiles de géneros musicais como o Doom ou o Stoner é que são
incrivelmente limitados. Qualquer indicação de diversidade foi perdida quando
as bandas resolveram seguir esta ou aquela direcção, a afinação mais grave foi
absorvida pelo Stoner ou a tentativa de chegar ao som dos Black Sabbath ou
outras bandas importantes do género, de há muito tempo atrás.
Não estou muito convencido que
haja por aí alguma experimentação, daquela onde a banda realmente tenta puxar o
barco para fora do seu porto de abrigo. Infelizmente para nós é tudo tão
obsoleto, repetido, sem imaginação, com regurgitações lineares que, portanto,
não têm verdadeira expressão.
Para onde foi a surpresa ou a
notabilidade da música? Com algumas excepções, o processo criativo e expressivo
parece ter-se afogado. Quando foi a última vez que ouviste algo em que
disseste, “Nunca ouvi nada como isto antes?” Para mim isso já foi há muito
tempo e tenho a certeza que para ti também!
TODM - Planos para o futuro? Promoção do álbum? Concertos, digressões?
Os nossos planos são fazer uma tour novamente pela Europa lá para o outono, por isso esperamos visitar muitos países europeus no final de setembro e outubro de 2013. Para já não temos nada marcado nem planeado aqui no Reino Unido ou em outro lugar. Levamos connosco um grande backline que produz entre 110 - 125 decibéis e consequentemente temos dificuldade em encontrar espaços adequados para tocarmos ao vivo. Em todo o cas estamos sempre abertos a propostas…
English:
TODM- The beginning of 2013 starts with a new album. What is the feeling looking
to this album and what are your expectations?
Our expectations are high on how
this album is received. We are the first to admit that it isn’t going to be the
easiest to listen to it because the length and mesmerising swinging psychedelic
vibe catapults the mind to places that most modern music is incapable of doing.
In short, our aspiration for this album is to reach to the very limit of the
sky and beyond, by introducing a new form of mind expanding music that others
can really dig.
TODM - Since 2008, when 'Crooked Path' was released, Pombagira never stopped,
keeping a good rhythm of releases. Your inspirations come from where to keep
this creativity so high?
The purpose of our creativity is to
continue to connect with other like-minded spirits out there, whether physical
or metaphysical. ‘Maleficia Lamiah’ has definitely marked the longest period between
releases. But then we needed time, we
needed to meditate on its formation, perfecting the crooked route while making
a concerted effort to not repeat what we had already released.
TODM - 'Maleficia Limiah' is a little different from what you have done in
musical terms. This option was thought, outlined or you face this album as the
natural step that you wanted to give?
Yes, it was absolutely intentional.
We had grown so tired of hearing the same riffs played by a million so called
doom bands, or bands trying to recapture the past without having any idea on
how to achieve that, then of course there were the plethora of drone bands who
by the very constraint of minimalism refused to look beyond their confined
space. We needed to realise the 'Iconoclast Dream' and break free and head for
the hills to sit in meadows and regain contact with those moments we once held
so dear. Moments that defined a time when we were listening to an album,
smoking a joint, looking for good “red leb” (hash), only to return home, having
scored, to listen to Roy Harper or Hawkwind. Those days are of course long gone
as is the good hash but it left an imprint that I thought we had lost. ‘Maleficia
Lamiah’ is our return to those heady days. Consequently we may say, for reference
purposes that we like to think of ourselves as having a modern take on bands like
Amon Duul II and the Krautrock movement, or Pink Floyd. So you can ask are we
trying to copy these bands? Of course we aren’t, would be our response! These
references are nothing more than anchor points for the general public, I don’t
think we really sound like any of those bands because for us at least there is
no other band like Pombagira. And yet that doesn’t stop people continuing to
throw us in with those genres mentioned above, and hey… that’s what people do,
they try and fit you into an already defined box. Well we don’t fit whatever
anyone says, we’re just being ourselves and the music is an expression of that
as well as being a massive fuck off to
those who would try and define what we do in simple terms.
TODM - Looking at the previous releases, we can conclude that there was
always an intention to avoid repetition. 'Crooked Path' was a double-album,
'Baron Citadel' was very strong, with some catchy tunes and then 'Iconoclast
Dream' was mammoth-song of 40 minutes. And now, 'Maleficia Lamiah'. What do you
have to say about this?
Ahhh you see you say we were trying
to avoid repetition but our critics have always said exactly that about us,
whether it was that we are a second rate Electric Wizard or a Sleep “want to be”
band but never being as good. For us we never saw the repetition that others
saw in what we did. We have always tried to evoke a journey, a trail for people
to walk, a world into which all are invited to lose themselves. Maybe five
years down the line finally people are starting to get it, but I’m not sure. I
still despair when I see what the current “in” bands are within the scenes we
mingle with and that’s why ‘Maleficia Lamiah’ is so different. The guitars
sound different, noisier, spaced out, reverberating with a tone we have never
captured before. For us at least this is an absolute step up from all previous
efforts.
TODM - What are the main influences for the construction of this album?
The principle construction of the
songs has been based around wanting to form an environment wherein a journey or
trail can take place. But even this is based on retrospect because we never
have a clear idea on how the songs are going to come together until we have
completed them. As we often said before we believe the songs have a life of
their own, and what we do is try to evoke that spirit out of the creative
process. I suppose it is an invitation to indwell amongst the swirling and
searing heights and depths of our compositions. So in the end those are our influences to
bring out the most in every composition without being confined by time or
space.
TODM – There is, also, a growing space for 'experimentation' with new atmospheres
and textures, especially in newer releases. It is a bet for the future and a
way to broaden horizons, keep an open mind, fleeing the label Stoner / Doom that
you were to be confined?
I really hope the signs of
experimentation are really taking place. The main problem, the Achilles heel,
to Doom or Stoner music is that it is so incredibly limited. Any indication of
diversity has really been lost as bands head in one of two directions, the down
tuned deep south rock as encapsulated by Stoner or wanting to sound like Black
Sabbath or a host of other key players from a time long gone. So I am not
really convinced there is any experimentation out there, not where the band
really try and push the boat out from its safe moorings. Unfortunately for us
it is all so stale, rehashed, unimaginative linear regurgitations which
therefore lack true expression. Where has the surprise gone or the
remarkability of music? With few exceptions the creative expressive process
seems dead in the water. When was the last time you heard something where you
said I have never heard anything like this before? For me it’s been a long time as I am sure it
has for you!
TODM - Plans for the near future? Promotion of the album? Concerts, tours?
We
have plans to come and tour Europe again in the autumn, so expect Pombagira to
be hitting a lot of European countries at the end of Sept early Oct 2013.
Currently we have no concerts planned here in the UK or elsewhere. But we do
come with a large backline that produces 110 to 125 decibels and consequently
we find it difficult to locate suitable venues for us. Saying that we are
always open to offers…