Poucas começam a ser as palavras para podermos falar, sem cairmos em lugares-comuns e redundâncias, do trabalho que os Process Of Guilt têm vindo a desenvolver ao de 10 anos.
Desde a primeira amostra, com 'Portraits Of Regret', que a subida da montanha tem sido feita a pulso, mas com uma regularidade e qualidade assinaláveis culminando com 'Erosion', lançado há três anos - não contando com o trabalho de remisturas 'The Circle' do ano passado -, um trabalho maior que deixou muita boa gente com a cabeça às voltas, no sentido figurado e literalmente, durante bastante tempo.
Que esperar, então? Um doloroso e sofrido disco? Algo mais «descontraído»? Repetir a dose?
A resposta pode ser ouvida em 'FÆMIN', um novo passo em frente da carreira deste colectivo. Dividido em cinco temas, que se interligam, apesar de não se encontrarem subjacentes a um conceito, como em 'Erosion', comungam harmoniosamente da mistura de elementos pesados, lentos e agressivos com passagens mais calmas, mas igualmente densas, criando uma atmosfera negra, suja e crua; tudo isto condensado em temas um pouco mais curtos do que é seu apanágio, mas que reflectem bem a evolução do trabalho da banda, sabendo disferir os seus golpes nos momentos certos, sem o risco de cair em momentos que soem a filler.
'Empire' abre as hostilidades e num crescendo que vai tomando conta de nós, onde por momentos os Neurosis povoaram os nossos pensamentos, eclode, na parte final, naquele que é um preâmbulo para 'Blinfold'. A esta altura, já estamos à toa, sedentos e deliciados com o rumo das guitarras e ritmos em assomos quase tribais, que sustentam toda a máquina. E aqui está um dos seus pontos de destaque. Regista-se, também, uma maior diversidade vocal, mais visceral, que se vai estendo pelos restantes temas, mostrando-se bem à altura desta muralha sonora, pontificada pelos solos de Nuno David, certeiros no seu timing e sem excessos de virtuosismo ou de necessidade de afirmar o que quer que seja.
Já na segunda metade do álbum, 'Cleanse' deixa-nos respirar um pouco, embalados no excelente trabalho de guitarras e baixo, que nos prepara para o tema-título, derradeiro, aglutinador e espelho da realidade musical discorrida. Imagem da banda, marca de um novo patamar, confirmando os Process Of Guilt, se alguém ainda tivesse algum assomo de dúvida, como uma das propostas mais valiosas que a música extrema portuguesa tem para oferecer.
E é com álbuns destes que se faz história, trilham-se caminhos e afirmam-se pergaminhos. (17.8/20)
Tracklist: 01 - Empire / 02 - Blindfold / 03 - Harvest / 04 - Cleanse / 05 - Fæmin
Desde a primeira amostra, com 'Portraits Of Regret', que a subida da montanha tem sido feita a pulso, mas com uma regularidade e qualidade assinaláveis culminando com 'Erosion', lançado há três anos - não contando com o trabalho de remisturas 'The Circle' do ano passado -, um trabalho maior que deixou muita boa gente com a cabeça às voltas, no sentido figurado e literalmente, durante bastante tempo.
Que esperar, então? Um doloroso e sofrido disco? Algo mais «descontraído»? Repetir a dose?
A resposta pode ser ouvida em 'FÆMIN', um novo passo em frente da carreira deste colectivo. Dividido em cinco temas, que se interligam, apesar de não se encontrarem subjacentes a um conceito, como em 'Erosion', comungam harmoniosamente da mistura de elementos pesados, lentos e agressivos com passagens mais calmas, mas igualmente densas, criando uma atmosfera negra, suja e crua; tudo isto condensado em temas um pouco mais curtos do que é seu apanágio, mas que reflectem bem a evolução do trabalho da banda, sabendo disferir os seus golpes nos momentos certos, sem o risco de cair em momentos que soem a filler.
'Empire' abre as hostilidades e num crescendo que vai tomando conta de nós, onde por momentos os Neurosis povoaram os nossos pensamentos, eclode, na parte final, naquele que é um preâmbulo para 'Blinfold'. A esta altura, já estamos à toa, sedentos e deliciados com o rumo das guitarras e ritmos em assomos quase tribais, que sustentam toda a máquina. E aqui está um dos seus pontos de destaque. Regista-se, também, uma maior diversidade vocal, mais visceral, que se vai estendo pelos restantes temas, mostrando-se bem à altura desta muralha sonora, pontificada pelos solos de Nuno David, certeiros no seu timing e sem excessos de virtuosismo ou de necessidade de afirmar o que quer que seja.
Já na segunda metade do álbum, 'Cleanse' deixa-nos respirar um pouco, embalados no excelente trabalho de guitarras e baixo, que nos prepara para o tema-título, derradeiro, aglutinador e espelho da realidade musical discorrida. Imagem da banda, marca de um novo patamar, confirmando os Process Of Guilt, se alguém ainda tivesse algum assomo de dúvida, como uma das propostas mais valiosas que a música extrema portuguesa tem para oferecer.
E é com álbuns destes que se faz história, trilham-se caminhos e afirmam-se pergaminhos. (17.8/20)
Tracklist: 01 - Empire / 02 - Blindfold / 03 - Harvest / 04 - Cleanse / 05 - Fæmin