sábado, 28 de maio de 2011

MurkRat - Drudging The Mire (2011)

"Listen to me!" são as primeiras palavras que ecoam em "I, Rodent", após a intro desconcertante e iniciática que é "Processional: Drudging The Mire". E, de facto, a partir deste momento impossível não estarmos atentos à voz de Mandy VKS Cattleprod (criadora do artwork para bandas como os Mournful Congregation, Stone Wings ou Lycanthia), que baloiça entre o doce canto fúnebre e o grito demoníaco, inserido num conjunto de temas extremamente bem sacados, homogéneos, enquadráveis num funeral doom que ao mesmo tempo nos soa bem negro e angélico ao qual se adicionam ocasionais espasmos avantgarde, tudo bem assente nas omnipresentes teclas que constituem a base deste trabalho. As guitarras ocupam um lugar secundário, quase de mero apoio nas principais linhas que constituem os oito temas deste segundo longa-duração do projecto desta australiana. Tudo isto é suportado no trabalho de Neil Dyer, no seu drumkit, que reforça a toada de miserabilidade que se ouve ao longo destes 72 minutos.
A primeira metade do álbum reserva os melhores temas, evidenciando a evolução que o projecto sofreu desde a estreia homónima, em 2008, explorando um pouco melhor as atmosferas que este género de música pode proporcionar - caso de "World", um tema nitidamente ambient -, ou então o já referido "I, Rodent" ou "Faceless", que pela sua hipnótica e doentia força nos vão ficando a martelar na cabeça. Os últimos três temas, não contando com "Berceuse - Slow Immersion" que mais não é do que um epílogo desta tormenta, apresentam-se bastante longos, em média rondando os doze minutos, e constituem o seguimento dos temas citados, onde a qualidade não baixa de forma assinalável, existe coesão e sem fillers, acabando por "Drudging The Mire" ser um todo sem partes indissociáveis e define com maior nitidez, confirma e cristaliza o som MurkRat, projecto este saído da tortuosa mente de Mandy, que assume a voz, guitarras, baixo e teclas neste trabalho acima da média, e que nos chega pela mão da britânica Aesthetic Death.
Num ano em que ainda são muito poucos os trabalhos que nos deixaram ficar realmente colados à cadeira, onde tem imperado a mediania, estamos em crer que da Austrália chegou uma das melhores propostas neste segmento musical e, esperamos, seja o mote para uma segunda metade de 2011 de maior qualidade. Listen to her! (17.2/20)

English:
"Listen to me!" are the first words that echo in "I, Rodent", after the disconcerting and annoying intro that is "Processional: Drudging The Mire". And, in fact, from this moment it is not possible not to be attentive to Mandy VKS Cattleprod’s voice (who created the artwork for bands like Mournful Congregation, Stone Wings or Lycanthia), that bounces between the sweet funeral chant and the devilish scream, inserted in a set of extremely quite withdrawn songs, homogeneous, fitting in a funeral doom sound that at the same time strikes us quite black and angelically to which occasional spasms are added of avant-garde music, completely well suit the omnipresent keys that constitute the basis of this work. The guitars occupy a secondary place, almost of mere support in the principal lines of the eight black gifts that constitute this long-duration from the project of this Australian. All of this is supported in the work of Neil Dyer, in his drumkit, which reinforces the melody of misery that is heard along these 72 minutes.
The first half of the album reserves the best songs, showing up the evolution the project suffered from the homonymic first record, in 2008, exploring much better the atmospheres that this type of music can provide - case of "World", clearly ambient-, or then the already above-mentioned one "I, Rodent" or "Faceless", with its hypnotic and unhealthy necessity in going on and on around our head. The last three moments, not counting "Berceuse - Slow Immersion", an epilogue of this quite long storm, on average patrolling twelve minutes, and they constitute the continuation of the quoted songs, where the quality does not go down, there is cohesion without fillers, making this " Drudging The Mire " an all without parts left behind and defines with bigger clarity, it confirms and crystallizes the MurkRat sound, this project gone out from Mandy's winding mind, which assumes the voice, guitars, bass and keys in this work above the average, and that in the reprimand for the hand of the Briton Aesthetic Death.
In a year which there are still very little records that let us be really glued to the chair, where the median quality has been ruling, we are in believing what of the Australia brought near one of the best proposals in this musical segment and, wait, be the motto for a second half of 2011 of bigger quality. Listen you it her! (17.2/20)


domingo, 22 de maio de 2011

Gallow God - False Mystical Prose EP (2010)

Por vezes, somos "sacudidos" quando menos esperamos. Não são poucas as vezes em que as nossas expectativas relativamente a um ou outro trabalho saem defraudadas, mas há casos em que acabamos por ser surpreendidos quando menos esperamos. Afinal, a música até acaba por ser um pouco isso mesmo, ou então seria demasiado previsível e enfadonha.
Com base neste intróito, já todos devem ter percebido que estes ingleses (pois, acreditamos que é algo que lhes deve correr no sangue!) constituem mais uma boa proposta nas toadas mais tradicionais do doom metal. De facto, esta estreia não poderia ser mais auspiciosa; quatro temas que respiram o legado de Tony Iommi por todos os poros e vão buscar mais algumas influências aos Reverend Bizarre, Spiritus Mortis ou até mesmo a uns Cathedral, ali por alturas do "Ethereal Mirror". São quatro temas negros, poderosos, monolíticos, que pela sua coesão e elevada qualidade de composição, nos parecem mostrar um colectivo muito bem entrosado e com ideias muito bem definidas quanto ao caminho que querem seguir com este projecto e o som que querem para os seus temas: cheio, grave, pesado, sem perder a sua definição ou qualidade.
O registo inicia-se num registo que não nos deixa indiferentes; "The Sin and Doom of Godless Men" principia com um riff muito bem sacado, que nos guia até Dan Tibbals, num timbre que nos relembra Albert Witchfinder, mas com um ligeiro travo a stoner, mais árido e duro.
"The Emissary" continua numa toada bem dolorosa, mas aqui é possível ouvir alguns solos, bem conseguidos e que encaixam na sonoridade da banda, não pretendendo um notório realce, mas antes deixam-se diluir na torrente sonora. Quanto a "Summon the Rune Wizard", acaba por ser um pouco mais na linha de "The Sin...", reforçando a ideia que os Gallow God sabem escrever boas canções e que o fazem como se já andassem por estas andanças há vários anos.
Para terminar, uma dúzia de minutos que resumem tudo o que anteriormente se ouviu; "Ship of Nails" - com a devida intro marítima -, será, porventura, o melhor deste EP. É o resumo e a indicação de algo mais; a busca de novos espaços e as vocalizações típicas do death metal fazem aqui a sua aparição, dando uma maior amplitude a um tema colossal.
As estreias, por vezes, têm o condão de nos surpreender e no caso deste "False Mystical Prose" não poderíamos ficar melhor impressionados. Resta-nos aguardar pelas novas discorrências sonoras, para breve, assim o desejamos. (14.8/20)

English:

Sometimes we are "shaken" when we least expect. There are few times when our expectations for either work out disappointed, but there are cases where we shall be surprised when you least expect it. After all, the music turns out to be a bit of that, or else it would be too predictable and boring.
On basis of this introduction, you all must have realized that these Englishmen (yes, we believe that it is something that must run on their blood!) appoint to be one more good proposal in the most traditional melodies of doom metal. In fact, this first release might not be more auspicious; four songs that breathe the legacy of Tony Iommi through all the pores and go more for some influences like Reverend Bizarre, Spiritus Mortis or even Cathedral, round about heights of the "Ethereal Mirror" album. It is four black, mighty, monolithic themes, which for their cohesion and elevated quality of composition, seems to us to show a very well integrated collective one and with ideas very well defined as for the way that want to follow with this project and the sound they want for their work: full, powerful, heavy, without losing his definition or quality.
This EP begins in a register that does not leave us indifferent; "The Sin and Doom of Godless Men" begins with a very well withdrawn riff, that guides up to Dan Tibbals, in an insignia that recalls us Albert Witchfinder, but with a light bitterness to stoner, more arid and hard.
"The Emissary" continues in a quite painful melody, but here it is possible to hear some solos, quite nice ones that fit in the sonority of the band, not claiming a well-known emphasis, but before they are let dilute in the resonant torrent. As for "Summon the Rune Wizard", it is again a little more in the line of "The Sin ...", reinforcing the idea that Gallow God can write good songs and they do it in a way like they were already walking for these wanderings for several years.
To end, a dozen of minutes that summarize everything that previously was heard; "Ship of Nails" - with the owed sound of the sea intro-, will be, by chance, the best of this EP. It is the summary and the indication of something more; the search of new spaces and the typical vocalizations of the death metal do here their apparition, giving a bigger amplitude to a colossal release.
The first nights, for times, have the privilege to surprise us and in case of this "False Mystical Prose" we might not be better impressed. We still have to wait for new tunes, soon, so we want it. (14.8/20)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Megaphone - Entrevista aos LÖBO

O Megaphone passa de mão, dando continuidade à rubrica iniciada no mês passado com os Insaniae. Desta feita, a voz é a dos LÖBO, projecto da zona de Setúbal, que tem vindo a dar cartas por esse país fora com o seu som, no mínimo peculiar, capaz de agradar a uma variada paleta de apreciadores de música, embora as bases musicais do quarteto andem pelas toadas mais arrastadas. Foi um pouco sobre estes e outros assuntos que estivemos à conversa com Ricardo Remédio e Pedro Barceló.



No panorama nacional, os LÖBO apresentam um som bastante peculiar, um bocado fora dos trâmites normais dentro do espectro Doom ou das correntes mais arrastadas. O que gostaria de vos perguntar é o seguinte: como é que definem o vosso som?
Ricardo Remédio: A questão é… eu até acho que muitas vezes o termo que é utilizado nesta onda, a que chamam o “Pós-Doom”, acho que connosco até nem faz assim tanto sentido, simplesmente vejo este rótulo de outra maneira; é pegar no que é arrastado, no que é lento e no que é pesado e tentar encher com o máximo de coisas possível. No nosso caso, muita música ambiental, alguma electrónica e tentar fazer algo coeso; algo que a gente goste quando chega no final do dia. Acho que a designação “Pós-Doom” pode ser um termo que até nos fica bem, mas, simplesmente, em comparação com outras bandas do género, vamos buscar influências diferentes. Mas o princípio é o de pegar no Doom, ou no lento e puxá-lo para outros lados, seja com que influências forem. Acho que parte por aí, estamos confortáveis com os rótulos que nos dão, apesar que a nossa música vai para além disso.

As questões dos rótulos são sempre complicadas, por vezes as bandas também não gostam muito de serem rotuladas ou catalogadas. No entanto, uma coisa que se nota é que muitas das actuais sonoridades estão relacionadas com esse mesmo fenómeno do “Pós-“, o que não acabará por ser um guarda-chuva demasiado abrangente para tantos projectos que vão aparecendo a público?
Pedro Barceló: Acho que não. Eu e o Ricardo temos um passado dentro do Hardcore, viemos dessa cultura, tocamos em algumas bandas no final dos anos 90 e inícios da década de 00, e depois começamos a ter algumas influências de bandas fora desse estilo, bandas estrangeiras mas que tiveram o mesmo percurso, onde marcaram presença na cena Punk, Hardcore e mesmo Thrash e, neste momento, estão um pouco mais… acho que evoluíram para outro patamar; por exemplo, os Cult Of Luna ou os Isis, são bandas que têm um grande background alicerçado no Hardcore e, simplesmente, evoluíram a nível musical. O Hardcore é uma cultura jovem, e continua a ser uma cultura com muita força, mas a nível musical precisava de algo mais. Foi um pouco isso o que acabou por acontecer com os LÖBO, uma evolução que se nota mais agora. Por isso é que tocando num panorama com três bandas mais fortes, mais Doom, mais Metal [NR no contexto do Major Label Industries Fest], nos destacamos um pouco por causa disso, acho que é pela essência, um background um pouco diferente.

O som dos LÖBO foi algo pensado ou surgiu de forma natural? O facto de não incluírem vocalizações nos vossos temas também foi tido em linha de conta para a construção da vossa sonoridade
R. R.: A inclusão ou não de vozes nunca foi, propriamente, muito pensada. A génese da banda, que tem as suas raízes num projecto entre mim e o primeiro guitarrista, chamada Morte Por Acordes, que estava na linha do ambiental e foi evoluindo a partir daí. Aliás, começamos ainda sem baixista, era somente teclas, guitarra e bateria, naquela de ver o que é que saía; com o tempo, as músicas começaram a surgir, nenhum de nós era vocalista por natureza e seria difícil arranjarmos mais dois elementos para baixo e voz, para que pudéssemos fazer música. Achamos que deveríamos pegar no que tínhamos e continuar a desenvolver o nosso trabalho e a verdade é que, às vezes, essas limitações permitem-nos seguir caminhos diferentes, no sentido em que a música nunca foi pensada para ter voz, por isso segue ritmos e melodias completamente diferentes. Com isto, não queremos dizer que os LÖBO nunca irão ter voz, mas não é algo que nós consideremos quando pegamos numa guitarra, num baixo ou num teclado para fazer música.
P. B.: Nada está fora de questão. Neste momento, contamos com três guitarristas, o Ricardo também toca baixo, estamos com dois bateristas; somos muito versáteis a nível instrumental. Estamos dispostos a fazer de tudo, seja com voz, mais baixo, mais teclas, mais guitarras…
R. R.: Nós queremos colocar as próximas músicas, e se tudo correr bem para o nosso primeiro álbum, dentro de um género musical e com um ambiente definido; agora com que instrumentos o iremos fazer ainda não está definido. Vamos tentar não ter um lugar fixo em que, por exemplo, o baixista só toca baixo nas músicas todas, vamos tentar variar um pouco.

Isso faz lembrar, um pouco, os primeiros de actividade dos Queens Of The Stone Age, onde existia um núcleo duro criativo e era a imagem da banda, mas que se rodeava de uma série de colaborações que iam dando as suas ideias e inputs ao som do projecto. No vosso caso, com diferentes elementos a contribuírem para as partes de baixo, guitarra, bateria, etc.
R. R.: Sim, não fechamos a porta a esse tipo de colaborações externas. Aliás, gostaríamos de poder voltar a trabalhar com o nosso antigo baterista, que teve de sair por razões pessoais e indisponibilidade de tempo; termos duas baterias, alguns convidados. Vamos trabalhando assim dentro da banda e se houverem pessoas dispostas a dar o seu contributo, a porta está aberta.
P. B.: Já tivemos um convidado, o guitarrista e vocalista dos Men Eater, o Miguel, ele antigamente tocava o “Dânaca” nos concertos que fizemos juntos. A nossa primeira tour foi feita com eles e houve essa participação em todos os concertos nesse tema. Para além de convidado, é um amigo nosso e as coisas funcionaram mesmo muito bem, portanto, nada está fora de questão.


Da passagem da demo “Dânaca” para o EP “Alma”, que mudanças é que sentiram na composição dos temas?
R. R.: Basicamente, a diferença foi na maneira como nos colocamos para compor as músicas. O “Dânaca” foi composto na sala de ensaio e tem um sentimento maior de banda ao vivo, enquanto o EP foi acabou por ser uma experiência; começou comigo e com o Luís [NR Luís Pestana, primeiro guitarrista da banda], em que íamos efectuando algumas experiências em casa, brincando com sons até que começamos a perceber que poderia sair dali algo que encaixaria no som dos LÖBO. Impusemos algumas restrições, não no sentido negativo, mas com a finalidade de nos obrigar a procurar outras soluções e buscar coisas diferentes e, pronto, o resultado final foi algo mais frio, mais negro, mais mecânico, se calhar. A maneira como compusemos aquelas músicas acabou por ditar a forma como iriam soar e quando nos apercebemos disso, durante esse processo, dissemos ‘Vamos gravar as músicas como elas estão e ao vivo a história vai ser outra!’. Desta forma, acabamos por surpreender o público que pensa que vamos reproduzir os temas tal como foram gravados, o que acaba por permitir que tenham duas experiências diferentes: quem quiser ouvir o “Alma” mais lento, mais melancólico, mais negro ouve o EP e quem quiser sentir o lado mais visceral da banda vem ver os nossos concertos. Acho que, assim, conseguimos dar duas vidas às músicas.

Sendo o EP “Alma” um trabalho mais cerebral, nota-se uma maior abrangência sonora, talvez fruto desse mesmo conjunto de experiências que foram fazendo ao longo da composição… Não puxaram tanto as guitarras à frente, dando maior primazia à criação de atmosferas mais negras e melancólicas.
R. R.: A partir do momento que aceitamos e concordamos fazer o EP desta forma, ficou aberta uma hipótese de fazermos uma série de coisas diferentes, tanto a nível de instrumentos utilizados como ao nível da mistura. Sabíamos que iria ter um som em estúdio e que ao vivo seria diferente. Acabou por ser libertador aceitar fazer as coisas dessa maneira, porque permitiu-nos experimentar coisas, colocar influências diferentes e acabou por ajudar-nos pelo facto de mostrarmos o lado cru, visceral e pesado dos temas, mas há um registo, intencional, onde as melodias e ambientes se encontram preservadas e aparecem na mesma.

Como é que tem sido a reacção ao vosso som e aos vossos trabalhos de estúdio?
P. B.: Pelo que tenho ouvido, tem sido bastante boa. No ano passado, fizemos uma série de concertos entre Janeiro e Junho – parece muito mas praticamente foi uma tour pelo país em que tocávamos somente aos fins-de-semana – e penso que em todos os concertos tivemos um feedback mesmo muito bom, de várias pessoas com gostos bastante diferentes, do Pós-Rock ao Doom. As vendas de merchandise têm sido excelentes, temos chegado a pessoas dos EUA, de Espanha, de França e, no geral, achamos que tem sido muito positivo. Fomos tocar a Faro, somente os LÖBO em cartaz, e conseguimos colocar cerca de uma centena de pessoas na sala, bastante pequena e correu tudo mesmo muito bem, as pessoas adoraram. Tem sido, mesmo, muito positivo.

A banda tem disponibilizado ao público o seu trabalho de diferentes formas, desde métodos físicos mais convencionais e passando por outros com recurso à internet, com a possibilidade de efectuar o download dos temas, a demo “Dânaca” e o tema “Noite”. Como é que vêem essas duas formas de lançamento dos vossos registos?
R. R.: A nossa opinião é a que temos de aceitar a internet e usá-la a nosso favor, em nosso benefício. Resistir ao formato físico, hoje, não faz sentido, não podemos levar a mal as pessoas terem a nossa música, a descarregá-la, aliás, incentivamos que isso aconteça porque a disponibilizamos de forma gratuita; no fundo, achamos que o formato CD perdeu importância. Se não incluir algo diferente, informação adicional, seja o artwork ou outra coisa qualquer, mas o CD pelo CD já não tem tanto valor, mais vale disponibilizar gratuitamente. O “Alma” teve antes da saída em formato físico, uma versão digital pronta a ser descarregada. Isso só nos abriu portas, permitiu que imensas pessoas pudessem chegar ao nosso som, apesar das pessoas poderem pensar que dessa forma já não iriam vender o EP, mas no final quem gosta mesmo acaba por comprar. Por isso, a nossa abordagem é de abertura completa.

A banda sofreu algumas mudanças de line up recentemente. Que ideias e influências trouxeram os novos elementos e que mudanças poderão ter ocorrido no som dos LÖBO com estas novas entradas?
R. R.: É um pouco cedo para falarmos sobre isso, porque ainda não iniciamos o processo de composição conjuntamente. Estamos a reinterpretar as nossas músicas com este line up. Relativamente a influências, pelo que consigo depreender, penso que o som futuro talvez seja mais sujo, mais pesado, vamos tentar buscar coisas novas… Há o desejo de fazer algo diferente do EP, abrir mais os horizontes, alicerçados nos sons pesados e arrastados; agora, vamos ver como as coisas evoluem.

Como está o processo de composição e gravação do vosso primeiro álbum?
R. R.: Ainda está na fase inicial, porque com as mudanças de line up, a banda parou cerca de meio ano e não fazia muito sentido estar a compor muitas coisas e depois parar tudo e enquadrar nessas mesmas composições os novos elementos, bem como ensinar-lhes os temas antigos. Achamos por bem parar e realizar uma coisa de cada vez, com uma boa integração dos novos elementos.

Para terminar: planos para o futuro próximo dos LÖBO?
P. B.: Para além de ensaiar muito, tentar criar coisas novas para o nosso álbum. Talvez haja um lançamento ainda antes, mas vamos esperar para ver as novidades. Vamos tentar dar mais alguns concertos até ao Verão e, depois, até ao final do ano, talvez já com alguns temas novos.
R. R.: E, se tudo correr bem, gravar o álbum ainda em 2011, acho que seria ouro sobre azul. 

(Gostaríamos de agradecer à Joana Cardoso a facultação das fotos e ao Side B todas as facilidades concedidas para a entrevista).

Temple Of Doom Metal

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ab Reo Dicere (22.04.2011) - Clorange/Lengua Mortuoria/Dormant Inferno

Clorange - Clorange (EP) 2010

Trabalho de estreia desta banda que nos chega de Nashville, composto por quatro temas baseados no doom e no stoner metal, com vocalização feminina, aliás como já vem sendo hábito em colectivos que unem estes dois estilos musicais.
Sendo um debut, é normal que as influências estejam um pouco mais presentes e por aqui ressaltam logo os Electric Wizard, os Sleep e os Jex Thoth, para além do legado sabbathiano sempre audível nestas sonoridades.
Este EP inicia com um pequeno instrumental, "Haze", que indica as coordenadas para a meia hora seguinte: doom/stoner que já foi revisitado inúmeras vezes, com algumas linhas interessantes e algum experimentalismo à mistura, principalmente em "Lunar Schock Delirium", melhor tema deste registo. No entanto, nota-se que ainda há muito caminho para desbravar, no sentido de conseguirem algo mais consistente; assim o esperamos. (10.5/20)

English:
Working debut of this band that comes from Nashville, with four songs based on doom and stoner metal, with female vocalization, as has already been a habit in collectives that unite these two musical styles.
As a debut, it is normal that the influences are a little more present here and just point out the Electric Wizard, Sleep and Jex Thoth, in addition to the sabbathian legacy always audible in these kind of sounds.
This EP starts with a short instrumental, "Haze," which indicates the coordinates for the next half hour: doom/stoner that has been revisited numerous times, with some interesting lines and some experimentation to the mix, especially in "Lunar Schock Delirium", best song of this record. However, there is still a long way to clear in order to get something more consistent; hopefully. (10.5/20)


Lengua Mortuoria - Viaje Negro (EP) 2010

Não foram precisos muito segundos para perceber que a audição deste EP dos argentinos Lengua Mortuoria iria ser, de facto, uma viagem bem negra. O que temos aqui são três temas de drone/ambient que poderiam servir de banda sonora para um qualquer filme de terror de série B. Temos por aqui linhas de baixo cheias de distorção que comungam com grandes sequências atmosféricas a pender para o fantasmagórico, ou abordagens quase minimalistas, claustrofóbicas, onde algumas vozes deambulam num plano longínquo e são abafadas por elementos noise, acrescentando uma maior carga dramática a este trabalho.
A viagem termina com "Millones de Pequenos Horrores", um longo tema de 15 minutos que perscruta o mais profundo da nossa mente; tortuoso e tenebroso. 
"Viaje Negro" não é fácil de ouvir e digerir, mas aí poderá estar a mais-valia deste trabalho: a necessidade de contínuas audições, para que cresça e cause corrosão e mal-estar nos seus ouvintes. (11.0/20)

English:
We didn’t need many seconds to realize that hearing this EP of Argentines Lengua Mortuoria would be indeed a very dark journey. What we have here are three themes of drone/ambient that could serve as a soundtrack for any horror film in a B series. We hear bass lines filled with distortion that they share with great atmospheric sequences to tilt to the ghostly, or almost minimalist approaches, claustrophobic ones, where some wandering in a plane distant voices are stifled by noise elements, adding a greater amount of drama to this work .
The trip ends with "Millones de Pequenos Horrores," a 15-minute long song, that investigates the depth of our mind; devious and sinister.
"Viaje Negro" is not easy to hear and digest, but there may be the added value of this work: the need for continued hearings, to grow and cause corrosion and malaise in their listeners. (11.0/20)


Dormant Inferno - In Sanity (demo) 2011

Quem tomar contacto com este trabalho de estreia dos indianos Dormant Inferno, ficará, logo no início de "Failed Experiments", com a sensação que uma tempestade se afigura no horizonte e que arrebenta nas nossas colunas poucos segundos depois, levando-nos na forte corrente onde o doom/death reinam, a melancolia é omnipresente e os anos 90 estão, também, ali à espreita.
Estes três temas são feitos destes elementos, mas não só. Profundos growls que, a espaços, alternam com vocalizações mais rasgadas - como em "Ashes", por exemplo -, riffs pesadões, secção rítmica segura e dinamismo nos temas, não sendo raro que a meio dos temas as coisas se aproximem um pouco do mid-tempo, mostram um trabalho elaborado e com qualidade.
O trabalho vale pelo seu todo, não havendo nenhum tema que se destaque ou que contenha uma malha que continue a martelar-nos na cabeça após o fim da demo. Apesar disso, existe homogeneidade no seu conjunto, não soam desgarrados, o que lhes permite sonhar com voos mais altos, num género que tem estado um pouco dormente ultimamente. (11.7/20)

English:
Who have contact with this debut work of Indian Dormant Hell, will be right at the beginning of "Failed Experiments," with the feeling that a storm appears on the horizon and that is striking in our columns a few seconds later, taking us into the strong current where the doom / death reign, melancholy is pervasive and the 90 are also lurking there.
These three themes are made of these elements, but not only. Deep growls that, in space, alternating with more vocalizations torn - as in "Ashes," for example - lumbering riffs, rhythm section and drive safely on issues, it is not uncommon for half of the subjects to approach things a little mid -time, show an elaborate and quality.
The work draws on the whole, there was no single theme that stands out or contains a loop that continues to pound us in the head after the end of the demo. Nevertheless, there is homogeneity in the whole do not stray sound, allowing them to dream of flying higher in a genre that has been somewhat dormant lately. (11.7/20)