sábado, 5 de maio de 2012

Ab Reo Dicere: (Echo) + EndName + Mare Infinitum

(Echo) - Devoid Of Illusions (2011)

E é assim. Quando menos se espera, eis que este primeiro longa-duração dos italianos (Echo) explode nas colunas da aparelhagem e deixa-nos de queixo caído e sem capacidade de reacção durante mais de uma hora. Em 'Devoid Of Illusions' há espaço para doom, death melódico, post-rock, space rock e até para umas piscadelas de olho a algum psicadelismo; e não é que tudo isto encaixa? Toda esta amálgama foi gerida de forma magistral, onde as partes mais agressivas são contrabalançadas por melodias que tanto têm de belo como de frágil, onde se saboreiam texturas diversas a cada minuto que passa e um piano; um piano que marca temas como 'Summoning The Crimson Soul' e 'Unforgiven March', com um trabalho simples e discreto, mas de uma beleza quase etérea, arrebatadora, numa palavra só. Por esta altura, os Mourning Beloveth e os Opeth dançam na nossa cabeça, mas com 'The Coldest Land', a paleta de cores e texturas expande-se ainda mais e a marca de Renkse e Nyström parece ganhar uma áurea quase palpável, que também anda de mão dada com as atmosferas dos Anathema - ouça-se 'Omnivoid', resgatada e de cara lavada para este álbum, ou então ‘Once Was A Man’.
Do princípio ao fim é a melodia que impera, onde o aturado e refinado trabalho conjunto de piano e guitarras atinge um elevado requinte de qualidade, sem nunca deixar de emanar aquele poder que nos cativa e, ao mesmo tempo, nos encosta à parede tal a força que detém. As vocalizações alternam entre o growl profundo e a quase declamação, limpa, a espaços quase um sussurro antes de se tornar em mais uma dose de peso cru e feio.
Longe de estar preso a um estilo restrito, 'Devoid Of Illusions' evidencia uma excelente gestão de elementos variados, capazes de ir ao encontro do apreciador de Metal na generalidade e não só de um registo específico. Demonstra uma banda eclética, que joga no risco e daí tira dividendos. E a prova disso mesmo está neste portento de música, no qual Greg Chandler terá, igualmente, a sua quota-parte de responsabilidade, devido ao seu excelente trabalho de produção. E será uma enorme pena passar despercebido. (16.9/20)



EndName - Anthropomachy (2011)

Após um EP e um álbum de estreia pouco mais que medianos, eis que os moscovitas EndName resolvem efectuar um upgrade na sua sonoridade e, desta vez, suportados por uma produção que faz ganhar aqueles pontos que podem fazer um disco sair da mol de lançamentos que por aí pairam, comparativamente ao que podemos constatar nos seus trabalhos anteriores.
Apesar de não levarem grandes desvios no que ao seu som diz respeito, o tal upgrade nota-se, principalmente, no investimento que cada tema teve e, ao mesmo tempo, na necessidade de haver uma ligação ao longo dos oito capítulos que compõem este 'Anthropomachy' e não fosse mais uma colagem de temas mais ou menos desgarrados e com marcas evidentes da necessidade de passarem mais umas horas na garagem a serem trabalhados.
Desde as primeiras batidas de tarola em 'Black Light', que depois explodem naquele riff demolidor que nos vai servindo de guia por incursões que tanto puxam para o sludge meio polido como para o doom que foge para o mid-tempo, que a mudança é bem notória. E, depois, é um desfiar de malhas encaixadas em ritmos duros e fortes até ao esvaimento do tema-título, que encerra a proposta mais coesa e com mais qualidade até à data dos EndName. Aqui, há espaço para crescer e a prova disso mesmo é o grande pulo desde 'Dreams Of A Cyclops'. A distribuição está a cargo da Slow Burn Records, mais um ponto a favor para que mais gente dedique algum tempo a este álbum, que ainda por cima é totalmente instrumental, o que não deixa de ser algo invulgar nestas paragens. (13.8/20)



Mare Infinitum - Sea Of Infinity (2011)

Da torrente de bandas e projectos ligadas às sonoridades mais arrastadas que nos vão chegando regularmente da Rússia, surge agora a estreia destes Mare Infinitum, que mais não são do que a colaboração entre Homer (ex-Who Dies In Siberian Slush) e A. K. iEzor (Abstract Spirit e ex-Comatose Vigil). Não querendo arriscar a designação de super-projecto, o facto é que a junção destas duas entidades criativas e de renome na cena russa não deixa de criar uma expectativa com a fasquia um pouco alta dado o historial que carregam. Mas também muitos são os casos em que a montanha pariu um rato. Em que ponto ficamos, portanto? Certamente, ali bem pelo meio. Se ao tomarmos contacto com 'Sea Of Infinity', não podemos dizer que é uma obra-prima, essencial para qualquer apreciador de doom metal, também não será justo desatar a dar pancada nos moços porque seguem, até um pouco em demasia, se calhar, as linhas com que se regem/regiam nos projectos referidos.
Alicerçado em bases atmosféricas, onde as teclas têm uma enorme preponderância, pautando-se como elemento central destes cinco temas, e onde as guitarras seguem, em grande parte, esse mesmo trilho, não se registando grandes variações ou um trabalho que lhes permita dar uma outra dimensão a este álbum. Aqui, é também frequente a dualidade entre explosões de peso com outras mais calmas e contemplativas, onde a voz ultra-gutural de Homer vai marcando presença, abafando tudo o que está em redor.
Provavelmente, a faixa de abertura, 'In Absence We Dwell', será o melhor exemplo para se tomar pulso a esta proposta e daí perceber quais as linhas com que aqui se cose este doom atmosférico.
Destas latitudes, já ouvimos trabalhos bem mais conseguidos, mas esta banda-sonora cai que nem ginjas numa noite de vento, frio e chuva onde quer que seja. (12.5/20)

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