segunda-feira, 18 de abril de 2011

Alunah - Call Of Avernus (2010)

Os Alunah chegam-nos de Inglaterra, mais precisamente do eixo Birmingham-Coventry e lançaram o seu primeiro longa-duração através da Catacomb Records. Composto por nove temas, todas elas alicerçadas numa base stoner/doom metal, mas que incorpora no seu som, com alguma frequência, elementos ligados ao psicadelismo e injecta-lhes uma boa dose de groove.
Até aqui o percurso da banda de Sophie Willet, Dave, Gaz e Jake foi sem grandes sobressaltos, com uma exposição crescente através de lançamentos - uma demo, um EP e um split com os Queen Elephantine -, que lhes foram granjeando uma maior visibilidade, dando a conhecer as suas composições a um maior número de pessoas e suscitando o devido interesse.
"Call Of Avernus", o chamamento para o sub-mundo, para o Hades, mostra-nos não uma banda em queda para estas profundezas, mas algo já bem enraizado, coeso, com ideias definidas quanto ao som que quer atingir - afinal, as demos para que servem, para além de cartão de visita?. Começando com dois temas que se aproximam do mid-tempo, dando a impressão que os Alunah deixaram para trás as toadas bem lentas do EP "Fall To Earth", o álbum entra numa toada mais "familiar" a partir do tema "Song Of The Sun" - single óbvio, caso houvesse! -, onde se nota a exploração de novos caminhos musicais, deixando a voz de Sophie fluir, com mais ou menos efeitos, mas que marcam estes temas com o seu particular timbre, que de outra forma tornaria tudo um pouco mais banal - o que não quer dizer fraco ou mal executado, entenda-se! Há aqui espaço para quase tudo: momentos mais a rasgar, outros mais comedidos, algum experimentalismo que se cruza com riffs monolíticos que desembocam em solos bem encaixados - onde o wah-wah acaba por ficar tão bem... enfim, tão variado quanto possível, a léguas de ser monótono ou maçador.
Com "Call Of Avernus", o leque de escolhas alargou-se, dando mais espaço para a banda evoluir e dar maior dimensão aos seus temas. Quem acompanha o projecto desde "Crystal Voyage", reconhecerá o processo de amadurecimento deste quarteto e que estes 50 minutos mostram-nos um trabalho meritório, embora sem grandes novidades no espectro stoner/doom, que vale pelo seu todo e que cresce a cada audição. Não é um trabalho entretido, mas garante o seu tempo. (13.2/20)

English:
The Alunah reach us from England, specifically the Birmingham-Coventry axis and released their first full-length through Catacomb Records. Comprising nine tracks, all anchored on a stoner/doom metal, but incorporates into their sound, with some frequency, elements associated with psychedelia and injects them with a good dose of groove.
So far, the band`s route of Sophie Willet, Dave, Gaz and Jake has been no major surprises, with an increasing exposure through releases – a demo, an EP and a split with Queen Elephantine -, they have been garnering increased visibility making known their compositions to a greater number of people and arousing the interest due.
"Call Of Avernus", calling to the underworld, to Hades, shows us not a band to fall for these depths, but something already well established and cohesive, with definite ideas about the sound they want to achieve - after all, what are the demos, in addition to business cards?. Starting with two themes that are approaching the mid-tempo rhythm, giving the impression that Alunah left behind the very slow tunes from the EP "Fall To Earth", the album goes into a tune more familiar from the song "Song Of The Sun "- obvious single, if there was! -, which notes exploring new musical paths, leaving the voice of Sophie flow, with more or less effect, but that mark these issues with her particular timbre, which otherwise would make things a little more banal - not mean weak or poorly executed, I mean! There is room here for almost everything: more time to tear, others more restrained, some experimentalism that intersects with monolithic riffs that lead to solos firmly in place - where the wah-wah ends up as well ... at long last, as varied as possible, the leagues to be monotonous or boring.
With "Call Of Avernus," the range of choices has widened, giving more space for the band evolve and give more dimension to his songs. Anyone who follows the project from "Crystal Voyage," will recognize the process of maturation of this quartet and 50 minutes they show us a meritorious work, but no big news in the spectrum stoner / doom, that worth the whole  and it grows every hearing . Not a fun job, but ensures your time. (13.2/20)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Naisian - Mammalian (2011)

Quando "Fletcher-Munson" começou a brotar das colunas, instalou-se a dúvida se não estaríamos a ouvir algo dos Neurosis ou perante mais um projecto que segue, de forma mais ou menos fiel, as pisadas de Scott Kelly e Cª. De facto, os britânicos Naisian não só devem conhecer bem o trabalho daquela seminal banda como tem nos finados Isis, igualmente, uma das suas principais referências. Este tema de abertura e o seguinte, "Bellicist", bebem tanto dessas fontes que até parece que caíram lá dentro, qual Obélix no caldeirão da poção mágica!... Apesar de bastante competentes, acabam por ser os momentos menos cativantes deste trabalho. Somente ao terceiro tema é que o cenário muda de figura, o quarteto tira a máscara, ganha desenvoltura e mostra ao que vem: sludge com reminiscências ambientais e progressivas! Confuso, não parece? Pois bem, é com "Take Me To The Mountain Dew Mountain" que as coisas começam a ganhar piada, apesar dos nomes dos projectos já mencionados continuarem a pairar sobre as músicas. Um baixo de linhas que roçam quase o funk, aliado a guitarras ora limpas ora sujas e ásperas, como só no sludge sabem ser, numa estrutura musical não muito complexa, mas que habilmente trabalha a dicotomia placidez e raiva, mostram a qualidade destes músicos e dos seus temas. É precisamente nos temas mais longos que a banda ganha uma nova dimensão, espelhada no tema-título, um opus quasi-instrumental que em nada deve ao que já ouvimos por aí dezenas de vezes, que parece fugir quando começa a entranhar e regressa com um violino oscilante entre o épico e o dramático e aquelas guitarras hipnóticas, desaparecendo tal como surgiu, reaparecendo carregando aos ombros uma qualquer ambiência digna do post-metal.
Para o fim, a síntese desta experiência de quase 40 minutos: "I am Eustache Dauger". A mescla do sortido de sons, ambientes, sensações, que nos conduz para um final que nos faz carregar no play novamente.
Se a aposta tivesse sido efectuada apenas nos derradeiros três temas, diríamos que estávamos perante um caso muito sério. Assim, teremos que esperar para confirmar se esta veia criativa se prolonga e afirma os Naisian como mais um projecto a ter em (muita) linha de conta. (13.8/20)

English:
When "Fletcher-Munson" began to sprout up in columns, we settled the question whether we would be hearing something from Neurosis or more before a project that follows, more or less faithfully in the footsteps of Scott Kelly and Co. In fact, the British Naisian not only must be familiar with the work of that seminal band or the deceased Isis, also one of its key references. This opening theme and the next, "Bellicist" drink both of those sources which seem to have fallen inside, which Obelix in the cauldron of magic potion! ...Though competent enough, turn out to be less compelling moments of this work. Only the third theme is that the scenery changes from the figure, the quartet takes off the mask, and shows their work: sludge reminiscent environmental and progressive! Seems confused? Well, it is with "Take Me To The Mountain Dew Mountain" that things begin to take a joke, though the names of the projects already mentioned continue to hover over the songs.
With a bass guitar work  that almost touch funk, sometimes combined with clean guitars sometimes dirty and ragged, just like the sludge you know to be, in a musical structure is not very complex, but it cleverly works the dichotomy calmness and anger, show the quality of these musicians and of its themes.
It is precisely the themes that longer the band gains a new dimension, reflected in the title song, an instrumental opus that in no way due to what we've heard around a dozen times, that seems to escape when it begins to seep into and returns with a Violin oscillating between epic and dramatic and those hypnotic guitars, disappearing as it appeared they touch almost funk, sometimes combined with clean guitars sometimes dirty and ragged, just like the sludge you know to be in a musical structure is not very complex, but it cleverly works the dichotomy calmness and anger, show the quality of these musicians and reappeared carrying on his shoulders an ambience worthy of any post-metal.
To this end, the synthesis of this experience of almost 40 minutes, "I am Eustache Dauger. The mixture of the assortment of sounds, atmospheres, sensations, which leads to an ending that makes us click on play again.
If the bet had been made only in the final three songs, we would say that we were facing a very serious case. So we have to wait to see if this creative streak continues and affirms Naisian as another project to take (much) account. (13.8/20)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Megaphone - Entrevista aos INSANIAE

Nova rubrica. Megaphone. Assim mesmo, com o cheiro a escrita antiga, portuguesa, papel amarelecido com a passagem dos anos, mas que sabe tão bem folhear e descobrir.
Esta rubrica marca um ciclo de entrevistas a projectos portugueses inseridos nas correntes mais arrastadas do espectro metálico, iniciado com a banda lisboeta INSANIAE.
Eis a amistosa conversa que tivemos com a banda, após mais um concerto de promoção ao seu mais recente trabalho, "Imperfeições da Mão Humana", no Side B, em Benavente.


O vosso segundo álbum, “Imperfeições da Mão Humana”, saiu há quase um ano. Que tipo de reacções é que têm recebido relativamente a este trabalho?
Diogo Messias: Temos recebido boas reacções, nomeadamente por parte da editora, a ARX Productions, que nos informou que neste momento a edição do álbum encontra-se esgotada. Pelos vistos naquele mercado as coisas correram bem e cá em Portugal, também temos recebido boas reacções. Estamos satisfeitos.

Certamente que vocês encontram diferenças entre os vossos dois longa-duração [NR “Outros Temem Os Que Esperam Pelo Medo da Eternidade”, de 2006, e “Imperfeições da Mão Humana, de 2010]. Na vossa opinião, quais são as mais evidentes ao nível da composição e, depois, no resultado final?
DM: Sofremos uma evolução muito natural. Penso que neste álbum, estamos mais perto daquilo que queremos fazer, daquilo que tencionamos fazer e vamos amadurecendo, tanto na parte técnica, enquanto músicos, quer na clarificação das ideias. Contamos com a nossa experiência, também. Estamos mais próximos do que queremos fazer e do que vai ser o futuro.

E estão mais próximos daquilo que querem atingir, em termos sonoros? Nota-se uma grande diferença ao nível da produção, pelo menos, entre os trabalhos.
DM: Sim, são coisas que acabam por serem naturais. E essa evolução em termos sonoros acabou por ser normal. O Fernando [Matias, produtor de “Imperfeições da Mão Humana”], fez um excelente trabalho e acho que em todos os aspectos foi um passo em frente.

Depreende-se que todo este processo foi natural, que resultou como fruto da vossa experiência; não foi nada planeado. Deixaram, somente, a vossa experiência fluir…
DM: Sim, é basicamente isso. Sempre que nos reunimos para ensaiar e compor, tudo é muito natural, não há um plano definido, nenhum masterplan, é mesmo o que vai saindo de cada um de nós, sempre verdadeiro, mais próximo do que conseguimos e queremos fazer.

A banda Insaniae já está nestas andanças há quase uma década, mas os seus elementos já integraram outros projectos, desde há, pelo menos, 15 anos. Que balanço é que fazem, por ora, do percurso dos Insaniae?
DM: Acho que é positivo, senão não o continuaríamos a fazer. É o que nós gostamos de fazer e queremos dar continuidade a este trabalho. Preferimos olhar para frente e não ficar a pensar muito no passado. Estamos atentos ao que se passa no panorama nacional; todas as bandas de Doom, algumas que estão aqui hoje, as quais vamos acompanhando e, também, influenciando. E, assim, vamos andando para a frente. O balanço é positivo.

Aparentemente, nota-se que os Insaniae têm sofrido de uma menor exposição e divulgação, comparativamente a outros projectos nacionais. Acham que carecem de maior divulgação ou faltará aquele click, e que uma editora pegue na banda e a lance para um patamar superior? Qual a vossa opinião?
DM: Nós temos estado atentos às bandas e ao que se passa no panorama nacional. De igual forma, estamos atentos ás editoras e, portanto, gostaríamos de poder ter mais alguma projecção nacional, sobretudo nesta fase. Em termos de promoção, penso que é possível fazer mais; isto é Doom, é lento, tudo devagar, até a promoção o é. [risos] Estamos a tentar andar para a frente, a utilizar, cada vez mais, as ferramentas possíveis.
Luis Possante: Ter uma editora no estrangeiro também acaba por ser diferente. Em Portugal poderá não funcionar tão bem com se tivéssemos assinado por uma editora nacional, como é óbvio.
Pedro: Também houve problemas de line up. Logo após o lançamento do álbum, deu-se a saída do baterista e assim ficamos quase um ano, o que igualmente provocou um atraso na divulgação e promoção da banda e do seu trabalho.


Pelo facto de terem lançado o “Imperfeições…” pela mão de uma editora ucraniana, existem algumas perspectivas de poderem fazer alguma coisa fora de Portugal?
DM: Existe vontade e existem contactos, mas penso que para os tempos mais próximos não temos nada marcado nesse aspecto. Estamos receptivos a propostas, a uma tournée ou a outro evento lá fora, claramente. Uma oportunidade dessas não será de desperdiçar, mas até ao momento não surgiu a proposta certa, mas não estamos, de todo, fechados a isso.

Ainda relativamente ao impacto do “Imperfeições…”, desta feita fora de Portugal: têm recebido feedbacks de várias origens?
DM: Sim, recebemos, essencialmente pelo facto de cantarmos em português; provenientes do Brasil, importantes e positivas. Até já nos perguntaram quando é que lá vamos tocar, possivelmente, sem a noção da dimensão das coisas… [risos] Também obtivemos notícias positivas de países nórdicos, da Holanda, da Bélgica, com alguns contactos à mistura, eventuais trocas de concertos com bandas de lá a mostrarem cá o seu som. É certo que a nível pode tornar-se um pouco complicado. Mas sim, estamos satisfeitos com as reacções obtidas.

Acabaram por lançar este novo álbum através de uma editora estrangeira, e de entre o conjunto de bandas que têm estado mais activas, dentro do espectro das correntes mais arrastadas, os Insaniae são os únicos que utilizam a língua de Camões!... É vossa intenção continuar com o português nos vossos temas, em trabalhos futuros?
DM: Não há regras pré-estabelecidas. No concerto de hoje, apresentamos dois temas novos com letras em inglês [NR “Forsaken And Forgotten” e “I Am”]. Não tem que ser em português, inglês ou francês; é um bocado como nos dá na “real gana”, passo a expressão. Agora, quisemos experimentar em inglês, mas nada garante que esta experiência esteja garantida para o futuro. Surge consoante o nosso sentimento durante o processo de composição e o que queremos fazer. Não há nenhum plano rígido como estava a dizer há pouco.

Para terminar, uma questão com vista a levantar um pouco o véu do futuro da banda. Que planos é que os Insaniae têm para os próximos tempos?
DM: Iremos procurar solidificar a nossa posição, aqui em Portugal, com mais algumas actuações ao vivo. Já estamos a compor coisas novas, estamos a pensar gravar também. O futuro passará por aí. Não perdemos muito tempo a olhar para trás. Já passou algum tempo desde que o álbum saiu, algum tempo desde que foi gravado e mais tempo desde que foi composto. Portanto, estamos a pensar em novas músicas, o futuro editorial ainda não está totalmente definido, mais concertos. Sempre mais e melhor.


(Gostaríamos de agradecer à Joana Cardoso a facultação das fotos e ao Side B todas as facilidades concedidas para a entrevista).

Temple Of Doom Metal