É com um piano sorumbático, onde as notas soltas ecoam placidamente, que inicia a nova proposta desta entidade obscura e misteriosa que dá pelo nome de Ea. Sob esse piano, um ruído surdo enegrece o cenário, desde esses primeiros segundos, acabando tudo por eclodir numa explosão de guitarras que fazem chorar as pedras da calçada, lancinantes, ritmos fortes mas lentos e teclados que mais não são do que a voz de uma morte qualquer que percorre, na sua negra altivez, um cenário desolador, em busca de um derradeiro sopro de vida.
Ao longo deste tema, com mais de 47 minutos, o projecto não se desvia um milímetro da sua matriz funérea e durante a sua audição, que nunca chega a tornar-se cansativa ou desinteressante, sendo possível verificar um continuum dos elementos que pudemos testemunhar ao longo dos três primeiros trabalhos e, de certa forma, começaram a mostrar sinais de algum "cansaço" em 'Au Ellai'.
No entanto, neste trabalho homónimo, parece que houve algum rejuvenescimento a que não será alheia a abertura a alguns momentos mais desafiantes, conseguindo dar uma certa aura de grandiosidade a este 'Ea'. Após o referido prólogo, vamos de encontro a um dos momentos mais belos e marcantes, proporcionado por um "coro" envolto em teclados que nos remetem para uma qualquer celebração, atingindo níveis épicos. Após esse primeiro clímax, digamos, mergulhamos num longo período sonoramente típico deste projecto, embora sempre num nível interessante, onde se conjugam habilmente o peso do funeral doom, e as passagens mais atmosféricas que são imagem de marca dos Ea.
Esta situação só volta a mudar à entrada para os últimos 23 minutos, onde somos sacudidos dessa letargia, por uma toada quasi death metal, regressando minutos depois ao normal modus operandi, desta feita com direito a vocalizações e a um solo lá mais para a frente, onde as teclas assumem um plano de destaque conduzindo-nos para o final, num embalo triste.
Já longe do impacto que teve 'Ea Taesse', este quarto álbum irá marcar pontos pelo facto de ser o mais equilibrado, o mais ambicioso, que mais declaradamente criou espaço para novas experimentações e, curiosamente, é o primeiro que não obedece a um conceito ou trilogia. (15.4/20)
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