quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Ab Reo Dicere: Dawnrider + Old Sorcery + Shadowgrave

Dawnrider - Doom Over Invicta (Live 19.3.10)
Após o lançamento do muito bem recebido 'Two', os Dawnrider encetaram um conjunto de concertos de promoção a esse registo. Assim, em 'Doom Over Invicta' não é de estranhar uma maioria de temas desse álbum, mas se olharmos para a setlist com maior atenção 'Alpha Chapter' continua a estar bem presente - onde estão algumas das melhores malhas da banda. Esta é, também, a amostra do poder deste quarteto ao vivo, sem make up ou photoshop, demonstrando toda a sua crueza, num momento em que F. J. Dias & Ca. atravessavam um excelente momento de forma.
Depois da «conquista» da Invicta, no final, surgem dois «tesourinhos», para quem não teve hipótese de adquirir o split com os War Injun - pronto, ok, 'Walking Blind' já teve reedição posterior, mas um pouco mais polido... -, acabando por compôr um ramalhete já de si bastante atractivo, antes da chegada do novo registo de estúdio. (14/20)

Tracklist:
01. Divinity Revealed
02. Redemption
03. Evil Deeds
04. Queen of the Mountain 
05. Keep on Riding
06. Irinia
07. Drum Solo
08. Eagles Flying
09. Walking Blind / Poison so Mean





Old Sorcery - Depths Of Perversion (Demo)

Os portuenses Old Sorcery cospem a sua primeira catarse pela mão da Bubonic Productions. Para os que acompanham os lançamentos desta label, já está tudo dito. Para quem faz tenção de mergulhar neste poço de podredo, negro como breu, prepare-se porque vai entrar num dos espaços mais recônditos do underground português. Os dois temas que compõem esta demo encaixam que nem uma luva no título da mesma, 'Depths Of Perversion'. De facto, a partir do momento em que começa a ribombar nas colunas 'The Fucking Witches Killed Me', parece que fomos atirados para um qualquer cenário doentio, purulento, do qual não temos retorno possível. Aí, somos trucidados por esta experiência sónica que nos deixa a alma um pouco mais negra, mas pouco mais que isso. 'The Fucking...' e 'Another Void Is Needed' são dois exercícios que mais parecem duas jams registadas a horas impróprias e tocadas em avançado estado ébrio, sem grandes regras ou alinhavanços, não resultando daí muito por onde pegar; ou melhor, algo que nos fique para memória futura. Quase que apetece dizer: underground mais underground, não há. (9.5/20)

Tracklist:
01. The Fucking Witches Killed Me 
02. Another Void Is Needed




Shadowgrave - The Aftermath (EP)

Portugal viu nascer durante o ano que corre mais um projecto que abraça as correntes da amargura e laceração e tem mostrado uma grande actividade, pelo menos a nível discográfico. Os Aftermath chegam-nos do Porto e apresentam-se com cinco temas alicerçados no doom, mas também não enjeitam algumas incursões no death metal. 'The Aftermath' demonstra o que muitos trabalhos debutativos evidenciam: alguma crueza e ideias a necessitarem de serem mais consistentes e trabalhadas, para além de uma enorme vontade de «mostrar trabalho». Em todo o caso, estes temas poderiam ganhar com uma produção mais efectiva, que desse um pouco mais de corporalidade a estas composições e, ao mesmo tempo, alguma da frieza que não se enquadra em lançamentos relacionados com este género. No entanto, 'The Aftermath' ou 'Lugubrious Silence' acabam por serem propostas que bem podem servir de apresentação desta banda no underground nacional e pontos de partida para algo mais. (10.7/20)

Tracklist:
01. Equal Sentence
02. The Aftermath
03. Lugubrious Silence 
04. The Last Empire
05. Unequal Judgement



quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Ab Reo Dicere: Trails Of Sorrow + Riti Occulti + Saturnus

Trails Of Sorrow - Languish In Oblivion

Trabalho de estreia para este projecto italiano, que vagueia pelo funeral doom acrescentando-lhe alguns ambientes bem melancólicos, onde o piano faz constantes aparições, acabando por ser o ponto mais positivo deste registo; uma dezena de temas inconstantes, um pouco desiquilibrados, onde as ideias precisam de ser mais trabalhadas e, também muito importante, exige-se uma produção mais cuidada, capaz de conferir aos temas uma dimensão mais consentânea com este sub-género musical. 'Dreams Are Dying' até acaba por ser um tema com alguma beleza, mas não é acompanhado por mais nenhum dos nove restantes. Aqui e ali, encontram-se algumas melodias simpáticas, mas só isso; muito pouco cativante e o duo que dá corpo a estes Trails Of Sorrow está a precisar de assentar ideias e trabalhar mais os seus temas antes de darem mais uma falsa partida. (9.5/20)

Tracklist:
01. Dreams Are Dying
02. Living as to Live is to Suffer
03. A Grave of Loneliness
04. Trees Crying Leaves
05. See My Blood Flowing
06. In Luce
07. Suffering Comes
08. Wonderful Memories
09. A Blinking Shadow
10. Ora è La Fine



Link: http://www.youtube.com/user/doomofsorrow
         http://it-it.facebook.com/pages/Trails-Of-Sorrow/167609686628239



Riti Occulti - Riti Occulti

Na página do website destes italianos podemos ler o seguinte: 'their music can be best described as a mix of hypnotic sounds and esoteric themes that guide the listener towards the left hand path'. E não anda muito longe disso, este primeiro registo dos Riti Occulti. Ao longo de quase 50 minutos, somos confrontados com mais uma mistura de stoner/doom com psicadélia a rodos, onde uma voz rasgada nos vai acossando a mente e conferindo uma aura de maior negritude a cada minuto que vai passando.
Aqui, não há espaço para guitarras, estando a performance a cargo de um baixo bem distorcido e uma bateria costumeira, alicerçando longas passagens de teclados e efeitos marados aos quais se juntam o bouzouki e a flauta (que em conjunto com as vocalizações limpas femininas, tentam acrescentar aquele tom retro muito em voga). Não é de fácil digestão, mas com o tempo há por ali momentos bem interessantes.
Resumindo: imaginem Jus Oborn em longa dieta de Pink Floyd, mas somente as colheitas entre 1967 e 1970. (13.5/20)

Tracklist:
01. It's All Grey
02. Revelation
03. I'm Nobody
04. Alcyone
05. Desert of Soul
06. Bitter Awakening
07. Never a Joy



Link: http://ritiocculti.altervista.org/
         http://www.youtube.com/user/RitiOcculti



Saturnus - Saturn In Ascension

Seis anos depois da derivação literária que foi 'Veronika Decides To Die', a banda dinamarquesa regressa com mais um opus que exalta, novamente, a enorme qualidade das suas composições. É verdade, os Saturnus não sabem fazer álbuns menores, mantendo o nível de exigência sempre bem alto e a prova disso são estes oito temas que, apesar de não trazerem grandes novidades, conseguem um resultado global bem positivo e reforçando o colectivo como um dos pilares do género.
'Wind Torn' tem tudo para ombrear com temas como 'Empty Handed' ou 'Pilgrimage Of Sorrow', enquanto 'A Lonely Passage' no meio daquele tom acinzentado e triste, arrisca um perfume quase pop assente na guitarra acústica que marca o tema, sem macular o som da banda. Os temas sucedem-se, num encadeamento harmónico, melancólicos, numa triste doçura até ao seu epílogo. E sucessivas audições impõem-se, em busca dos muitos e excelentes momentos que 'Saturn In Ascension' reúne. (17/20)

Tracklist:
01. Litany of Rain
02. Wind Torn
03. A Lonely Passage
04. A Father's Providence
05. Mourning Sun
06. Call of the Raven Moon
07. Forest of Insomnia
08. Between



Link: http://www.facebook.com/pages/Saturnus/8935853109
         http://www.myspace.com/saturnus

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Ab Reo Dicere: Embrace Of Silence + Inborn Suffering + The Howling Void

Embrace of Silence - Leaving the Place Forgotten by God

Após dois EPs, esta banda ucraniana lança o seu primeiro longa-duração com uma sonoridade fortemente enraizada no doom/death da primeira metade da década de 90 (o EP 'Inspirational Songs' será a prova cabal disso mesmo, basta consultar a tracklist).
A fórmula que preside a estes sete temas é por demais conhecida, mas a qualidade de algumas ideias em 'Slaves of Forgotten Graves' ou 'Way to Salvation', por exemplo, são mais que suficientes para admitir que estamos para além de uma mera cópia dos My Dying Bride ou de uns Anathema na sua fase inicial; no entanto, 'Silent Voice, Empty Words' acaba por soar demasiado colada à banda de Halifax, dificultando a tarefa de esconder nas entrelinhas das composições essas mesmas influências.
Este é um álbum para fãs do género, disso não haverá dúvida, mas sublinhamos a existência de ideias interessantes aqui presentes e, se forem bem exploradas, poderão granjear uma maior visibilidade a este projecto. (13.9/20)

Tracklist:
1. In Gloom Of Somnolent Night
2. The Slave Of Forgotten Graves
3. The Gates Of Remembrance
4. Silent Voice, Empty Words
5. Way To Salvation
6. In Angel’s Hand
7. I’m Your Jesus



         http://solitude-prod.com/



Inborn Suffering - Regression to Nothingness

Seis anos após 'Wordless Hope', eis que surge o segundo registo destes franceses, continuando fiéis às linhas do melodic doom/death carregado de densas e profundas atmosferas que marcaram esse primeiro registo. Apesar disso, esta longa espera está longe de significar estagnação e 'Slumber Asylum', logo a iniciar é reveladora disso mesmo, com o seu ritmo forte e compassado, a suportar uma melodia que inclui um riff que se entranha ao fim de pouco tempo, desaguando em toadas mais lentas e belas. Somos apanhados de surpresa ao mesmo tempo que se revela uma banda mais madura e com uma qualidade de composição mais elevada. 'Born Guilty', começa em mid-tempo, como se estivéssemos no meio de uma tempestade, amainando mas mantendo todo o tema como uma bela sequência de passagens que se encaixam muito bem, sendo uma das melhores faixas deste registo (os minutos finais de 'Grey Eden' também são muito bons).
'Regression to Nothingness' está uns furos acima de 'Wordless Hope'; funciona como um todo bastante coeso, interessante e sem grandes momentos que soem a fillers.
Terá valido a pena esta espera de seis anos? "Este é um dos melhores álbuns do género, este ano!", será  a nossa resposta. (16.3/20)

Tracklist:
1. Slumber Asylum
2. Born Guilty
3. Grey Eden
4. Apotheosis
5. Another World
6. Regression To Nothingness
7. Self Contempt Kings



         http://solitude-prod.com/



The Howling Void - The Womb Beyond The World

Álbum número três desta one man band proveniente do Texas.
Ao longo dos quatro temas que compõem este 'The Womb Beyond The World', continuam a prevalecer as sonoridades funéreas com momentos mais ambientais que já se encontravam presentes em lançamentos anteriores. Os temas continuam a ser bastante longos, rondando os 15 minutos cada, em média, e o cenário para o qual nos transportam é exactamente igual ao que podemos constatar em 'Megaliths of the Abyss' ou em 'Shadows Over the Cosmos'.
As teclas continuam a dominar as composições, funcionando como elo de ligação entre todas as partes que vão construíndo estas odes lentas, dando a nítida impressão de uma certa filiação em linhas sonoras exploradas pelos Comatose Vigil ou pelos EA, mas sem conseguir atingir os níveis de interesse dessas bandas em álbuns como 'Fuimus, Non Sumus...' ou 'Ea', respectivamente. E quando as coisas são assim, apesar de estarmos perante um trabalho certinho e com um som decente, não há muito mais a dizer. (11/20)

Tracklist:
1. The Womb Beyond The World
2. The Silence Of Centuries End
3. Lightless Depths
4. Eleleth




         http://solitude-prod.com/





quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Isis - Temporal

Fomos todos apanhados de surpresa quando, em 2010, os Isis resolveram colocar um ponto final na sua carreira, pouco tempo depois do lançamento de um bem sucedido 'Wavering The Radiant', que sucedia a colossos como 'Celestial', 'Oceanic' ou 'In The Absence Of Truth', definidores das linhas-mestras de um género que se vulgarizou sob o nome de post-metal.
Pois bem, os órfãos andaram a lamber as feridas durante um longo tempo, chorando baba e ranho, mas ao mesmo tempo refugiando-se nos inspiradores e nos sucedâneos, um conforto agora reforçado com novos lançamentos dos Neurosis e Amenra, respectivamente.
'Temporal' vem mostrar que os Isis não devem ser esquecidos, não podem ser tomados por um qualquer epi-fenómeno que após o seu ocaso é varrido das mentes como um simples delete. Os 14 temas que compõem esta compilação (pois, longe está de ser um mero best of, na sua linha mais redutora), trazem demos, remixes, inéditos e outros menos acessíveis até agora (para além de um DVD com a sua videografia), que, à primeira vista, parecem desgarrados, mas numa análise um pouco mais atenta demonstra um conjunto bastante interessante para os seguidores da banda e um excelente cartão de visita para aqueles que, só agora, tomem contacto com a banda. As demos, com as suas alterações face às versões finais, ouça-se 'Ghost Key' aqui sem voz ou então 'Carry' com diferentes linhas de guitarra, serão porventura o prato menos aliciante. No entanto, o destaque da primeira rodela vai para a imensa 'Grey Divide', 16 minutos pontuados por uma batida seca, sobre a qual as guitarras crescem, desfiando melodias que nos envolvem; descansam ali pelo meio, qual canção de embalar e regressam, sublimes; os trunfos não tinham sido todos jogados.
Na segunda metade deste lançamento, 'Streetcleaner', dos Godflesh e 'Hand of Doom', dos Black Sabbath, demonstram a amplitude de referências musicais trazidas para o seio do colectivo. Dois temas que viram a luz do dia ainda no final da década de 90, mas bastante competentes e com o devido tratamento Isis-iano. As remixes não trazem nada de novo ou empolgante e 'Temporal' está na linha da lavra de Aaron Turner e Co.. A recta final com 'Way Through Woven Branches', 'The Pliable Foe', resultantes da recente investida com os Melvins, e a versão acústica de '20 Minutes/40 Years', encerra da melhor forma estas quase duas horas de música, com belíssimos momentos, agradáveis surpresas e a certeza que o mundo ainda precisa dos Isis. (16.5/20)

English:
We were all caught by surprise when, in 2010, Isis decided to put an end to their career, shortly after the release of a successful 'Wavering Radiant', successor of giants like 'Celestial', 'Oceanic' or 'In The Absence Of Truth', albums that defined the main lines of a musical style which is popularized under the name of post-metal.
Well, the orphans passed a long time licking their wounds, crying snot and drool, but at the same time taking refuge in inspiring and substitutes, a comfort now enhanced with new releases of Neurosis and Amenra, respectively.
'Temporal' comes to show that Isis should not be forgotten, cannot be analysed as an epiphenomenon which is swept away from our minds after its demise as a simple delete. These 14 songs that make up this compilation (far from being merely a best of, in its most simplistic line), are demos, remixes, unreleased tracks and other less accessible songs until now (plus a DVD with their videography) that, at first glimpse, seem strayed, but a slightly more careful analysis shows a fairly interesting one for followers of the band and a great card for those who only now take contact with the band. The demos, with their changes faced to the final versions, listen up 'Ghost Key' here without voice or 'Carry' with different guitar lines, probably are the less interesting point. However, the highlight of the first disc goes for the immense 'Grey Divide', 16 minutes punctuated by a solid rhythm but simple, on which the guitars grow, unravelling melodies that wrap us; they rest after a few minutes, turning into a sweet lullaby and then returns, sublime; the assets were not all played.
In the second half of this release, 'Streetcleaner' of Godflesh and 'Hand of Doom', from Black Sabbath’s classic ‘Paranoid’, demonstrates the breadth of musical references brought into the bosom of the collective. This two covers have seen the light of day in the late-90s, but are really quite competent and took the proper treatment to fit on Isis sound. The remixes do not bring anything new or exciting and 'Temporal' is in the action line of Aaron Turner and Co...The final stretch with "Way Through Woven Branches ',' The Pliable Foe ', resulting from the recent onslaught with the Melvins, and the acoustic version of '20 Minutes/40 Years', closes with gold these nearly two hours of music, with beautiful moments, pleasant surprises and the certainty that the world still needs Isis. (16.5/20)


Tracklist:
01. Threshold of Transformation (demo)           01. Streetcleaner (Godflesh cover)
02. Ghost Key (alternate demo version)             02. Hand of Doom (Black Sabbath cover)
03. Wills Dissolve (alternate demo version)      03. Not in Rivers, But in Drops (Melvins/Lustmord remix)
04. Carry (demo)                                                      04. Holy Tears (Thomas Dimuzio remix)
05. False Light (demo)                                           05. Temporal
06. Grey Divide (demo)                                          06. Way Through Woven Branches
                                                                                    07. The Pliable Foe
                                                                                    08. 20 Minutes/40 Years (Acoustic version)




terça-feira, 27 de novembro de 2012

Dead Rooster - Witches Of Belial

Formados em Buenos Aires, há um par de anos, os Dead Rooster apresentam-se ao mundo com 4 temas de doom metal bem cru, com alguns toques de drone, mas com uma visceralidade bem negra.
Assim, à primeira vista, a sonoridade deste trio assemelha-se à junção de riffs de Black Sabbath + negrura de uns Celtic Frost + psicadelismo dos Ufomammut, resultando num conjunto de ritmos bem lentos e pesados aliados guitarras sujas e baixos ultra-distorcidos, tudo junto num ambiente a pender para o fétido e enevoado.
Sem ser um lançamento de charneira, estamos perante uma cartão de visita interessante, que peca por algum monocordismo na estrutura e abordagem aos temas. Mas esperemos que os lançamentos futuros nos surpreendam. E parece que não vai ser preciso esperar muito para escutarmos novidades.
Uma celebração ao grande bode, à qual podem juntar-se gratuitamente.


Tracklist:
01. Order of the Frostsnake
02. Cosmis Seeds of Uncreation
03. Night of the Usurper
04. Goddess of Progeny and Destruction


Link: http://www.deadrooster.com.ar/
         http://deadroosters.bandcamp.com/
         http://www.facebook.com/pages/Dead-Rooster/111919282175138


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Ufomammut - Oro:Opus Primum/Oro: Opus Alter

O lento crescendo de 'Empireum' vai inundando a nossa sala e tomando conta dos sentidos, numa toada hipnótica, marcando o regresso da banda de Tortona aos discos, após o incontornável 'Eve', uma obra maior na discografia dos Ufomammut.
'Oro: Opus Primum' entra assim, de mansinho com mais uma mão cheia de temas que, certamente, nos irão colocar à prova, pois nem tudo é imediato, linear e muito menos simples na sua música.
Há pontos de contacto com o seu antecessor e até ao final do tema de abertura isso parece-nos claro, mas é com 'Aureum' que as coisas começam a tomar rumos ligeiramente diferentes e, ao mesmo tempo, um pouco difusos, uma neblina que se vai instalando e não nos permite vislumbrar que caminho querem seguir. As malhas não são desgarradas, perdidas, desconexas, mas sente-se a necessidade de fugir à cópia e comparação com o passado. Os temas fluem, os ritmos lentos, secos e duros e a repetição quase até à exaustão estão lá; os efeitos, samples e vozes minimais fazem o seu trabalho. Tudo isto corresponde a um peso colossal, como já é hábito, mas fica a sensação de alguma descontinuidade que só é suprimida com 'Oro: Opus Alter', que chega uns meses mais tarde. (13.8/20)
Não, não estamos perante o irmão gémeo de 'Opus Primum', mas antes a sua continuação. A par do pormenor de um claro jogo de palavras presente nos títulos destes cinco novos temas, verifica-se um pormaior, ou seja, uma abordagem mais directa, com riffs monolíticos avassaladores (a recta final de 'Oroborus' é de nos pôr em sentido), sem perdas de tempo com «esquisitices», sem tornar as coisas demasiado cerebrais, mas mantendo uma interligação entre os andamentos, conferindo-lhe uma dimensão mais próxima comparativamente ao seu passado recente. Orgânico e visceral, talvez sejam os adjectivos que melhor se adequem para definir este novo conjunto de «orações», sem deixar de destacar 'Sulphurdew' e a já referida 'Oroborus', momentos de maior inspiração, evocativos da grande qualidade que esta banda tem e da sua capacidade para escrever paisagens sonoras demolidoras.
Muito se tem escrito acerca do timming de lançamento destes dois registos, mas independentemente dessa lana caprina importa salientar que, embora diferentes em algum do seu conteúdo, conjugados, 'Opus Primum' e 'Opus Alter' não infligem mácula no som dos Ufomammut, cimentando a sua posição de destaque no panorama da música extrema.
Agora, ouçam tudo de uma assentada, bem alto, e fiquem com a cabeça a andar à roda. (16.3/20)

English:
The slow growing of 'Empireum' is flooding our room and taking control of the senses, with an hypnotic tune, marking the return of Tortona`s band to records, after the unavoidable 'Eve', a foremost work in the discography of Ufomammut.
'Oro: Opus Primum' comes so softly over a handful of tracks that certainly will test us, because everything is not quiet immediate, linear and much less simple in their music.
There are points of contact with his predecessor and it seems clear to us until the end of the opening theme, but with 'Aureum' things start to take slightly different paths and at the same time, a little fuzzy, a fog that is installing and will not allow us to discern which path they want to follow. The tracks are not stray, lost, disconnected, but feels the need to escape to copy and comparison with the past. The tunes flow and all the slow rhythms, dry and hard and almost repeated until exhaustion are there; effects, samples and minimal voices do their job. All this represents a colossal heaviness, as has become customary, but gets the feeling that some discontinuity is only suppressed with 'Oro: Alter Opus', which comes a few months later. (13.8/20)
No, we are not facing the twin brother of 'Opus Primum', but rather its extension. Alongside the detail of a clear game of words present in the titles of these new five tunes, there is a much more direct approach, with overwhelming monolithic riffs (the final run of 'Oroborus' put us unwinking ) without wasting time with 'oddities', without making things too intellectual, but maintaining a connection between the movements, giving them a closer dimension comparatively to its recent past. Organic and visceral, these adjectives are perhaps well-suited to define this new set of "prayers", while highlighting 'Sulphurdew' and the abovementioned 'Oroborus', moments of special inspiration, evocative of the great quality of this band and their ability to write devastating soundscapes.
Much has been written about the timing of release of these two records, but regardless of this wool goats what really matters, although some difference in some of its content, combined, 'Opus Primum' and 'Opus Alter' do not inflict any stain in the sound of Ufomammut, cementing its position in the extreme music scene.
Now listen all at once, loud, and stay with your head to spin. (16.3/20)


Tracklists:

                               Oro: Opus Primum                  Oro: Opus Alter
                               01. Empireum                          01. Oroborus
                               02. Aureum                               02. Luxon
                               03. Infearnatural                      03. Sulphurdew
                               04. Magickon                            04. Sublime
                               05. Mindomine                         05. Deityrant






Links: http://www.ufomammut.com/
            http://www.facebook.com/pages/UFOMAMMUT/83336386071
            http://www.youtube.com/user/malleusdelic

domingo, 11 de novembro de 2012

Abske Fides - Abske Fides

Há quase uma década que os Abske Fides andam a espalhar negrura num país que pouco ou nada deve a essa cor, o Brasil. Após uma abordagem, na sua demo de estreia, mais virada para o black metal de tons depressivos, seguiram-se dois EPs que tinham como mote o funeral doom. Três anos depois de 'Disenlightment', eis o primeiro longa-duração, auto-intitulado, que marca mais uma variação na orientação musical da banda. Agora, prevalece uma abordagem aos temas na linha do death/doom em deterimento das toadas mais funéreas. Isso é bem evidente na faixa de abertura 'The Consequence Of The Other', que na parte final contém uma voz feminina a dar um toque mais belo a esta entrada..
A primeira metade do álbum segue esta linha, numa abordagem quase clássica, a que não faltam o jogo entre growls e vozes limpas e passagens mais agrestes e outras mais contemplativas. 'Aesthetic Hallucination of Reality', incluído no último EP da banda, embora numa versão um pouco mais longa, marca o início de uma perda de rumo da banda, que vai do funeral doom até momentos mais uptempo no mesmo tema, entrando, depois, por caminhos que nos levam ao post-rock de uns Sigur Rós, por exemplo; 'Embroided In Reflections' talvez seja o melhor exemplo.
Não há aqui temas mal executados, mas a falta de um fio condutor é bem notória, fazendo com que este álbum não seja mais do que um conjunto de temas agrupados, sem fazerem grande sentido no cômputo final. O que é uma pena. (11/20).

Tracklist:
01. The Consequence of the Other 
02. Won't You Come
03. The Coldness of Progress
04. Aesthetic Hallucination of Reality 
05. 4.48
06. Embroided in Reflections



Link: http://abskefides.bandcamp.com/
         http://solitude-prod.com/

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Neurosis - Honor Found In Decay

É já na recta final de 2012 que é lançado um dos álbuns mais aguardados do ano. A expectativa sobre o sucessor de 'Given To The Rising' era enorme; afinal estamos a falar de uma das bandas mais importantes dos últimos 20 anos, no espectro da música pesada (e, atenção que pesada, para o caso concreto do colectivo de Oakland, está bem para além do que a mera música).
Os primeiros 60 minutos de contacto com esta nova proposta foram estranhos, na verdade. 'We All Rage In Gold' até nos transporta para aquele ambiente do seu antecessor, mas volvidos alguns minutos nota-se ali algo diferente. E essa sensação prolonga-se pelos seis temas seguintes. "Que raio! Sensaborão!", é a nossa exclamação após o impacto. Mas, o facto, é que há discos que crescem com o tempo, com a aturada atenção que lhes dispensamos e o entendimento, que julgamos obter, do que se pretende a cada lançamento por parte da banda. 'Honor Found In Decay' é, de certo modo, diferente - não no sentido de quebra da repetição -, mais maduro; é o álbum que se faz quando é atingido um determinado patamar, o da excelência entenda-se, e tudo o que se tem para a oferecer está ali, despido na simplicidade, honestidade e savoir faire; em suma, a grandeza. 'My Heart For Deliverance' e 'Casting Of The Ages' poderão ser dos melhores exemplos disso mesmo.
Ao fim de uma boa dezena de audições, vemos o décimo primeiro longa-duração dos Neurosis sob outro prisma: não o do imediatismo e da continuidade, mas sim a busca de algo maior. Não é um resumo nem o baralhar e voltar a dar. É aquilo que não se consegue explicar, mas está ali tão escancarado naqueles sons e palavras. (18/20)

English:
It is now in the final stretch of 2012, which is released one of the most anticipated albums of the year. The expectation on the successor of 'Given To The Rising' was huge; after all, we are talking about one of the most important bands of the last 20 years, in the spectrum of heavy music (and attention that «heavy», to the case of the collective from Oakland, is well beyond from what is simple music).
The first 60 minutes of contact with this new proposal were strange indeed. 'We All In Rage Gold' transports us to the atmosphere of its predecessor, but a few minutes ware we note there is something different. And this feeling extends during the following six tracks. "What the hell! Tasteless!", it is our exclamation after the impact, but, the fact is there are records that grow over time, with devoted attention we dispense to them and the comprehension, which we think obtained, of what is desired by each release of the band. 'Honor Found In Decay' is somehow different - not in the sense of breaking the repetition of the formula -, more mature, the album is what you do when a certain threshold is reached, the excellence one, and all that has to offer is there, naked in simplicity, honesty and savoir faire; in conclusion, greatness. 'My Heart For Deliverance' and 'Casting Of The Ages' may be the best examples of this.
After a good dozen hearings, we see the eleventh album of Neurosis in a different perception: not the immediacy and continuity, but the pursuit of something greater. It is not a summary or the shuffling and giving back. It's what you can not explain, but there is so barefaced in those sounds and words. (18/20)

Tracklist:
01. We All Rage In Gold
02. At The Well
03. My Heart For Deliverance
04. Bleeding The Pigs
05. Casting Of The Ages
06. All Is Found... In Time
07. Raise The Dawn