sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Modern Funeral Art - Doom With A View (2009)

Os franceses Modern Funeral Art lançaram no início do ano passado o seu segundo registo em formato álbum. Inicialmente sem apoio de uma editora, vêem-se agora ligados à Apollon Records, garantindo-lhes maior visibilidade a este "Doom With A View".
O que temos neste trabalho é uma prazenteira conjugação de gothic e apontamentos doom, garantindo um registo mediano, sem grandes surpresas, rasgos de originalidade, onde o mar não se encontra muito crispado, mas que ao longo dos 40 minutos de duração não desagrada, havendo até bons apontamentos em temas como "Alexander", "Dante In The Dusty Woods" e o tema final "The Dance", onde a mistura dos estilos referidos soa melhor, face a boas linhas de guitarra e a uma secção rítmica que segura bem o tema e consegue dar-lhe a dimensão desejada. Um pequeno senão vai para a prestação vocal de Arnaud Spitz; esta, necessita de mais garra, porque perde-se, às vezes, no meio da massa sonora e o tom melódico explorado em demasia torna-se um pouco cansativo a partir do meio do álbum.
Apesar de não conter temas brilhantes, que os consiga catapultar para uma posição de grande destaque, os Modern Funeral Art que já contam com quase 12 anos de carreira, vêm confirmar que o underground francês continua bem vivo, de saúde, mostrando-se como um dos mais prolíficos da cena europeia ao longo da última década. 
E só nos resta continuar optimistas em relação a estes dois cenários, porque certamente teremos mais boas notícias em breve. (12/20)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Starvation Ritual - The Gallow's Lament (2009)

Ao terceiro registo, o projecto Starvation Ritual acerca-se das ambiências que nos têm trazido a este espaço. Os seus anteriores trabalhos, "Ultimate Headfuck" e "Hunger Rites", movimentavam-se muito mais em torno do noise rock, sempre com um carácter minimalista. Esta característica, apesar da notória inflexão estilística, mantém-se bem viva; o trabalho de guitarra e bateria são elementares e ao longo dos quatro temas deste registo as variações rítmicas são praticamente nulas.
Este "The Gallow's Lament" é bastante mais negro, estruturado e compassado (quando possível) relativamente ao que se fez no passado, buscando aqui e ali uns tons mais drone ou funeral na sua base unicamente instrumental.
Apesar de os temas não soarem demasiado iguais entre si, é difícil destacar um ou outro, porque parece encaixarem numa sequência narrativa e que ao destacar uma peça, esta irá tornar-se uma ilha; ou seja, ouvir algum destes temas isoladamente irá soar sem nexo e extremamente doloroso para o ouvinte.
Sem fins comerciais, mantendo uma linha estritamente underground, onde as informações relativas ao projecto e do(s) seu(s) executante(s) são quase nulas, os Starvation Ritual mostram-se, com este trabalho, senhores das abordagens musicais que bem entendem explorar, apesar de necessitarem de alguns ajustes ao nível da composição, por forma a continuarem a soar a fresco. (10/20)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Insanity Reigns Supreme - Occultus Insanus Damnatus (2009)

Bélgica. Os primeiros nomes que assomam na cabeça são Ancient Rites e Danse Macabre. Possivelmente, dentro em breve, poder-se-ão juntar estes Insanity Reigns Supreme. Mas perguntarão: porquê? Adoptando uma fórmula escapista, poderia remeter para as notas sobre o último de Raventale (e até colocava aqui o link, para facilitar) e o assunto ficaria resolvido de forma airosa.
No entanto, não é essa a política da casa (Templo, em rigor) e estes senhores merecem a devida deferência, porque já por aqui andam há 20 anos. Está certo que só lançaram 3 álbuns de originais, muito espaçados no tempo entre si, mas temos que admitir que todos eles têm uma boa qualidade, misturando em doses sábias o que de melhor se encontra no Death Metal de linhas mais melódicas e os andamentos mais sincopados do Doom.
E neste "Occultus Insanus Damnatus" o quinteto refina a sua fórmula e serve-nos, em 36 minutos, uma colecção de temas que irá fazer o fã do género carregar no botão do play uma boa série de vezes e, para quem ainda não descobriu este colectivo, ir em busca dos trabalhos anteriores.
Não faltam aqui as vocalizações femininas criando contraste aos growls, guitarras bem pesadas, secção rítmica trabalhada e bem presente a que podemos ainda acrescentar alguns momentos bem rápidos, mas sem blasts, entrecortados por paragens ou passagens mais lentas; exemplos disso mesmo são "Deus Serpentis", "Legion" ou mesmo o tema-título. Ao longo do álbum, para além da Intro "Summoning The Ancients", ainda é possível escutar mais dois interlúdios que servem, praticamente, de base à entrada no tema seguinte.
Num momento em que começam a despontar os primeiros lançamentos do novo ano, que se pretende tão bom como o que passou, ainda podemos bem olhar para o nosso passado recente e afirmar que a par da quantidade houve muita qualidade. E os Insanity Reigns Supreme encaixam bem nesta última. (15/20)


domingo, 17 de janeiro de 2010

Década e Meia Depois de Miguel Torga


Há exactamente 15 anos, desapareceu do mundo dos vivos uma das mais insignes personalidades do século XX português; Adolfo Correia Rocha de baptismo, Miguel Torga para o mundo.
O homem que cantou o mundo rural, as agruras da vida, as leis que aprisionam o homem e o seu instinto no sofrimento da tirania divina e terrestre.
Contista, dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta, possuia uma linguagem escrita forte mas com um acentuado travo popular, forte, vigoroso e sóbrio.
O blog Temple Of Doom Metal revê na escrita de Torga muitas características que estão presentes neste estilo musical (a luta interna, a desgraça, o terror, a negação do divino, a morte) e, porque a vida não é só feita de centenários, pretende desta forma, singela e humilde, prestar-lhe uma sentida homenagem.
Desta forma, e utilizando as novas tecnologias ao dispôr, apresenta nesta homenagem uma pequena biografia do poeta e junta-lhe o poema "Orfeu Rebelde", incluido na obra com o mesmo nome, de 1958. Este mesmo texto pode, igualmente ser ouvido pela mão do projecto Orfeu Rebelde (Fernando Ribeiro e Pedro Paixão, dos Moonspell, e Rui Sidónio, Bizarra Locomotiva), no myspace do blog.




 Nota Biográfica


Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia Rocha, nasceu na freguesia de S. Martinho de Anta, município de Sabrosa (Trás-os-Montes).
Proveniente de uma família humilde, teve uma infância rural dura, que lhe deu a conhecer a realidade do campo, sem bucolismos, feita de árduo trabalho contínuo. Após uma breve passagem pelo seminário de Lamego, emigrou com 13 anos para o Brasil, onde durante cinco anos trabalhou na fazenda de um tio, em Minas Gerais, como capinador, apanhador de café, vaqueiro e caçador de cobras. De regresso a Portugal, em 1925, concluiu o ensino liceal . Em 1927 é fundada a revista Presença de que é um dos colaboradores desde o início. Em 1928 entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro, "Ansiedade", de poesia. É em Coimbra, onde vai também a exercer a sua profissão de médico e onde escreve a maioria dos seus livros.
Ligado, inicialmente, ao grupo da revista Presença, dele se desligou em 1930, fundando nesse mesmo ano, com Branquinho da Fonseca (outro dissidente), a Sinal, de que sairia apenas um número. Em 1936, lançou outra revista, Manifesto, também de duração breve.
A sua saída da Presença reflecte uma característica fundamental da sua personalidade literária, uma individualidade veemente e intransigente, que o manteve afastado, por toda a vida, de escolas literárias e mesmo do contacto com os círculos culturais do meio português. A esta intensa consciência individual aliou-se, no entanto, uma profunda afirmação da sua pertença à natureza humana, com que se solidariza na oposição a todas as forças que oprimam a energia viva e a dignidade do homem, sejam elas as tiranias políticas ou o próprio Deus. Miguel Torga, tendo como homem a experiência dos sofrimentos da emigração e da vida rural, do contacto com as misérias e com a morte, tornou-se o poeta do mundo rural, das forças telúricas, ancestrais, que animam o instinto humano na sua luta dramática contra as leis que o aprisionam. Nessa revolta consiste a missão do poeta, que se afirma tanto na violência com que acusa a tirania divina e terrestre, como na ternura franciscana que estende, de forma vibrante, a todas as criaturas no seu sofrimento. Mas essa revolta, por outro lado, não corresponde a uma arreligiosidade ou recusa da transcendência.
A sua obra, recheada de simbologia bíblica, encontra-se, antes, imersa num sentido divino que transfigura a natureza e dignifica o homem no seu desafio ou no seu desprezo face ao divino. A ligação à terra, à região natal, a Portugal, à própria Península Ibérica e às suas gentes, é outra constante dos textos do autor. Ela justifica o profundo conhecimento que Torga procurou ter de Portugal e de Espanha, unidos no conceito de uma Ibéria comum, pela rudeza e pobreza dos seus meios naturais, pelo movimento de expansão e opressões da história, e por certas características humanas definidoras da sua personalidade. A intervenção cívica de Miguel Torga, na oposição ao Estado Novo e na denúncia dos crimes da guerra civil espanhola e de Franco, valeu-lhe a apreensão de algumas das suas obras pela censura e, mesmo, a prisão pela polícia política portuguesa.
Contista exímio, romancista, ensaísta, dramaturgo, autor de mais de 50 obras publicadas desde os 21 anos, estreou-se em 1928 com o volume de poesia Ansiedade. Também em poesia, publicou, entre outras obras, Rampa (1930), O Outro Livro de Job (1936), Lamentação (1943), Nihil Sibi (1948), Cântico do Homem (1950), Alguns Poemas Ibéricos (1952), Penas do Purgatório (1954) e Orfeu Rebelde (1958). Na ficção em prosa, escreveu Pão Ázimo (1931), Criação do Mundo. Os Dois Primeiros Dias (1937, obra de fundo autobiográfico, continuada em O Terceiro Dia da Criação do Mundo, 1938, O Quarto Dia da Criação do Mundo, 1939, O Quinto Dia da Criação do Mundo, 1974, e O Sexto Dia da Criação do Mundo, 1981), Bichos (1940), Contos da Montanha (1941), O Senhor Ventura (1943, romance), Novos Contos da Montanha (1944), Vindima (1945) e Fogo Preso (1976).
É ainda autor de peças de teatro (Terra Firme e Mar, 1941; O Paraíso, 1949; e Sinfonia, poema dramático, 1947) de volumes de impressões de viagens (Portugal, 1950; Traço de União, 1955) e de um Diário em dezasseis volumes, publicado entre 1941 e 1994. Notável pela sua técnica narrativa no conto, pela expressividade da sua linguagem, frequentemente de cunho popular, mas de uma força clássica, fruto de um trabalho intenso da palavra, conseguiu conferir aos seus textos um ritmo vigoroso e original, a que associa uma imagística extremamente sugestiva e viva.
Várias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foram-lhe atribuídos, entre outros, o prémio Diário de Notícias (1969), o Prémio Internacional de Poesia (1977), o prémio Montaigne (1981), o prémio Camões (1989), logo na primeira edição, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e o Prémio da Crítica, consagrando a sua obra (1993).
Morre em Coimbra a 17 de Janeiro de 1995 pelas 11 horas. A sua campa rasa, na sua terra natal de S. Martinho de Anta, tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao poeta.


Ver mais em:




Orfeu Rebelde


Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade no meu sofrimento.


Outros, felizes, sejam rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.


Bicho institivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

in, Poesia Completa, 540





sábado, 16 de janeiro de 2010

Surtr - Surtr (2010)

Os Surtr são um duo francês, proveniente da cidade de Metz e apresentam-se ao mundo do Metal com este registo, uma demo auto-intitulada e que inclui 3 temas, sendo que dois deles são originais (e fazem parte de um conceito que a banda designa como "World Of Doom), e o terceiro é uma versão de "Electric Funeral", dos Black Sabbath.
Ao fim dos primeiros segundos, percebemos imediatamente em que território se movem e os nomes que nos assomam são os Saint Vitus, Pentagram, Reverend Bizarre e, os já mencionados, Black Sabbath. Linhas melódicas, clássicas, arrastadas qb que se entrecruzam com alguns momentos mais up-tempo, conferindo uma maior vitalidade a estes temas. "Part I", revela-se-nos como uma composição essencialmente instrumental, onde a voz de Jeff surge esporadicamente, dando maior ênfase ao seu trabalho de guitarra e de bateria de Régis. Por sua vez, "Part V" vai beber à escola sabathiana e ao estilo de Iommi, exclusivamente. Coincidência ou não, acaba por ser o tema que se destaca durante a audição.
Por fim, resta-nos a cover de "Electric Funeral", tocada pela enésima banda (de entre as músicas do quarteto de Birmingham, talvez seja das mais requisitadas), mas num registo competente e que demonstra, caso ainda houvesse algum tipo de dúvidas, a cartilha pela qual se orientam.
As demos são os cartões de apresentação para milhares de bandas, já o sabemos, onde mostram ao mundo as suas primeiras ideias e as suas influências e os Surtr não fugiram à regra. Agora, resta que continuem a desenvolver o trabalho que têm realizado desde o ano passado, quando fundaram a banda, e que nos surpreendam no próximo registo, porque existe uma boa margem de progressão pela frente. (13/20)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Rituals Of The Oak - Hour Of Judgement (2009)

Lá diz o adágio popular: "Até ao lavar dos cestos é vindima.", e aplica-se a este caso como uma luva. Esta boa surpresa chega-nos da Austrália e, para realçar ainda mais a situação, é o trabalho de estreia desta banda de Sydney.
O que temos aqui é Traditional Doom e todo o seu conteúdo encontra-se bem espelhado nas palavras de Michael Ballue, na sua review no site Hellridemusic.com: "The slow, mournful and altogether metallic riffing of the guitar, the restrained punctuation of the percussion, the rhythmic/riff bridge of the bass and over it all the emotive yet restrained vocals of Sabine Hamad bring the doom in a very purified form. All elements slot in perfectly with each other and as is often the case with quality this release is well served by what is not there as well as by what is."
Todo o conjunto apresenta uma sobriedade quase palpável, uma coesão extrema e uma simplicidade desarmante, a que se junta uma voz feminina que se enquadra na perfeição. Sim, a voz é de Sabine Hamad, que conta no seu curriculum a participação com os Kimaera e o seu projecto de Doom Metal Lycanthia. O seu timbre, bem seguro, adequa-se às malhas e ritmos, funcionando como mais um instrumento, dando mais força aos temas.
Os 5 temas que compõem "Hour Of Judgement" apresentam uma grande homogeneidade, em tons bem lentos, pesados q.b., mas que procuram sempre alguma dinâmica no seu interior, evitando, assim, um mais que provável entediamento durante a audição. Um bom exemplo é a faixa "Standing In The House Of Suffering", ou então "Childhood's End".
Os Rituals Of The Oak (belo nome, por sinal), com esta estreia, têm tudo para dar nas vistas e serem grandes, num ano recheado de grandes lançamentos no que ao Doom toca. Só o tempo o dirá, mas por aqui têm lugar cativo na playlist. (17/20)