segunda-feira, 16 de maio de 2011

Megaphone - Entrevista aos LÖBO

O Megaphone passa de mão, dando continuidade à rubrica iniciada no mês passado com os Insaniae. Desta feita, a voz é a dos LÖBO, projecto da zona de Setúbal, que tem vindo a dar cartas por esse país fora com o seu som, no mínimo peculiar, capaz de agradar a uma variada paleta de apreciadores de música, embora as bases musicais do quarteto andem pelas toadas mais arrastadas. Foi um pouco sobre estes e outros assuntos que estivemos à conversa com Ricardo Remédio e Pedro Barceló.



No panorama nacional, os LÖBO apresentam um som bastante peculiar, um bocado fora dos trâmites normais dentro do espectro Doom ou das correntes mais arrastadas. O que gostaria de vos perguntar é o seguinte: como é que definem o vosso som?
Ricardo Remédio: A questão é… eu até acho que muitas vezes o termo que é utilizado nesta onda, a que chamam o “Pós-Doom”, acho que connosco até nem faz assim tanto sentido, simplesmente vejo este rótulo de outra maneira; é pegar no que é arrastado, no que é lento e no que é pesado e tentar encher com o máximo de coisas possível. No nosso caso, muita música ambiental, alguma electrónica e tentar fazer algo coeso; algo que a gente goste quando chega no final do dia. Acho que a designação “Pós-Doom” pode ser um termo que até nos fica bem, mas, simplesmente, em comparação com outras bandas do género, vamos buscar influências diferentes. Mas o princípio é o de pegar no Doom, ou no lento e puxá-lo para outros lados, seja com que influências forem. Acho que parte por aí, estamos confortáveis com os rótulos que nos dão, apesar que a nossa música vai para além disso.

As questões dos rótulos são sempre complicadas, por vezes as bandas também não gostam muito de serem rotuladas ou catalogadas. No entanto, uma coisa que se nota é que muitas das actuais sonoridades estão relacionadas com esse mesmo fenómeno do “Pós-“, o que não acabará por ser um guarda-chuva demasiado abrangente para tantos projectos que vão aparecendo a público?
Pedro Barceló: Acho que não. Eu e o Ricardo temos um passado dentro do Hardcore, viemos dessa cultura, tocamos em algumas bandas no final dos anos 90 e inícios da década de 00, e depois começamos a ter algumas influências de bandas fora desse estilo, bandas estrangeiras mas que tiveram o mesmo percurso, onde marcaram presença na cena Punk, Hardcore e mesmo Thrash e, neste momento, estão um pouco mais… acho que evoluíram para outro patamar; por exemplo, os Cult Of Luna ou os Isis, são bandas que têm um grande background alicerçado no Hardcore e, simplesmente, evoluíram a nível musical. O Hardcore é uma cultura jovem, e continua a ser uma cultura com muita força, mas a nível musical precisava de algo mais. Foi um pouco isso o que acabou por acontecer com os LÖBO, uma evolução que se nota mais agora. Por isso é que tocando num panorama com três bandas mais fortes, mais Doom, mais Metal [NR no contexto do Major Label Industries Fest], nos destacamos um pouco por causa disso, acho que é pela essência, um background um pouco diferente.

O som dos LÖBO foi algo pensado ou surgiu de forma natural? O facto de não incluírem vocalizações nos vossos temas também foi tido em linha de conta para a construção da vossa sonoridade
R. R.: A inclusão ou não de vozes nunca foi, propriamente, muito pensada. A génese da banda, que tem as suas raízes num projecto entre mim e o primeiro guitarrista, chamada Morte Por Acordes, que estava na linha do ambiental e foi evoluindo a partir daí. Aliás, começamos ainda sem baixista, era somente teclas, guitarra e bateria, naquela de ver o que é que saía; com o tempo, as músicas começaram a surgir, nenhum de nós era vocalista por natureza e seria difícil arranjarmos mais dois elementos para baixo e voz, para que pudéssemos fazer música. Achamos que deveríamos pegar no que tínhamos e continuar a desenvolver o nosso trabalho e a verdade é que, às vezes, essas limitações permitem-nos seguir caminhos diferentes, no sentido em que a música nunca foi pensada para ter voz, por isso segue ritmos e melodias completamente diferentes. Com isto, não queremos dizer que os LÖBO nunca irão ter voz, mas não é algo que nós consideremos quando pegamos numa guitarra, num baixo ou num teclado para fazer música.
P. B.: Nada está fora de questão. Neste momento, contamos com três guitarristas, o Ricardo também toca baixo, estamos com dois bateristas; somos muito versáteis a nível instrumental. Estamos dispostos a fazer de tudo, seja com voz, mais baixo, mais teclas, mais guitarras…
R. R.: Nós queremos colocar as próximas músicas, e se tudo correr bem para o nosso primeiro álbum, dentro de um género musical e com um ambiente definido; agora com que instrumentos o iremos fazer ainda não está definido. Vamos tentar não ter um lugar fixo em que, por exemplo, o baixista só toca baixo nas músicas todas, vamos tentar variar um pouco.

Isso faz lembrar, um pouco, os primeiros de actividade dos Queens Of The Stone Age, onde existia um núcleo duro criativo e era a imagem da banda, mas que se rodeava de uma série de colaborações que iam dando as suas ideias e inputs ao som do projecto. No vosso caso, com diferentes elementos a contribuírem para as partes de baixo, guitarra, bateria, etc.
R. R.: Sim, não fechamos a porta a esse tipo de colaborações externas. Aliás, gostaríamos de poder voltar a trabalhar com o nosso antigo baterista, que teve de sair por razões pessoais e indisponibilidade de tempo; termos duas baterias, alguns convidados. Vamos trabalhando assim dentro da banda e se houverem pessoas dispostas a dar o seu contributo, a porta está aberta.
P. B.: Já tivemos um convidado, o guitarrista e vocalista dos Men Eater, o Miguel, ele antigamente tocava o “Dânaca” nos concertos que fizemos juntos. A nossa primeira tour foi feita com eles e houve essa participação em todos os concertos nesse tema. Para além de convidado, é um amigo nosso e as coisas funcionaram mesmo muito bem, portanto, nada está fora de questão.


Da passagem da demo “Dânaca” para o EP “Alma”, que mudanças é que sentiram na composição dos temas?
R. R.: Basicamente, a diferença foi na maneira como nos colocamos para compor as músicas. O “Dânaca” foi composto na sala de ensaio e tem um sentimento maior de banda ao vivo, enquanto o EP foi acabou por ser uma experiência; começou comigo e com o Luís [NR Luís Pestana, primeiro guitarrista da banda], em que íamos efectuando algumas experiências em casa, brincando com sons até que começamos a perceber que poderia sair dali algo que encaixaria no som dos LÖBO. Impusemos algumas restrições, não no sentido negativo, mas com a finalidade de nos obrigar a procurar outras soluções e buscar coisas diferentes e, pronto, o resultado final foi algo mais frio, mais negro, mais mecânico, se calhar. A maneira como compusemos aquelas músicas acabou por ditar a forma como iriam soar e quando nos apercebemos disso, durante esse processo, dissemos ‘Vamos gravar as músicas como elas estão e ao vivo a história vai ser outra!’. Desta forma, acabamos por surpreender o público que pensa que vamos reproduzir os temas tal como foram gravados, o que acaba por permitir que tenham duas experiências diferentes: quem quiser ouvir o “Alma” mais lento, mais melancólico, mais negro ouve o EP e quem quiser sentir o lado mais visceral da banda vem ver os nossos concertos. Acho que, assim, conseguimos dar duas vidas às músicas.

Sendo o EP “Alma” um trabalho mais cerebral, nota-se uma maior abrangência sonora, talvez fruto desse mesmo conjunto de experiências que foram fazendo ao longo da composição… Não puxaram tanto as guitarras à frente, dando maior primazia à criação de atmosferas mais negras e melancólicas.
R. R.: A partir do momento que aceitamos e concordamos fazer o EP desta forma, ficou aberta uma hipótese de fazermos uma série de coisas diferentes, tanto a nível de instrumentos utilizados como ao nível da mistura. Sabíamos que iria ter um som em estúdio e que ao vivo seria diferente. Acabou por ser libertador aceitar fazer as coisas dessa maneira, porque permitiu-nos experimentar coisas, colocar influências diferentes e acabou por ajudar-nos pelo facto de mostrarmos o lado cru, visceral e pesado dos temas, mas há um registo, intencional, onde as melodias e ambientes se encontram preservadas e aparecem na mesma.

Como é que tem sido a reacção ao vosso som e aos vossos trabalhos de estúdio?
P. B.: Pelo que tenho ouvido, tem sido bastante boa. No ano passado, fizemos uma série de concertos entre Janeiro e Junho – parece muito mas praticamente foi uma tour pelo país em que tocávamos somente aos fins-de-semana – e penso que em todos os concertos tivemos um feedback mesmo muito bom, de várias pessoas com gostos bastante diferentes, do Pós-Rock ao Doom. As vendas de merchandise têm sido excelentes, temos chegado a pessoas dos EUA, de Espanha, de França e, no geral, achamos que tem sido muito positivo. Fomos tocar a Faro, somente os LÖBO em cartaz, e conseguimos colocar cerca de uma centena de pessoas na sala, bastante pequena e correu tudo mesmo muito bem, as pessoas adoraram. Tem sido, mesmo, muito positivo.

A banda tem disponibilizado ao público o seu trabalho de diferentes formas, desde métodos físicos mais convencionais e passando por outros com recurso à internet, com a possibilidade de efectuar o download dos temas, a demo “Dânaca” e o tema “Noite”. Como é que vêem essas duas formas de lançamento dos vossos registos?
R. R.: A nossa opinião é a que temos de aceitar a internet e usá-la a nosso favor, em nosso benefício. Resistir ao formato físico, hoje, não faz sentido, não podemos levar a mal as pessoas terem a nossa música, a descarregá-la, aliás, incentivamos que isso aconteça porque a disponibilizamos de forma gratuita; no fundo, achamos que o formato CD perdeu importância. Se não incluir algo diferente, informação adicional, seja o artwork ou outra coisa qualquer, mas o CD pelo CD já não tem tanto valor, mais vale disponibilizar gratuitamente. O “Alma” teve antes da saída em formato físico, uma versão digital pronta a ser descarregada. Isso só nos abriu portas, permitiu que imensas pessoas pudessem chegar ao nosso som, apesar das pessoas poderem pensar que dessa forma já não iriam vender o EP, mas no final quem gosta mesmo acaba por comprar. Por isso, a nossa abordagem é de abertura completa.

A banda sofreu algumas mudanças de line up recentemente. Que ideias e influências trouxeram os novos elementos e que mudanças poderão ter ocorrido no som dos LÖBO com estas novas entradas?
R. R.: É um pouco cedo para falarmos sobre isso, porque ainda não iniciamos o processo de composição conjuntamente. Estamos a reinterpretar as nossas músicas com este line up. Relativamente a influências, pelo que consigo depreender, penso que o som futuro talvez seja mais sujo, mais pesado, vamos tentar buscar coisas novas… Há o desejo de fazer algo diferente do EP, abrir mais os horizontes, alicerçados nos sons pesados e arrastados; agora, vamos ver como as coisas evoluem.

Como está o processo de composição e gravação do vosso primeiro álbum?
R. R.: Ainda está na fase inicial, porque com as mudanças de line up, a banda parou cerca de meio ano e não fazia muito sentido estar a compor muitas coisas e depois parar tudo e enquadrar nessas mesmas composições os novos elementos, bem como ensinar-lhes os temas antigos. Achamos por bem parar e realizar uma coisa de cada vez, com uma boa integração dos novos elementos.

Para terminar: planos para o futuro próximo dos LÖBO?
P. B.: Para além de ensaiar muito, tentar criar coisas novas para o nosso álbum. Talvez haja um lançamento ainda antes, mas vamos esperar para ver as novidades. Vamos tentar dar mais alguns concertos até ao Verão e, depois, até ao final do ano, talvez já com alguns temas novos.
R. R.: E, se tudo correr bem, gravar o álbum ainda em 2011, acho que seria ouro sobre azul. 

(Gostaríamos de agradecer à Joana Cardoso a facultação das fotos e ao Side B todas as facilidades concedidas para a entrevista).

Temple Of Doom Metal

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