sábado, 28 de julho de 2012

Essenz - Mundus Numen

Os berlineneses Essenz regressam aos discos, três anos depois de um muito bem recebido 'KVIITIIVZ - Beschwörung des Unaussprechlichen', onde a par do black e doom imperantes, também havia espaço para alguma experimentação e o que mais desse na cabeça do trio, resultando num caldo bastante interessante e, ao mesmo tempo, indefinível. Pois bem, esperaríamos por novos desenvolvimentos. Estes, surgem pela mão de 'Mundus Numen'; seis temas que mostram evolução na abordagem aos temas, na sua concepção, em que tudo está bem definido e nada parece estar a mais. Mas a densa névoa negra que abraçava 'KVIITIIVZ...' desde os primeiros acordes, aqui surge ao segundo tema, 'Sea Of Light - Plemora'. 'Extinguish Shapes - Innermediate' abre o disco e causa surpresa e deixa-nos a pensar no que é que os The Gates Of Slumber andam por aqui a fazer. Claro está que pouco depois a agulha toma o sentido já conhecido e mostra-nos os ingredientes do passado, mas mais refinados. E daqui até à final exalação de 'To The Mania - Mania' entramos numa constante absorção dos sons que vão brotando e da dinâmica que estes temas apresentam com o crescendo das audições.
Longe de estar compartimentado do ponto de vista estilístico, consegue-se precepcionar uma maior propensão para a vertente do black metal nos primeiros temas, sendo os restantes mais votados aos andamentos mais arrastados do doom. Após esta visão simplista e mergulhando mais fundo em cada um deles, constata-se que as barreiras são tão ténues e fuidas que não faz sentido nenhum ver aqui ou ali este estilo ou outro. Importa é salientar que a música dos Essenz funciona como um todo, do princípio ao fim, do primeiro ao último acorde e quando as coisas são assim, aliadas a uma capacidade de conseguirem manter as coisas frescas e interessantes, corre-se o risco de ter um grande disco entre mãos e levar o escriba a dar voltas ao miolo para não cair num discurso açucarado e recorrente, com falta de adjectivos para o qualificar. (15.8/20)

Tracklist:

01. Extinguish Shapes: Innermediate
02. Seæ Of light: Pleroma
03. Extricate Spirits: Amor
04. Observed By Spectres: Paranoia
05. Observing Spectres: Schizophrenia
06. To The Bone - Mania



terça-feira, 24 de julho de 2012

Bong - Mana-Yood-Sushai (2012)

Aquando do lançamento de 'Beyond Ancient Space', no ano passado, referimos que o duo de Newcastle teria puxado ao limite a fórmula que tornou a sua música única e que esse era um passo que poderia ser, se não perigoso, pelo menos prejudicial, dado o possível beco sem saída em que se poderiam encontrar no futuro. Pois bem, a resposta chega-nos através deste 'Mana-Yood-Sushai', mais dois exercícios, longos, lentos, mas com o condão de transportarem, a par de um obscurantismo mais cativante que no seu predecessor, ideias bem definidas - se bem que repetidas à exaustão e com poucas variações, continuando a ser a maior pecha do seu trabalho -, eliminando 'gorduras' que nada acrescentavam aos temas - embora 'Dreams Of Mana-Yood-Sushai' ainda contenha alguns momentos dispensáveis e até mesmo entediantes, contrastando com 'Trees, Grass And Stones', fluindo do início até ao fim como se de um tema de meia-dúzia de minutos se tratasse.
O ambiente é bastante similar ao que já vem sendo hábito nos trabalhos desta banda, onde os tons enegrecidos picam o olho a alguns trejeitos orientais onde, mais uma vez, Ben Freeth com a sua cítara e shahi baaja marca o toque distintivo dos Bong. Dave Terry, parece continuar completamente em estado de transe, emanando as suas vocalizações, que mais parecem invocar entes de outras dimensões, mas que, ao mesmo tempo, parecem imiscuir-se no próprio som, soando, às vezes, longínquas e, depois, bem próximas.
Ultrapassando pouco mais que 45 minutos, bem mais curto que 'Beyond...', eis um bom trabalho que os conhecedores e apreciadores irão deixar rolar por bastante tempo. (13.5/20)


English:

At the launch of 'Beyond Ancient Space', last year, referring to the duo of Newcastle would have pulled out the formula that made his music unique and that this was a step that could be, if not dangerous, least harmful, given the possible deadlock in which they could find in the future. Well, the answer comes to us through this 'Mana-Yood-Sushai' two more exercises, long, slow, but with the power to carry, along with an obscurity more captivating than in its predecessor, well-defined ideas - if although the exhaustion and repeated with minor variations, continues to be the biggest blemish of his work - eliminating 'fat' that added nothing to the issues - although 'Dreams Of Mana-Yood-Sushai' still contains a few moments dispensable and even boring , contrasting with 'Trees, Grass and Stones', flowing from start to finish as a matter of half a dozen minutes they were.
The atmosphere is very similar to what has been customary in works of this band, where shades blackened eye poke a few Eastern quirks where, once again, Ben Freeth with his zither and shahi baaja marks the distinctive touch of Bong. Dave Terry, still seems completely in a trance state, emanating from their vocalizations, which seem to rely more entities from other dimensions, but at the same time, seem to meddle in their own sound, sounding, sometimes distant, and then very close.
Exceeding little more than 45 minutes, much shorter than 'Beyond Ancient Space', is a fine work that connoisseurs and lovers will let go for quite some time. (13.5/20) 

 
 
Tracklist: 01 - 'Dreams of Mana-Yood-Sushai' / 02 - 'Trees, Grass and Stones'



sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sinistro - Sinistro

O ano ainda vai a meio e a julgar pela colheita podemos dizer que é de assinalável qualidade, mais uma vez e pauta-se igualmente pela diversidade estilística, demonstrando que o panorama metálico português está de boa saúde e recomenda-se.
De entre um fervilhar de projectos e bandas que todos os meses vão assomando com novos trabalhos intra-muros, um grande destaque vai para os Sinistro - confesse-se que esta denominação, só por si, já é merecedora de curiosidade -, que fazem a sua aparição, auto-intitulada, num registo polifacetado, aglutinador de tantas referências que o seu enquadramento estilístico acaba por não ser nada fácil. Por aqui, há devaneios floydianos, momentos contemplativos com um fundo sonoro na linha do ambiental, há post-metal pré-'Oceanic' - com um toquezinho a Mono aqui e ali - e o bolo parece ficar completo, unindo estes ingredientes todos, com uma boa dose de doom metal. E, o mais interessante é que tudo faz sentido ao longo destes oito temas; as peças vão encaixando à medida que os minutos vão passando e tudo flui tão harmoniosamente que, terminado o som, fica uma sensação de desconforto, impelindo-nos a carregar não só no play, mas no repeat também, para uma prolongada viagem ao fundo destes temas. Somos absorvidos de forma subtil e tão generosa para o meio deste cenário - ou conjunto de cenários encadeados -, que desde cedo nos sentimos parte desta banda-sonora em que cada um de nós é o compilador de imagens e as coloca pela ordem que nos aprouver; e continuarão a fazer sentido, mesmo assim.
Num trabalho que funciona como um todo, é difícil destacar este ou aquele tema, mas 'O Acidente e a Euforia' tenta sintetizar, em pouco mais de quatro minutos, a fórmula aqui exposta - neste caso, com o contributo de Gabriel Coutinho -, 'O Dia Depois do Meu Funeral' que anda ali a deixar-se embeber pelo formato canção e, no derradeiro assomo, 'A Ira', a catarse musicada em onze minutos, onde um conjunto de teclados soberbo eleva em muito a qualidade deste tema e que conta, ainda, com a participação de Tó Pica, que efectua um belo solo já perto do final.
Desassombradamente, os Sinistro mostram-se sob uma paleta de cores que não nos deixaram indiferentes, restando saber se as mesmas têm o mesmo poder ao vivo e se mantêm a mesma vivacidade em momentos futuros. Se assim for, ainda iremos ouvir falar, e muito, deste misterioso trio. (15/20)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Grime - Grime (2012)

Os Grime, são um quarteto que nos chega de Trieste, na Itália e praticam uma sonoridade que tanto deve aos Black Sabbath como aos Eyehategod ou Sourvein, só para citar os casos mais imediatos; ou seja, para os mais distraídos, informa-se que navegam pelas águas bem lodosas do sludge/doom metal na sua vertente mais crua e suja, embora mantenham sempre à vista a melodia, garantindo desta forma o equilíbrio necessário, que lhes granjeou a atenção da britânica Mordgrimm, através da qual veêm lançado este seu trabalho de estreia - embora, desde meados do ano passado, pudesse ser escutado e comprado em formato digital, via bandcamp.
É certo que a fórmula sludge/doom já conheceu melhores dias, há muito deixou de ser novidade, encontra-se num patamar de sobrexposição e já tem a sua colheita de trabalhos icónicos, digamos, mas não podemos deixar de apreciar um bom disco e dizê-lo condicionados pelo anteriormente referido. Se trazem algo de novo ou se irão deixar a sua marca na história da música, isso já será outra conversa. E este registo de estreia dos Grime acaba por ser um bom exemplo disso mesmo: em pouco mais de meia hora, condensam riffs duros e sujos com ritmos lentos, a que se junta uma vocalização tipicamente do género. Temas como 'Self-Contempt' ou 'Charon' evidenciam qualidade, mostram bem as linhas com que a banda se cose, conseguindo agarrar o ouvinte e dar-lhe uns valentes abanões, mas no final fica um ligeiro travo a pouco, que faltava ali pelo meio algo que garantisse uma outra dimensão a este conjunto de temas.
Longe de ser um trabalho medíocre, este debut apesar de não trazer novidades proporciona bons momentos durante a sua audição, mas espera-se, para breve segundo a banda, por algo com mais substância de modo a garantir um longo tempo na playlist e a provocar-nos uma feliz dor de cabeça. (12.2/20)

Tracklist: 
01 - Self-Contempt / 02 - The Journey / 03 - Charon / 04 - Chasm / 05 - Born Sick / 06 - Wife-Beater



         http://www.infektion.pt/pr/