No ano de 2010, os lisboetas Mourning Lenore foram uma das bandas portuguesas com mais hype na vertente do Doom Metal, tanto em Portugal como no estrangeiro, muito graças ao seu primeiro álbum "Loosely Bounded Infinities", lançado pela Major Label Industries, e às suas boas prestações em palco. Foi, após um desses últimos concertos, que estivémos à conversa com a banda, ainda antes das profundas mudanças de line up que, entretanto, sofreu.
O megaphone passa para a mão dos Mourning Lenore.
Entre a formação da banda e a chegada ao vosso primeiro álbum, houve um curto espaço de tempo. Como se desenrolou todo este processo até ao final de 2010, com um álbum como “Loosely Bounded Infinities” na mão?
João Arruda (JA): Bem, começamos a banda em 2008, após eu ter colocado um anúncio na internet e, rapidamente, apareceram os elementos que hoje compõem a banda. Foi muito engraçado, porque logo no início houve uma grande química, visto que foram os três primeiros elementos que responderam ao anúncio. De facto, as coisas aconteceram de forma bastante rápida.
Ainda nesse ano, começamos a gravação do split [NR: que foi lançado em 2009, em conjunto com os Insaniae]; sabíamos que era cedo, mas mesmo assim, decidimos arriscar. As reacções foram óptimas, não estávamos à espera que fossem tão boas. Aproveitamos o embalo e seguimos para o álbum.
No meio desta intensa actividade, onde entra a Major Label Industries neste processo?
João Galrito (JG): Numa linha de crescimento da banda, utilizámos o split para promoção junto de várias editoras e a que teve uma resposta mais positiva foi a Major Label Industries, que gostou muito do nosso trabalho, mas quis aguardar para ver como a banda iria evoluir e queriam ouvir mais alguns temas. Foi o que fizemos. Quando terminamos as novas músicas e as gravamos, enviamo-las para a editora e pronto…, basicamente foi um casamento feliz. Gostaram muito do nosso trabalho e resolveram lançar o nosso álbum.
E como têm sido as reacções, tanto em Portugal como lá fora, ao “Loosely Bounded Infinities”?
Emanuel Henriques (EH): As reacções têm sido positivas, tanto aqui como fora de portas, ainda que nos “acusem” de sermos um bocadinho jovens, mas é um argumento que tentamos utilizar da melhor maneira possível. Mas, basicamente, o feedback tem sido bastante bom, claramente acima das nossas expectativas, o que nos abre boas perspectivas para avançarmos para um segundo trabalho.
Uma prova dessas boas reacções foi o facto de o vosso álbum ter sido nomeado para a categoria “Best Doom Metal Album”, de 2010, no site da Metal Storm. Qual o impacto de uma nomeação dessas para banda e de notícias como esta?
JA: É claro que ficamos imensamente felizes pela nomeação, não estávamos, de todo, minimamente à espera. Eventualmente, com muita sorte, poderíamos figurar na categoria de Melhor Álbum de Estreia, porque para a primeira categoria estaríamos entre titãs, mas, mesmo assim, estamos extremamente satisfeitos e, ao mesmo tempo, acaba por ser um sinal que as coisas estão a correr bem além fronteiras. Estamos muito orgulhosos, sem dúvida.
Em trabalhos futuros, contam trabalhar novamente com o Fernando Matias, dado que no press release do álbum indicam que “equipa que ganha não se mexe”?
Joana Messias (JM): Bem, é sempre um pouco difícil dizer, com certeza, o que vamos fazer no futuro, mas, de facto tem sido muito bom trabalhar com ele [Fernando Matias], é uma pessoa com muita paciência, muita criatividade; nós gostamos muito da maneira como trabalha as nossas músicas, já faz parte da nossa equipa, mesmo. E, portanto, tudo indica que iremos continuar a trabalhar com o Fernando no seguimento de tudo o que tem sido feito até agora.
Em que medida é que o Fernando Matias vos ajudou a chegar ao som que podemos ouvir no “Loosely Bounded Infinities”?
JG: Basicamente, o Fernando tem vindo a construir uma reputação, como produtor e engenheiro de som, bastante sólida com os trabalhos que lhe passam pelas mãos e um dos pontos que, na nossa opinião, mais contribuíram para o nosso som foi a sua imensa capacidade de perceber rapidamente o tipo de som que encaixa na perfeição no tema em que está a trabalhar, ao longo de todo o processo de trabalho em estúdio; para além de conseguir dar os retoques finais que as músicas realmente precisam, dando-lhes uma grande coesão. Outra das suas qualidades é conseguir trabalhar muito bem ao nível do abstracto, em que a partir de uma simples ideia ou um som para uma determinada parte da música ou para um certo instrumento, mesmo dando-lhe dicas um bocado vagas, percebe onde é que queremos chegar e consegue fazer com que isso se torne possível.
JA: Uma outra coisa que, também, me parece importante: é que o Fernando não se prende a estilos musicais, é um produtor extremamente multi-facetado, sempre de mente aberta e isso foi essencial para nós, porque algumas pessoas acham que somos uma banda de Doom, um bocado colada a isto ou aquilo mas, na nossa óptica, gostamos de ir beber a diferentes fontes, o que se tornou essencial para atingirmos o nosso som.
O tema “Unchained” revela uma faceta mais experimental e com alguns elementos sonoros que fogem, um pouco, aos padrões com que foram rotulados. Acaba por ser uma porta que se abre para novas experiências no futuro?
JA: Nada é impossível. [risos]
Qual a vossa opinião relativamente ao panorama musical europeu, numa altura em que a informação corre a uma velocidade elevada, muito pela mão das novas tecnologias, possibilitando a divulgação dos Mourning Lenore e de outras bandas portuguesas, de uma forma exponencial? A noção que têm é a de que somos um país periférico, visto ainda como algo «exótico»?
JG: Nos anos 90, essa diferença era mais notória. Essa aura de «exótico» em torno de Portugal e de outros países mais periféricos, na Europa, e penso que algumas editoras assinavam bandas por isso mesmo, devido a esse factor «exótico», do ser diferente. Com a crescente velocidade de divulgação e exposição dos projectos, essas diferenças tenderam e tendem a diluir-se, do ponto de vista externo. No plano interno, ainda temos casos de pessoas e bandas que ainda persistem na mentalidade de que somos um país à parte; por isso, acho que muitas bandas poderiam expor-se mais além fronteiras e não o fazem por se deixarem levar nesta opinião de auto-comiseração. As opiniões que temos recolhido do exterior, em sites, fóruns e blogues, são: tudo o que chega de Portugal é bom. Mas, penso que por cá esse tipo de mentalidade está a mudar.
São da opinião que nestes últimos 3/4 anos se começou a construir, em Portugal, uma cena ligada ao Doom Metal?
EH: Acho que o último ano foi bastante fértil, de repente, parece que tocar Doom deixou de ser careta, porque sempre foi um primo afastado dos outros géneros dentro do Metal, por ser muito lento ou demasiado deprimente ou, então, porque, teoricamente, em termos técnicos não era tão exigente. Penso que no último ano apareceram muitas bandas, que já cá estavam há algum tempo, e tornaram-se um bocado mais visíveis. Na generalidade, este último ano foi muito bom para o Doom nacional.
JA: No estrangeiro, já se fala num movimento Doom português, da mesma forma que se fala do som de Gotemburgo, por exemplo. Não estou a comparar os estilos, somente estou a dizer que já se associa um tipo de som a um certo país, o que me parece muito bom, é sinal que estão a sair muitas coisas com qualidade por cá. Acho que não há qualquer dúvida que temos bandas muito boas, mesmo.
TODM: Para rematar, que projectos para o futuro dos Mourning Lenore?
JA: Ainda temos mais um concerto para dar e, depois, será uma incógnita. É tudo o que posso dizer.(Gostaríamos de agradecer à Joana Cardoso a facultação das fotos e ao Side B todas as facilidades concedidas para a entrevista).
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