sábado, 25 de fevereiro de 2012

Earth - Angels Of Darkness, Demons Of Light II (2012)

Quem esteve ou está atento ao percurso desta banda seminal do movimento drone/doom, no início da década de 90, já deve ter reparado nas diferentes vertentes que a sua música já abraçou. Uma primeira fase, ligada aos sons densos e enigmáticos do drone, passando alguns anos mais tarde por incursões que nada ficam a dever ao stoner rock; mas, desde que a banda voltou a fazer música em 2003, Dylan Carlson e os seus capangas voltaram a abraçar os temas mais minimalistas, quase xamânicos ou contemplativos, injectando-lhes, desta feita, alguns traços que vão beber ao country e que confere a mais uma etapa na carreira deste projecto que já vai além dos 20 anos.
Esta segunda parte de 'Angels Of Darkness, Demons Of Light', tal como a primeira, vem reforçar todo o trabalho presente em álbuns como 'HEX; Or Printing In The Infernal Method' ou o mais recente 'The Bees Made Honey In The Lion's Skull', seguindo uma veia de espontaneidade que se nota aqui mais presente nestes cinco temas, onde a guitarra de Carlson toma as rédeas e conduz os restantes elementos por paisagens calmas, dando asas a momentos de estranha, mas cativante, improvisação, como são os casos de 'Sigil Of Brass' ou 'The Corascene Dog', enquanto 'His Teeth Did Brightly Shine' ou 'Multiplicity Of Doors' enveredam por caminhos que vão mais ao encontro de 'Angels Of Darkness ... I'. Apesar de registar um conjunto de momentos da mesma sessão de gravação que deu origem ao seu predecessor, nota-se que os temas aqui não são tão imediatos e necessitam de um conjunto de audições mais apuradas e aturadas. Ninguém espere uma 'Old Black' versão 2 ou uma reinterpretação de 'Father Midnight', porque o que irá encontrar neste segundo tomo serão cinco exercícios que tresandam a improvisação e que ficam, infelizmente, um pouco abaixo do que já tinhamos ouvido no ano passado. (12/20)

English:

Those who were or are attentive to the pathway of this seminal band of the drone/doom movement, in the beginning of the 90’s, must have noticed the different slopes that his music followed. A first one, has been connected with the dense and enigmatic sounds of drone; some years later, incursions over stoner rock, marking the decay of the project and leading it to a dead end; but, since the band started to do music again, in 2003, Dylan Carlson and his comrades hugged the most minimalist way of doing things right again, with simple and minimal songs, almost shamanic or contemplative at least, injecting some aspects that are going to drink to country music. This last one checks the new stage of this project that goes already besides 20 years.
This second part of 'Angels Of Darkness, Demons Of Light', such as the first one, comes to reinforce all the present work in albums like 'HEX; Or Printing Infernal In The Method' or the most recent 'The Bees Made Honey In The Lion's Skull', following a vein of spontaneity that is more present in this record, where the guitar of Carlson takes the reins and drives the remaining elements for calm landscapes, giving wings to moments, sometimes, of strange, but captivating, improvisation, as we can see the cases of 'Sigil Of Brass' or 'The Corascene Dog', while 'His Teeth Did Brightly Shine' or 'Multiplicity Of Doors' follow roads that go more to the meeting of 'Angels Of Darkness... I'. In spite of registering a set of moments of the same session of carving what it gave rise to his predecessor, it is noticed that the tracks here are not so immediate and need a set of more refined and endured auditions. Let us inform to not wait for a 'Old Black' version 2 or a reinterpretation of 'Father Midnight', because what you will find in this second tome will be five exercises that push improvisation to the front line, but in general, unfortunately, the whole thing stays a little below of what we already heard in last year. (12/20)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Darkside Of Innocence - Xenogenesis (2012)


O projecto português Darkside Of Innocence regressa, neste início de 2012, com o seu novo trabalho, ‘Xenogenesis’, pela mão da recém-criada Infektion Records, depois de há três anos ter lançado o seu longa-duração de estreia e ter criado um grande burburinho no seio do underground nacional não só pela qualidade dos seus temas, coesão e abordagem a um black metal sinfónico, mas também pela criação de uma imagética que visava proporcionar uma dimensão extra-musical, tal como imensas bandas utilizam nos dias que correm.
Desde a edição de ‘Infernum Liberus EST’ e a chegada a este novo registo muita coisa se alterou, e os Darkside Of Innocence de hoje não são mais do que a visão de Pedro Remiz, único elemento restante do line up de 2009 e que transformou esta numa one man band.
Ao longo dos oito temas desta nova proposta, podemos verificar que existe uma significativa alteração sonora, libertando-se em definitivo do casulo do black metal de vertente mais sinfónica e aposta em várias direcções, o que nos poderia levar a concluir numa miscelânea desconexa e sem identidade. Na realidade, não é o que se passa durante estes trinta minutos.
Apesar de não ser um disco de doom per se, há por aqui algo que nos remete para esse espectro, principalmente na primazia que se verifica nos momentos mais atmosféricos e mais downtempo, alguns deles com recurso a elementos electrónicos, relegando para segundo plano a vertente explorada no passado. Pode parecer estranho, mas em ‘Xenogenesis’, fica-se com a sensação de estarmos perante vários estilos, sem serem tocados convencionalmente. De facto, ao tomar contacto com ‘Cerberus’ e ‘Lux Omega’, single e EP, distribuídos gratuitamente via internet no ano passado, tornaram-se claras as mudanças que se avizinhavam no seu cerne musical, embora ainda hajam pontos de contacto com a matriz do passado. Apesar de tudo, não vemos este novo álbum como uma continuidade ou a exploração de uma vertente sonora do projecto, mas antes uma ruptura sem cortar em definitivo com o passado, piscando o olho a várias realidades e hipóteses, até que a sua sonoridade solidifique e confirme este projecto no panorama nacional, através das armas que são agora apresentadas e desenvolvidas no futuro. (Re)nascer, mas devagar. (12.8/20)