Quem teve a oportunidade de se deslocar à República da Música, em Lisboa, no passado dia 10 de Novembro, certamente que não terá dado o seu tempo por mal empregue. O facto de se tratar de uma quinta-feira, não terá pesado em demasia na turba que se deslocou a este espaço, em Alvalade. Afinal, tratava-se da apresentação do álbum de uma das melhores propostas nacionais ao nível do Metal, ‘Frail’ o segundo longa-duração dos [Before The Rain].
Perante uma boa moldura humana, a banda arregaçou as mangas logo desde o início, no intuito de demonstrar e explanar o poder e a qualidade das propostas que, actualmente, tem entre mãos. Arrancando com ‘Somewhere Not There’, faixa presente no split com os finlandeses Shape Of Despair, o quarteto mostrou claramente ao que vinha, suportado por um som equilibrado e coeso de entre o qual sobressaíram os solos de Valter Cunha e a voz de Gary Griffith.
Dado o mote para uma actuação que primou pela segurança, ‘Frail’ começou a ser debitado, do qual se destacam as prestações para ‘Shards’, ‘A Glimpse Towards The Sun’ ou a belíssima ‘Breaking The Waves’, temas que foram sendo “atirados” ao público com uma nua e crua subtileza, desarmante para quem tem vindo a conviver com estes temas da há algum tempo a esta parte. Canções maduras, distantes de ‘One Day Less…’, aqui unicamente representado por ‘Wounds Of Rejection’, canções que buscam outras e novas paragens, tanto a nível musical como ao nível dos temas explorados nas letras.
A coroar uma exibição muito bem conseguida, ‘And The World Ends There’, antecipada por um “we’re gonna play it long and we’re gonna play it slow”, pela voz de Gary Griffith, que ao longo dos quase 80 minutos de concerto encarnou na perfeição estes temas, dando-lhes uma vívida carga expressiva, tornando-se em mais um ponto favorável para a banda.
Agora com três guitarras, pontificadas pelo trabalho, ora em tons de uma limpidez quase dolente ora explodindo em riffs fortíssimos, de Valter Cunha, dono de alguns dos melhores feedbacks ouvidos durante muito tempo, Carlos Monteiro e Gary Griffith; toda esta estrutura musical encontra-se suportada por uma secção rítmica que se apresentou segura e oleada, aguentando firmemente nas cordas do pulsante baixo de Pedro Daniel e nos ritmos cadenciados e marcantes de Joaquim Aires, contribuindo para o resultado final bastante positivo e deixando um excelente prenúncio para as seguintes datas que se avizinhavam.
Na primeira parte desta apresentação, estiveram os Corpus Christii, que aproveitaram para apresentarem, por paragens lisboetas uma vez mais e após a digressão europeia realizada com os Inquisition, Revenge e The Stone, o seu mais recente registo, ‘Luciferian Frequencies’, novo marco de qualidade e perseverança de uma das certezas do black metal nacional, que é a banda de Nocturnus Horrendus.
Com enfoque nos dois últimos trabalhos de estúdio, foram destilados, com a acutilância que se lhes reconhece, temas como ‘Crystal Glaze Foundation’, ‘Deliverer Of Light ou ‘The Wanderer’, sem esquecer passagens por momentos mais antigos como ‘The Fire God’ ou ‘Constant Suffering’, marcando um agradável início de noite que se queria de emoções fortes.
Temple Of Doom Metal
Fotos: Temple Of Doom Metal