segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

In Peccatvm - MDLXIII (2009)

Os açorianos In Peccatvm continuam a ser um dos bastiões do metal nacional insular e um modelo de perseverança, crença e paixão pelo metal, que nos deverá fazer pensar muitas vezes que, se calhar, cuspimos no prato em que comemos. E porquê? Perseverança, crença e paixão, como foi escrito; termos e, sobretudo, sentimentos que muitos "velhos do Restelo" parecem ter esquecido perante as "facilidades" que ora se vão vendo por estes lados do continente. A esta banda, poderíamos juntar os A Dream Of Poe, Morbid Death e Requiem Laus, que não deslustrarão em nada o exposto. Ponto.
O último registo, se não contarmos com a reedição da demo de 2000 "Just Like Tears..." em 2008, data já de 2002 e foi o EP "Antília", baseado no conceito das lendas das Sete Cidades. No entanto, a longa espera valeu bem a pena, porque os sete temas que compõem este novo EP, também ele conceptual - desta feita sobre a erupção do Fogo que, em 1563, destruiu a parte central da ilha de S. Miguel -, revelam uma significativa maturação nas composições e na estrutura que deram a este trabalho. Desde o tema de abertura, "All I Am Is Fear (Prelude)", em que os sons do interior da terra, os sinos - um misto de dor e protecção/aviso -, passando pelos gritos dos micaelenses, até aos últimos sons de "So Shall Ye Wither (Outro)" que  existe um excelente encadeamento neste acontecimento musicalizado e sentimos-nos, ao mesmo tempo, envolvidos pelas músicas e os excertos do texto que relata  a tragédia, da autoria de Gaspar Frutuoso, "Saudades da Terra", do século XVI, que surgem nos temas centrais do registo, sob bases mais acústicas e atmosféricas, evidenciam que os In Peccatvm se encontram num grande momento e que MDLXIII é, até à data, o seu melhor registo em todas as suas valências, sempre dentro do espectro do Gothic/Doom Metal. Acabamos por ter , assim, reflectido um belo espelho desta tragédia sem que se abram os olhos. E quando as coisas são assim, só queremos saber qual será o próximo capítulo. (16/20)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Okera - The Black Rain (2010)

Demo de estreia deste quarteto australiano, que pratica um Death/Doom Metal agradável, mas que faz logo lembrar uns Swallow The Sun (na fase "The Morning Never Came", essencialmente), Novembers Doom e Daylight Dies, mas principalmente os primeiros; por vezes, ao longo destes 3 temas, existe uma colagem demasiado evidente à banda finlandesa, o que até se desculpa visto ser o primeiro registo da banda, que poderá ofuscar a modelagem do seu som e personalidade.
No entanto, deparamo-nos com um conjunto de músicas bem estruturadas e pesadas qb, que incluem alguns momentos mais calmos que contrastam com as descargas de energia (veja-se "Futility" e "Jewels In The Sky"); esta dualidade confere aos temas algum dinamismo e acrescenta qualidade aos temas.
Apesar de não nos encontrarmos perante um registo cheio de inovações e originalidade, os Okera apresentam-se ao mundo de uma forma descomprometida, mas segura, sólida nas linhas em que se querem coser, mas que convém alinhavar melhor a discrição das influências, porque desta forma correm o risco de soarem a uma cópia e chegarem a um beco sem saída.
Última nota: esta Demo, encontra-se disponível para download no myspace da banda. (12/20)


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Persistence In Mourning - The Undead Shall Rise (2009)

Uma das características por que ficará conhecida a década que acaba de findar, no espectro do Metal, é a proliferação de projectos no regime de one man band. A isso, teremos de juntar que as novas tecnologias e a massificação das ferramentas de gravação e edição desses mesmos projectos em muito contribuiram para tal fenómeno.
E é sobre mais um desses solo projects que se discorrerá nas seguintes linhas
Os Persistence In Mourning chegam-nos de Oklahoma City e têm no seu mentor, A. Lippoldt, a sua face, aplicando aqui uma abordagem ao Funeral Doom, de forma genérica.
Apesar de já terem no seu curriculum meia dúzia de lançamentos, apenas no início do ano passado é que foi lançado este "The Undead Shall Rise", que transporta um cariz conceptual em torno dos zombies.
A par de guitarras bem abrasivas e agrestes, neste álbum temos ritmos bem lentos, funéreos e uma voz bem gutural, também. No entanto, fugindo, de certa forma, à cartilha mais ortodoxa  por que se pauta este sub-género, encontramos alguns momentos e elementos que conferem uma valorização aos temas, nomeadamente a presença de um piano em "... And The Killing Began In Earnest" ou as teclas em "The Cabin" que conferem ao tema um ar mais taciturno e spooky, para além de um ou outro apontamento mais na esteira do Black Metal.
Apesar de, na generalidade, estarmos perante um trabalho válido, existe ainda alguma heterogeneidade no resultado final dos temas e a sua ordem de distribuição ao longo do disco; referimo-nos, mais concretamente, à sequência "Interlude I (She's Ashen)"/"The Earth, The Terrible Dark Silence"/"The New Begining (Ominous)", que cria um corte longo na sequência do álbum.
Contudo, os Persistence In Mourning ainda têm uma boa margem de progressão, a ver pela amostra, num sub-género que é bem conhecido pelas suas limitações.(12/20)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Doom 10+ - Janeiro 2010

Na continuidade da rubrica iniciada em Dezembro de 2009, onde algumas personalidades do mundo do metal nacional emitem as suas escolhas sobre os trabalhos de Doom Metal que mais os marcaram ao longo do seu trajecto musical e não só, retomamos, com um ligeiro atraso é certo, essa recolha de escolhas.
Durante o mês de Janeiro, fomos bater à porta de Francisco Dias, vocalista e fundador dos doomsters Dawnrider, que no ano passado lançaram o mui aclamado "Two". Para além da listagem onde distingue os seus 10+, presenteou o Temple Of Doom Metal com os dez trabalhos mais relevantes da última década, bem como os que contribuíram para a criação do Doom Metal. É o que podemos chamar 3 em 1 e melhor início de ano para o Doom10+ seria muito difícil vaticinar.


  1. TROUBLE "Psalm 9" (1984)

2. CANDLEMASS "Epicus Doomicus Metallicus" (1986)
3. IRON MAN "The Passage" (1994)

4. THE OBSESSED "Incarnate" (comp. - 1999)
5. SAINT VITUS "Die Healing" (1995)
6. ELECTRIC WIZARD "Come My Fanatics..." (1997)
7. WITCHFINDER GENERAL "Death Penalty" (1982)
8. DEATH SS "The Story 1977-84" (comp. - 1987)
9. PAGAN ALTAR "Pagan Altar" (demo - 1982 - reeditada duas vezes)
10. ASYLUM "The Earth Is The Insane Asylum Of The Universe" (demo - 1985)


DOOM10+ New Millenium

1. SPIRIT CARAVAN "The Last Embrace" (comp. - 2003)

2. REVEREND BIZARRE "In The Rectory" (2002)
3. CATHEDRAL "The Garden Of Unearthly Delights" (2005)
4. EARTHRIDE "Vampire Circus" (2005)
5. PLACE OF SKULLS "Nailed" (2002)
6. GRAND MAGUS "Monument" (2003)
7. SPIRITUS MORTIS "Spiritus Mortis" (2004)
8. IRON MAN "I Have Returned" (2009)
9. FORSAKEN "After The Fall" (2009)
10. PENTAGRAM "Sub Basement" (2001)


DOOM 10+ Proto-Doom

1. BLACK SABBATH "Master Of Reality" (1971)

2. PENTAGRAM "First Daze Here" (comp. - 2002)
3. BLUE CHEER "Outsideinside" (1968)

4. RANDY HOLDEN "Population II" (1969)
5. JERUSALEM "Jerusalem" (1972)
6. JOSEFUS "Dead Man" (1970)
7. BANG "Bang" (1971)
8. CZAR "Czar" (1970)
9. HIGH TIDE "Sea Shanties" (1969)
10. TIGER B. SMITH "Tiger Rock" (1972)

Como devem calcular, muita coisa boa ficou de fora especialmente nos 2 primeiros tops. Pelos primeiros lugares dos tops, podem reparar que alguns dos discos da minha vida passam por Black Sabbath, Pentagram e pelo Doom Metal mais tradicional produzido nas decadas de 80 e 90 em Maryland/DC. No entanto, há uma tendencia mais europeia no top do novo milénio e especialmente no top do proto-Doom. Agora vão à procura dos discos, relaxem, ouçam e sejam surpreendidos!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

The Wounded Kings - The Shadow Over Atlantis (2010)

Por vezes, discorrer em algumas linhas o que nos vai na alma sobre um determinado trabalho tem muito que se lhe diga devido ao facto de podermos estar perante uma grande surpresa, ser mais do mesmo sem momentos que nos cativem, sem mostras de originalidade ou de reinvenção/mistura das fórmulas de trabalho ou, por último, depararmo-nos perante algo que nos desilude ou que não gostamos. 
E este segundo álbum dos ingleses The Wounded Kings pode ser um bocadinho disso tudo para as diversas pessoas que se depararem com "The Shadow Over Atlantis", ou seja, para quem não conhece, certamente, não ficará desiludido, porque aqui pode verificar mais uma extensão do legado sabbathiano, com algumas nuances funeral doom e psicadélia (?), e terá mais um filão para explorar; para a maioria que já contactou com "Embrace Of The Narrow House", não existirão grandes surpresas, vão gostar e achar que é a primeira "bomba" de 2010 e apontarão aqui e ali elementos de destaque. Finalmente, também teremos os que irão dizer raios e coriscos, encontrando em todos os minutos deste registo motivos para apontar o dedo e lançar o vitupério.
Pois bem, este duo de Dartmoor parece que não deve ter ligado muito a uma possível reflexão deste género e o facto é que nos arremessam com mais 40 minutos de doom poderoso e cru, sem grandes contemplações, dividido por 6 temas (de entre os quais 2 pequenos instrumentais) que reforçam as linhas denunciadas no registo de estreia, de 2008, e dotam as suas músicas de uma carga ambiental cativante, conferindo-lhes uma dimensão extra que em muito abona o álbum. Os melhores exemplos para isso serão, talvez, os dois primeiros temas, "The Swirling Mist" e "Baptism Of Atlantis".
Neste novo ano/década que inicia, muita coisa se vai augurando, no que ao metal diz respeito, após um decénio extremamente variado e rico em produções musicais, mas o facto é que este "The Shadow Over Atlantis" acaba por ser a primeira grande referência no espectro do doom metal deste ano. (15/20)