O ano ainda vai a meio e a julgar pela colheita podemos dizer que é de assinalável qualidade, mais uma vez e pauta-se igualmente pela diversidade estilística, demonstrando que o panorama metálico português está de boa saúde e recomenda-se.
De entre um fervilhar de projectos e bandas que todos os meses vão assomando com novos trabalhos intra-muros, um grande destaque vai para os Sinistro - confesse-se que esta denominação, só por si, já é merecedora de curiosidade -, que fazem a sua aparição, auto-intitulada, num registo polifacetado, aglutinador de tantas referências que o seu enquadramento estilístico acaba por não ser nada fácil. Por aqui, há devaneios floydianos, momentos contemplativos com um fundo sonoro na linha do ambiental, há post-metal pré-'Oceanic' - com um toquezinho a Mono aqui e ali - e o bolo parece ficar completo, unindo estes ingredientes todos, com uma boa dose de doom metal. E, o mais interessante é que tudo faz sentido ao longo destes oito temas; as peças vão encaixando à medida que os minutos vão passando e tudo flui tão harmoniosamente que, terminado o som, fica uma sensação de desconforto, impelindo-nos a carregar não só no play, mas no repeat também, para uma prolongada viagem ao fundo destes temas. Somos absorvidos de forma subtil e tão generosa para o meio deste cenário - ou conjunto de cenários encadeados -, que desde cedo nos sentimos parte desta banda-sonora em que cada um de nós é o compilador de imagens e as coloca pela ordem que nos aprouver; e continuarão a fazer sentido, mesmo assim.
Num trabalho que funciona como um todo, é difícil destacar este ou aquele tema, mas 'O Acidente e a Euforia' tenta sintetizar, em pouco mais de quatro minutos, a fórmula aqui exposta - neste caso, com o contributo de Gabriel Coutinho -, 'O Dia Depois do Meu Funeral' que anda ali a deixar-se embeber pelo formato canção e, no derradeiro assomo, 'A Ira', a catarse musicada em onze minutos, onde um conjunto de teclados soberbo eleva em muito a qualidade deste tema e que conta, ainda, com a participação de Tó Pica, que efectua um belo solo já perto do final.
Desassombradamente, os Sinistro mostram-se sob uma paleta de cores que não nos deixaram indiferentes, restando saber se as mesmas têm o mesmo poder ao vivo e se mantêm a mesma vivacidade em momentos futuros. Se assim for, ainda iremos ouvir falar, e muito, deste misterioso trio. (15/20)
Nenhum comentário:
Postar um comentário