quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Abstract Spirit - Horror Vacui (2011)

Funeral Doom Metal, movimento III! 2011 vê o regresso dos moscovitas Abstract Spirit com mais um álbum, após a estreia 'Liquid Dimensions Change', de 2008, e 'Tragedy And Weeds' no ano seguinte. Quem já se cruzou - ou melhor, foi abalroado! -, com a sonoridade deste trio já sabe muito bem com o que pode contar, bastaria ler a primeira frase deste texto. Para os 'novatos', este 'Horror Vacui' acaba por ser a descoberta da banda no se u passo seguinte, ou seja, não é o aprimoramento da fórmula, com retoques aqui ou ali, mas um aprofundamento da sonoridade, com algumas novas tonalidades até aqui pouco exploradas.
A meia-dúzia de temas, mais o interlúdio de faceta ambiental 'Vigilae Mortuorum (Interludium)', que fazem parte deste trabalho parecem ainda mais lentos e guarnecidos de uma dimensão épica. Essa impressão fica logo patente na abertura, com 'Beyond Closed Eyelids', onde a par dos riffs imensos e incomensuravelmente pesados de M. Hater e da voz gutural cortesia de I. Stellarghost, surge uma maior incorporação de teclados e passagens de piano, permitindo aos temas respirarem da sua hipnótica e lenta violência, o que proporcionará ao ouvinte, por conseguinte, algum tempo para recuperar o fôlego antes de voltar a ser engolido por esta massa sonora gigantesca.
Ao longo deste 70 minutos, cai sobre nós uma negritude funérea, criando uma atmosfera doentia, comiserável, um monumento que se constrói lentamente, numa subtil e arrepiante progressão, dantesco que esbarra na nossa frente, deixando-nos com uma sensação de mal-estar perturbadora. Os coros, quais lamúrias desta ode mortífica, funcionam como leves bálsamos, momentâneos, ao longo deste trajecto por hediondas paisagens.
Este álbum resulta como um só, rochedo indivisível, esmagador, quer pela sua coerência estilística e sonora mas, também, pela cadência que os próprios temas têm, entrelaçando-se uns nos outros bastante naturalmente. Apesar disso, algo mais ressalta ao escutarmos 'Post Mortem' e 'Pulse'.
'Horror Vacui', não sendo um trabalho perfeito, nem inovador, tem no condão da sua coesão e poder sonoro e estilístico a capacidade de afirmar os Abstract Spirit como uma das melhores bandas do segmento na Rússia e na Europa, capaz de poder vir a ombrear com os alemães Ahab.
Por nós, os últimos 70 minutos do Apocalipse já têm banda-sonora. (16.3/20)

English:
Funeral Doom Metal, movement III! 2011 sees the return of Moscow Abstract Spirit with another album after the debut ‘Liquid Dimensions Change’, in 2008, and ‘Tragedy And Weeds’ in the next year. Anyone who has ever crossed - or rather, was rammed! - with the sound of this trio, knows quite well what can count on, just need to read the first sentence of this text. For the 'newbie’s', this 'Horror Vacui' turns out to be the discovery of the band at their next step, specifically, not on improving the formula, with touches here and there, but looking forward for a deeper sound with some new ideas up till now little explored.
The half-dozen tracks, plus the ambiental interlude 'Vigilae Mortuorum (Interludium)', which are part of this work seem even slower and look a bit more epic. This impression is immediately evident in the opening song, "Beyond Closed Eyelids', where side by side with immense and immeasurably heavy riffs, played by M. Hater and deep guttural voices courtesy of I. Stellarghost, there is a greater incorporation of keyboards and piano passages, allowing those songs to breathe from their slow and hypnotic violence, which will provide the listener, therefore, time to catch his breath before returning to be swallowed by this huge mass of sound.
During these 70 minutes, falls upon us a funereal blackness, creating an unhealthy atmosphere, miserable, a monument that is built, slowly, in a subtle and chilling progression, in a Dantesque way that collides against our senses, leaving us with a feeling of malaise disturbing. The choirs, which laments along this deadly ode, act as light balms, momentary, along this route by hideous landscapes.
This album turns out as one, indivisible rock, overwhelming, both for its consistency of style and sound but also by the cadence that have their own tracks, weaving them into each other quite naturally. Yet, we need to emphasize 'Post Mortem' and 'Pulse'.
'Horror Vacui', not being a perfect record, or innovative, has the knack to show a very intense cohesion and power of their sound and stylistic ability to affirm Abstract Spirit as one of the best bands in the funeral segment in Russia and in Europe, capable of being able to comparable with the Germans Ahab.
For us, the last 70 minutes of the Apocalypse have already a proper soundtrack. (16.3/20)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Wreck Of The Hesperus - Light Rotting Out (2011)

Ao longo dos anos em que os irlandeses Wreck Of The Hesperus têm estado em actividade, habituamo-nos a duas coisas: primeiro, a trabalhos extremos. Segundo, a não sabermos quão extrema poderá ser a novidade que se segue por parte deste trio atormentador de almas. Tem sido assim desde a demo 'Terminal Dirge' ou, se preferirem, do EP 'Eulogy For The Sewer Dwellers' e o seguintes lampejos de actividade são a prova que a banda de Dublin reforça a sua postura no panorama metálico irlandês e europeu.
Chegados a 2011, os três temas que compõem este 'Light Rotting Out' confirmam o exposto e, também, o aumento do grau de insanidade musical e visceralidade patente em cada descarga musical ou vociferada por AC Rottt. O podredo instala-se ao longo destes 40 minutos, em doses colossais, directas e incisivas, como são os casos de 'Kill The Monument' e 'Cess Pit People'. O terceiro e último tema, 'The Holy Rheum', dividido em duas partes, é ligeiramente mais comedido - na falta de um termo mais adequado -, onde há espaço para dar largas à introdução de um saxofone em 'I - Night Of Negative Stars', adensando o clima doentio já existente e à presença, discreta mas magnânime no seu tom muito pregadordoapocalipse, de Albert Witchfinder, na segunda parte, 'II - Hologram Law', onde a letra mais não é do que uma adaptação do Salmo 102. Apesar disso, em nada se desprende dos dois primeiros assombros, mostrando que 'Light Rotting Out' é, na nossa opinião, o trabalho mais conseguido da banda e que os pode anunciar como um dos projectos cimeiros das correntes mais extremas das franjas do Doom Metal. Dizer que estamos perante Funeral Doom é bastante redutor, pois aqui abraçam-se estilos como o Sludge mais sujo e bruto e Ambient/Drone, conferindo um tom algo apocalíptico e obscuro às músicas.
A par dos Murkrat, este poderá ser um dos álbuns que mais nos chamou à atenção ao longo deste ano e, curiosamente, chegam ao mercado com o selo da britânica Aesthetic Death, que preparou um artwork bem especial para este trabalho, digno de peça de colecção. (17.5/20)

English:
Over the years, the Irish Wreck Of The Hesperus accustomed us two things: first, to wait for extreme records. Second, we do not know how extreme can be a novelty from this tantalizing trio of souls. It's been like this since the demo 'Terminal Dirge' or, if you prefer, the EP 'Eulogy For The Sewer Dwellers' and following flashes of activity are the proof that the band from Dublin strengthens its position in the Irish and European metal scene.
Arrived in 2011, the three themes that compose this 'Light Rotting Out' confirm the above and also the increased degree of musical insanity and visceral patent in each discharge or ranted by AC Rottt. This rotting sounds settles over the 40 minutes in huge doses, direct and incisive, as in the case of 'Kill The Monument' and 'People Cess Pit'. The third and last song, 'The Holy Rheum', divided in two parts, is slightly more restrained – in the lack of a better term - where there is room for unlocking the introduction of a saxophone in 'I - Night Of Negative Stars ', densifying the existing unhealthy climate and the presence, quiet but very magnanimous in their tone of preacheroftheapocalypse, Albert Witchfinder, in the second part,' II - Hologram Law ', where the lyrics are nothing more than an adaptation of Psalm 102. Nevertheless, it doesn’t comes off the first two astonishing tracks, showing that 'Light Rotting Out' is, in our opinion, the band's most accomplished work and that can advertise as one of the top list of current projects of the more extreme fringes of Doom Metal . To say that we are facing a Funeral Doom album is very reductive, because here they embrace styles like Sludge, the rude and gross, or Ambient/Drone, giving a somewhat apocalyptic and obscure tone to the songs.
Together with Murkrat, this may be one of the albums that most caught our attention this year and, interestingly, achieves the market with the seal of the British Aesthetic Death, who prepared a very special artwork for this work, worthy piece of collection. (17.5/20)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sceptic Mind - The Begining (2010)

Às vezes, somos confrontados com álbuns que nos colocam em sentido desde o primeiro momento em que tomamos contacto com eles; em outros casos, vão ganhando o nosso respeito e conquistam-nos aos poucos; depois, existem os suportáveis e os irrelevantes. Foi durante a audição do tema de abertura e que dá título a esta segunda proposta que nos chega da Rússia, que nos demos a pensar nesta forma de encarar - ou hierarquizar - a nossa relação com os trabalhos que vamos ouvindo e conhecendo e percebemos que neste caso específico, e depois de ouvir estes três temas colossais, que os Septic Mind tomam conta dos nossos sentidos de uma forma tão bruta e fria que nos deixa completamente aturdidos. O que brota das colunas não é somente funeral doom, mas um conjunto de linhas atmosféricas que nos rodeiam e nos absorvem de tal maneira que nos sentimos no meio de uma tempestade que pára ao fim dos 60 minutos de duração deste registo; uma tempestade que nos vai fustigando, lenta e gélidamente, percorrendo espaços desoladores e inóspitos e mostrando-nos uma negritude espessa como breu.
Perante um cenário destes, está claro que os Esoteric saltam logo para a linha da frente, mas não podemos esquecer uns Pantheist ou mesmo os seminais Thergothon.
'The Begining' contém um trio de temas que prega o Apocalipse, mas de uma forma docemente brutal, embalando-nos durante os seus momentos mais calmos e contemplativos, para depois esmagar-nos sem contemplação ou amistosidade. 'The Misleading' contém nuances que nos lembram os crescendos muito característicos do post-rock/post-metal; e não é que sabem bem aqueles doze minutos antes da entrada da voz gutural de Michael Negiev, como um vento frio que nos bate no corpo e acorda para a dureza e crueza que a música contém. Achamos que após isto tudo, será escusado dizer o que este álbum provocou neste ouvinte. (17.4/20)

English:
Sometimes we are confronted with albums that put us standing straight since the first moment we contact them; in other cases, they gain our respect and conquer us slowly; finnaly, there are the bearable and irrelevant ones, too. It was while we were listening the opening track, and at the same time the title of this second proposal that comes from Russia, that we found ourselves thinking on the way we face - or rank - our relationship with the records that we hear and know and realize that in this specific case, and after hearing these three huge songs, the music of Septic Mind preempt our senses in a way so raw and cold that makes us completely flummoxed. What flows from the speakers is not only funeral doom, but a set of atmospheric lines that surround and absorb us so deeply that we feel in the midst of a storm that goes away only after the 60 minutes of this record; a storm that goes on beating, slowly and icily, traversing bleak and inhospitable places and showing us a thick pitch-blackness.
Of course, with such a scenario like this one, it is clear that the Esoteric jump straight to the front line, but we cannot forget Pantheist or even the seminals Thergothon.
'The Beginning' contains a trio of tracks that preaches the apocalypse, but in a brutal gently way, lulling us during their quiet and contemplative moments, and then crush us without contemplation or friendliness. 'The Misleading' contains nuances that remind us of the very characteristic post-rock/post-metal crescendos, and feels really good those twelve minutes before the entrance of the guttural voice of Michael Negiev as a cold wind that hits us in the body and awakes us to the hardness and ruthlessness that this music contain. We think that after all this, is needless to say which sensation this album has caused in this listener. (17.4/20)