domingo, 28 de março de 2010

High On Fire - Snakes For The Divine (2010)

Depois dos verdadeiros petardos que foram "Blessed Black Wings" e "Death Is This Communion", de 2005 e 2007, respectivamente, as expectativas em torno deste novo lançamento eram elevadas. De facto, o trio comandado por Matt Pike já conseguiu o seu espaço nesta encarnação e nos anais da história do rock, mas tememos que não venha a ser devido a este "Snakes For The Divine". A energia está lá, o poder da voz de Matt continua no estilo que sempre lhe conhecemos e a parte instrumental também não oferece a que se lhe faça grande reparo. O que realmente «tolhe» um pouco o registo é a produção que teve. Depois das experiências com Steve Albini e Jack Endino, pela ordem de lançamentos indicada, desta vez foi Greg Fidelman ("World Painted Blood", dos Slayer, por exemplo) o senhor da cadeira por detrás dos botões e o que se nota, principalmente, é a perda de um pouco de força do som da banda, ou seja, a guitarra não atinge o som demolidor que se lhe reconhece, a secção rítmica estonteante e endiabrada de outros tempos aqui está mais abafada e o registo vocal, igualmente, sofre com alguma falta de efeitos ou distorção. Um tema que foge um pouco a este padrão, talvez pelas suas características naturais, é "Ghost Neck".
Não é que este trabalho tenha sido sacrificado pela produção, pelo contrário; "Frost Hammer", "Blood Samurai" ou "How Dark We Pray" são faixas que, por si só, são válidas o suficiente e farão as delícias de quem assistir aos concertos da banda de S. Francisco, só que, no final, fica um ligeiro sabor a amargo e a questionarmo-nos se este não poderia ser o novo melhor álbum dos High On Fire. (13/20)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ab Reo Dicere (24-03-2010)

Void - Void (2010)



Trabalho de estreia para este colectivo italiano que se movimenta por entre o Drone, o Doom e o Sludge. São 3 longos temas, bem complexos, que nos transportam às tormentas internas de cada um, adicionando-lhes pequenos toques de calmaria para que deixe o ouvinte respirar um pouco melhor. Sim, é um trabalho intenso, claustrofóbico, por vezes até um pouco duro de digerir, mas as coisas interessantes também não têm essa vertente?
Apresentado em edições bem limitadas e com algum requinte, o que à primeira vista poderá fazer-nos já crescer água na boca. (12/20)



Shine, My Boregarden - Sunshine (2010)


Já não é a primeira vez que por aqui se escreve que a Rússia tem se tornado, nos últimos anos, num autêntico viveiro de bandas/projectos ligados a estas sonoridades mais extremas. E, pelo meio dessa oferta toda, claro está, a qualidade dificilmente se manterá num patamar elevado.
Estes Shine, My Boregarden vêm destoar dessa qualidade que tem vindo a terreiro. As linhas Funeral Doom, mescladas com Ambient e Gothic não resultam e a voz, ultra-gutural, também não soa muito bem conjugada com estes temas que sabem sempre ao mesmo, a comida aquecida servida fria. A produção, também, está num patamar bastante sofrível.
Ficamos à espera que o trabalho se desenvolva e hajam melhores resultados. (8/20)



Asteroid - Asteroid II (2010)


Após ouvir os primeiros sons deste registo, houve a necessidade de confirmar se não nos tínhamos enganado na banda e verificamos quem são os seus elementos, visto que os Asteroid apresentam inúmeras semelhanças com os conterrâneos Witchcraft, ou seja, praticam um Stoner totalmente retro, que bebe da fonte inesgotável que são os Black Sabbath, com uns pózinhos de Hard-Rock e psicadélia.
Poderíamos, desta forma, dizer que estamos perante um clone dos Witchcraft. Mas não. Os Asteroid têm bons temas (tal como os Witchcraft), boas melodias apesar do peso aqui ser bastante contido ou quase inexistente (tal como os Witchcraft) e ideias próprias que vão desenvolvendo ao longo dos 9 temas deste "Asteroid II" (et voilá!!); bom exemplo disso mesmo são "Disappear" e "Lady".
E, para dizer a verdade, neste momento estes Asteroid são bem mais interessantes do que vocês sabem quem. (13/20)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dawnrider - Two (2009)

Após a estreia nos registos em nome próprio, com "Alpha Chapter" e que lhes valeu uma boa recepção por parte da crítica, os Dawnrider regressaram no ano passado com o sempre «difícil» segundo álbum. É certo que já tinham sido apresentadas as linhas com que se iria coser este projecto, mas é com este "Two" que realmente a fórmula se encontra aprimorada e afinada, mostrando uma banda em boa forma a explorar Doom Metal de cariz mais tradicional (Pentagram, Pagan Altar, Trouble e Black Sabbath podem bem ser algumas das bandas de referência de entre um leque bem vasto), mas que se socorre de uns pózinhos de Stoner e psicadélia como que a condimentar o que aos olhos se nos mostra agradável (ou seja, uma capa e artwork enigmática e inquiridora do conteúdo musical que a acompanha).
E, logo ao fim dos primeiros segundos de "Scared Of Light", ficamos com a certeza que vamos ter groove, que vamos ter guitarras bem à frente, que vamos ter música de peso e tudo isso se vai confirmando ao longo dos 8 temas deste registo, com especial atenção para "Irinia", um tema soberbo, destacando-se de entre os demais pelos mais variados motivos: única música do álbum cantada em português, um riff inicial de guitarra muito bem sacado e que se torna a base estrutural desta composição, assumindo contornos de épico e a voz de F. Dias que se encaixa perfeitamente. Aqui, condensam-se na perfeição os vectores que guiam o Doom tradicional.
A vitalidade e versatilidade das composições continua bem patente, bastando ouvir "Redemption", com uma cadência mais mid-tempo, com mais uma excelente malha de guitarra, a puxar para um enérgico headbanging ou então "Maelstrom", o instrumental que encerra "Two".
Desta forma, e na esteira do que por aqui tem sido escrito relativamente a projectos nacionais, podemos indicar que estamos perante mais um relevante trabalho de Doom Metal, num ano que mostrou outros bons trabalhos, e que nos fazem reforçar a ideia que temos muitas e boas bandas que merecem a devida atenção e exposição nacional e internacional. E é claro que os Dawnrider, com este "Two", se encontram nesse grupo. (15/20)

terça-feira, 16 de março de 2010

Serenades - The Light Inside (2010)

Os Serenades regressaram às lides discográficas no ano passado com "Father", um álbum devedor das suas influências góticas, mas que passou um pouco ao lado da crítica e do que deles se esperava, após 9 anos de interregno.
Mas, quem ouviu o lançamento de 2009 certamente ficará um pouco surpreendido com esta novidade. Para que se tenha uma ideia, parece que se juntaram na mesma sala de ensaios os Katatonia, os Ulver e Trent Reznor na sua vertente mais melancólica e o resultado final está nestes 8 temas que roçam o Atmospheric Doom de ambiências góticas. Aqui, as guitarras ocupam um segundo plano, atingindo uma dimensão quase acessória, dando primazia a ritmos bem lentos, mecânicos, frios e às teclas, enquanto que a voz de Valerio Capsoni paira, triste e amargurada, sobre esta massa sonora característica de uma fria e cinzenta tarde de Outono.

"The Light Inside" é extremamente melancólico, envolto em cenários bem soturnos que nos embalam numa descida ao interior da dilaceração, da tristeza e da comiseração, resultando num misto de beleza e desconforto que nos impele para, mais uma vez, mergulharmos neste álbum apesar da clara consciência dos negros sentimentos por que seremos invadidos ao longo de temas como "Eponine" ou do tema-título.
Apesar de bastante diferente do que têm vindo a apresentar, onde mesmo o EP "Joy Of Decay", lançado já este ano, não augurava tamanha inflexão, pode-se dizer que os Serenades ganharam a aposta e resta-nos aguardar por mais momentos destes.
Nota final: este álbum e o EP "Joy Of Decay" encontram-se disponíveis para download no myspace da banda. (13/20)


domingo, 14 de março de 2010

Ab Reo Dicere - nova rúbrica

A Ab Reo Dicere é uma nova rúbrica que surge, a partir de agora, no Temple Of Doom Metal. Aqui, serão efectuados pequenos comentários sobre lançamentos que vão chegando ao mercado, ou seja, constará de pequenas reviews, com um carácter de teor mais informativo, digamos, de modo a poder dar uma maior resposta à larga quantidade de trabalhos que já é possível encontrar.
Terá uma periodicidade regular, semanal ou quinzenal, e incluirá sempre um conjunto de 3 ou mais notas sobre trabalhos que versarão sobre as temáticas abordadas pelo Temple Of Doom Metal.

Para a estreia, teremos e estreia dos Infinite Grievance, o EP dos turcos Depressive Mode e o novo álbum dos finlandeses Lyijykomppania, "Sota Nälkä Rutto Kuolema".


Infinite Grievance - Demo (2010)


Os Inifinite Grievance são um colectivo que nos chega de Alberta, no Canadá e este é o seu registo de estreia. Quatro temas que perfazem 56 minutos de música, sendo que Transfigure é uma cover dos Jesu.
Ao ouvir esta demo, nota-se ainda grande heterogeneidade nas composições, onde não se detecta uma linha condutora identitária e modeladora do som destes canadianos. São quatro temas muito diferentes entre si, que vão desde o Doom/Death, passando pelo Drone/Ambient até ao Post-rock.
Algumas ideias apresentam algum interesse, mas precisam de mais trabalho e maturação, de modo a evitar futuros dissabores. (8/20)



Depressive Mode - Despair Is Darkness (2010)


Da Turquia, chegam-nos as ambiências góticas dos Depressive Mode que coabitam com harmoniosamente com linhas Doom e Ambient. Este EP, composto por seis temas, essencialmente instrumentais, aposta forte no uso dos teclados, relegando o trabalho das guitarras para um plano secundário, dando às músicas um tom bastante melancólico e soturno.
Apesar de existir uma linha mestra claramente definida neste trabalho, faltam os temas capazes de nos agarrar e dar a volta à cabeça, que nos levaria a mergulhar neste desespero algo contido vezes sem fim. (10/20)



Lyijykomppania - Sota Nälkä Rutto Kuolema (2010)


Esta banda finlandesa teve um trajecto bastante atribulado, com diversas incarnações e muitas mudanças de line up, mas está às portas de celebrar 30 anos de existência.
Três anos após o EP "Mannyt Maailma", eis que é lançado o seu quinto longa-duração; e o que é que se pode dizer sobre ele? Estamos perante mais conjunto de malhas na esteira do Heavy/Doom Metal mais clássico que desde sempre nos habituaram, cantado na sua língua materna, aplicando as mesmas fórmulas de que se socorrem desde os primeiros registos e que nos faz torcer um bocado o nariz na hora de ter de carregar no repeat. De facto, a entrada de novos elementos na banda nada acrescentou à sonoridade praticada, temendo-se que os Lyijykomppania tenham chegado a um beco sem saída. (9/20)

sábado, 6 de março de 2010

Las Cruces - Dusk (2010)

Regresso às lides musicais do quarteto texano, com este "Dusk", após praticamente uma década de ausência (o último registo foi o EP "Lowest End", lançado em 2001).
Fustigado com frequentes mudanças de line-up ao longo do período da «primeira vida», este também não é excepção, contando unicamente com George Trevino como elemento constante desde a formação original.
Pois bem, este terceiro álbum é, musicalmente, uma continuação do que até aqui já podíamos conhecer da banda, ou seja, Doom Metal de linhas mais clássicas, com boas malhas e peso qb; no entanto, as linhas vocais de Trevino é que continuam a custar a encaixar às primeiras audições, devido ao timbre que adquire ao tentar atingir voos um pouco mais altos. Assim, bem vistas as coisas, poderíamos dizer que esta paragem em nada ajudou ou modificou o som dos Las Cruces! Talvez não seja bem assim. Os temas surgem carregados com uma boa dose de groove e as linhas mais próximas do Heavy Metal também surgem a espaços com mais veemência. Nota de registo vai, igualmente, para o trabalho de Jimmy Bell no baixo, com as suas malhas bem presentes e que reforçam o poder dos temas neste "Dusk".
Nove anos depois do registo que mostrava uma banda sem soluções, ensimesmada e sem grandes temas de referência, mostra um regresso com ideias frescas, com alguns inputs que fizeram os temas ganhar outra dimensão, parecendo augurar-se um futuro risonho para estes senhores, mas a prova disso mesmo terá de se reflectir nos próximos lançamentos. Por ora, continuaremos, um pouco, de pé atrás. (11/20)

terça-feira, 2 de março de 2010

Helevorn - Forthcoming Displeasures (2010)

Cinco anos após "Fragments", eis que os espanhóis Helevorn lançam o seu segundo longa-duração, desta feita através do selo BadMoonMan e a produção esteve a cargo de Jens Bogren e Johan Örborg (ligados ao último trabalho dos Paradise Lost, por exemplo).
Olhando e ouvindo este registo, as diferenças são bem notórias relativamente ao seu predecessor; começando pela capa, na qual o ar mais devedor ao gótico foi substituído .pelo jogo luz/sombra que vai sendo regularmente utilizado em trabalhos mais virados para os projectos downtempo; musicalmente, as diferenças estão mais vincadas. Em "Fragments", encontrávamo-nos perante um trabalho na linha do Gothic Metal com alguns inputs mais doomescos. A produção era mais sofrível, não deixando os temas respirar e mostrar o seu potencial. Por seu lado, "Forthcoming Displeasures" abraça com mais vontade as linhas do Doom e do Death Metal, com aproximações aos horizontes de uns Swallow The Sun, Novembers Doom - fase "The Knowing" -, Draconian e Katatonia pré-98, e as linhas de teor gótico encontram-se mais diluídas (talvez "Two Voices Sorrounding" seja o caso mais próximo do passado). A par disto tudo, existe um significativo crescimento na qualidade da composição dos temas, na sua execução e estruturação, o que poderá ser uma mais-valia para exposição alargada ao mercado do metal.
Apesar de estarmos, assim, perante um trabalho de Doom/Death, na sua essência, onde não existem grandes inovações ou tentativas de virtuosismo, mas onde é possível ouvir boas malhas de guitarra - bem puxadas à frente -, com uma secção rítmica segura e um assinalável registo vocal de Josep Brunet, fazendo lembrar Paul Kuhr, nas vertentes limpas e guturais.
Os 54 minutos de duração do álbum, no seu conjunto, garantem bons momentos para os aficionados, sem grandes momentos de cansaço ou repetição das estruturas utilizadas.
Quando a procissão ainda vai no adro e apesar de já estarem no mercado umas dezenas de lançamentos desta estirpe, poderemos afirmar que este regresso dos Helevorn é factor de destaque, que deve ser escutado com atenção, porque na nossa opinião estamos perante um bom registo dentro deste segmento. (16/20)