(Echo) - Devoid Of Illusions (2011)
E é assim. Quando menos se espera, eis que este primeiro longa-duração dos
italianos (Echo) explode nas colunas da aparelhagem e deixa-nos de queixo caído
e sem capacidade de reacção durante mais de uma hora. Em 'Devoid Of Illusions'
há espaço para doom, death melódico, post-rock, space rock e até para umas
piscadelas de olho a algum psicadelismo; e não é que tudo isto encaixa? Toda
esta amálgama foi gerida de forma magistral, onde as partes mais agressivas são
contrabalançadas por melodias que tanto têm de belo como de frágil, onde se
saboreiam texturas diversas a cada minuto que passa e um piano; um piano que
marca temas como 'Summoning The Crimson Soul' e 'Unforgiven March', com um
trabalho simples e discreto, mas de uma beleza quase etérea, arrebatadora, numa
palavra só. Por esta altura, os Mourning Beloveth e os Opeth dançam na nossa
cabeça, mas com 'The Coldest Land', a paleta de cores e texturas expande-se
ainda mais e a marca de Renkse e Nyström parece ganhar uma áurea quase
palpável, que também anda de mão dada com as atmosferas dos Anathema - ouça-se
'Omnivoid', resgatada e de cara lavada para este álbum, ou então ‘Once Was A
Man’.
Do princípio ao fim é a melodia que impera, onde o aturado e refinado
trabalho conjunto de piano e guitarras atinge um elevado requinte de qualidade,
sem nunca deixar de emanar aquele poder que nos cativa e, ao mesmo tempo, nos
encosta à parede tal a força que detém. As vocalizações alternam entre o growl profundo e a quase declamação,
limpa, a espaços quase um sussurro antes de se tornar em mais uma dose de peso
cru e feio.
Longe de estar preso a um estilo restrito, 'Devoid Of Illusions' evidencia
uma excelente gestão de elementos variados, capazes de ir ao encontro do
apreciador de Metal na generalidade e não só de um registo específico.
Demonstra uma banda eclética, que joga no risco e daí tira dividendos. E a
prova disso mesmo está neste portento de música, no qual Greg Chandler terá,
igualmente, a sua quota-parte de responsabilidade, devido ao seu excelente
trabalho de produção. E será uma enorme pena passar despercebido. (16.9/20)
EndName - Anthropomachy (2011)
Após um EP e um álbum de estreia pouco mais que medianos, eis que os
moscovitas EndName resolvem efectuar um upgrade
na sua sonoridade e, desta vez, suportados por uma produção que faz ganhar
aqueles pontos que podem fazer um disco sair da mol de lançamentos que por aí
pairam, comparativamente ao que podemos constatar nos seus trabalhos
anteriores.
Apesar de não levarem grandes desvios no que ao seu som diz respeito, o tal upgrade nota-se, principalmente, no
investimento que cada tema teve e, ao mesmo tempo, na necessidade de haver uma
ligação ao longo dos oito capítulos que compõem este 'Anthropomachy' e não
fosse mais uma colagem de temas mais ou menos desgarrados e com marcas
evidentes da necessidade de passarem mais umas horas na garagem a serem
trabalhados.
Desde as primeiras batidas de tarola em 'Black Light', que depois explodem
naquele riff demolidor que nos vai servindo de guia por incursões que tanto
puxam para o sludge meio polido como para o doom que foge para o mid-tempo, que
a mudança é bem notória. E, depois, é um desfiar de malhas encaixadas em ritmos
duros e fortes até ao esvaimento do tema-título, que encerra a proposta mais
coesa e com mais qualidade até à data dos EndName. Aqui, há espaço para crescer
e a prova disso mesmo é o grande pulo desde 'Dreams Of A Cyclops'. A
distribuição está a cargo da Slow Burn Records, mais um ponto a favor para que
mais gente dedique algum tempo a este álbum, que ainda por cima é totalmente
instrumental, o que não deixa de ser algo invulgar nestas paragens. (13.8/20)
Link: http://www.endname.ru/
Mare Infinitum - Sea Of Infinity (2011)
Da torrente de bandas e projectos ligadas às sonoridades mais arrastadas que
nos vão chegando regularmente da Rússia, surge agora a estreia destes Mare
Infinitum, que mais não são do que a colaboração entre Homer (ex-Who Dies In
Siberian Slush) e A. K. iEzor (Abstract Spirit e ex-Comatose Vigil). Não
querendo arriscar a designação de super-projecto, o facto é que a junção destas
duas entidades criativas e de renome na cena russa não deixa de criar uma
expectativa com a fasquia um pouco alta dado o historial que carregam. Mas
também muitos são os casos em que a
montanha pariu um rato. Em que ponto ficamos, portanto? Certamente, ali bem
pelo meio. Se ao tomarmos contacto com 'Sea Of Infinity', não podemos dizer que
é uma obra-prima, essencial para qualquer apreciador de doom metal, também não
será justo desatar a dar pancada nos moços porque seguem, até um pouco em
demasia, se calhar, as linhas com que se regem/regiam nos projectos referidos.
Alicerçado em bases atmosféricas, onde as teclas têm uma enorme
preponderância, pautando-se como elemento central destes cinco temas, e onde as
guitarras seguem, em grande parte, esse mesmo trilho, não se registando grandes
variações ou um trabalho que lhes permita dar uma outra dimensão a este álbum.
Aqui, é também frequente a dualidade entre explosões de peso com outras mais
calmas e contemplativas, onde a voz ultra-gutural de Homer vai marcando
presença, abafando tudo o que está em redor.
Provavelmente, a faixa de abertura, 'In Absence We Dwell', será o melhor
exemplo para se tomar pulso a esta proposta e daí perceber quais as linhas com
que aqui se cose este doom atmosférico.
Destas latitudes, já ouvimos trabalhos bem mais
conseguidos, mas esta banda-sonora cai
que nem ginjas numa noite de vento, frio e chuva onde quer que seja.
(12.5/20)
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