quarta-feira, 24 de novembro de 2010

The Sullen Route - Madness Of My Own Design (2010)

Após os primeiros segundos de "Dagon", não foi possível deixar de pensar se não tínhamos recuado cerca de 20 anos e estávamos no epicentro de toda uma cena que começava a despontar, onde toda a gente já estava saturada de bandas ultra-rápidas e brutais, com temas disparados à velocidade da luz; o Doom/Death Metal entrava em cena e arrastava uma boa quantidade de metalheads na sua torrente pesada e pesarosa. Ainda presente, mas menos caudalosa, esta mesma torrente continua a trazer à tona algumas boas propostas.
De facto, tal como à uma vintena de anos na Inglaterra, na Rússia existe uma "cena" muito própria, com o seu som definido, dentro da sonoridade Doom. Ao longo deste ano, foi possível verificar que estamos perante uma área crescente e criativa, que dá cartas, principalmente, no mercado europeu.
Neste conjunto de propostas, surge-nos pela mão da Solitude Productions, o trabalho de estreia dos The Sullen Route e, tal como escrevemos no início deste texto, é uma autêntica bomba de peso, devastação e angústia, tudo apresentado em bases rítmicas bem lentas, com guitarras bem lancinantes e duras, ou seja, uma óptima escolha para os amantes deste género. Estes oito temas vão beber, descaradamente - e bem! -, aos anos 90, a fontes como Skepticism ou ao trio Anathema/My Dying Bride/Paradise Lost na sua fase inicial, conseguindo criar bons temas, de entre os quais "Dagon", "Gates" ou "Sullen Route" são bom exemplo disso mesmo. Actualmente, o seu som andará perto de projectos como Mourning Beloveth, Evoken ou mesmo dos portugueses Process Of Guilt, só para terem uma noção do que espera quem se atrever a colocar à frente desta massa enorme de peso.
Foi uma agradável surpresa esta estreia deste quinteto, lançando um excelente trabalho, deixando-nos com água na boca para uma actuação ao vivo ou então para novos registos. Digno de registo, portanto! (17/20)

English:
After the first few seconds of "Dagon", we could not help wondering if we had retreated about 20 years and we were at the epicenter of an entire scene that was beginning to dawn, when everyone was already saturated of bands ultra-fast and brutal with issues raised at the speed of light: the Doom/Death Metal came on the scene and drew a good amount of metalheads in their heavy and sorrowful flood.
Still present, but less plentiful, the same stream continues to bring out some good proposals.
In fact, as to a score of years in England, in Russia today there is a "scene" of their very own, with its definite sound within the sound Doom. Throughout this year, it was verified that this is a growing and creative area, giving cards, mainly in the European market.
In this set of proposals, comes to us by the hand of Solitude Productions, the debut work of The Route Sullen and, as we wrote earlier is a real bomb weight, devastation and anguish, all presented in very slow rhythmic bases with guitars and piercing and hard, that is, a great choice for lovers of this genre. These eight themes will drink, shamelessly - and well! -, to 90’s decade, from sources like Skepticism as to the trio Anathema/My Dying Bride/Paradise Lost in its early stages, managing to create good themes, including "Dagon," "Gates" or "Sullen Route" that are good examples of this. Today, their sound walk around with projects like Mourning Beloveth, Evoken or even the Portuguese Process Of Guilt, just to get an idea of what it hopes those who dare to put in front of this huge mass of weight.
It was a pleasant surprise this debut of the quintet, releasing an excellent work, leaving us salivating for a live performance or so for new records. Noteworthy, therefore! (17/20)



Link: http://www.myspace.com/thesullenroute
         http://solitude-prod.com/

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Salome - Terminal (2010)

Se existisse uma banda-sonora para uma brutal cena de pancadaria, mas em slow motion, de um qualquer filme série B ou C, certamente que os temas dos Salome estariam em cima da mesa prontos para serem escolhidos. O Sludge corrosivo, empoeirado e agreste adicionado aos ritmos lentos e doridos do Doom, fazem desta proposta uma mistura bem conseguida e que serviria na perfeição o propósito referido.
Os primeiros momentos não fazem adivinhar o que está para chegar; antes, parecem fazer parte de um álbum de Post-rock ou uma parte experimental de uma banda qualquer que transpire psicadelismo por todos os poros. No entanto, sem nada que o espere ou denuncie, eis que a bateria de Aaron Deal e a guitarra de Rob Moore irrompem sem qualquer tipo de permissão, juntando-se logo a seguir Katherine Katz com a sua voz demoníaca, para durante a hora seguinte nos abalroarem em sete actos.
A dureza dos riffs e a simplicidade dos ritmos continuam a marcar aqui presença, no seguimento da estreia homónima de 2008, embora se note um mais refinado trabalho de guitarra, conferindo um outro aspecto a estas composições. A voz de Katz continua a ser expelida como que sob estado de tortura ou então de possessão demoníaca, tal a visceralidade dos seus gritos e growls. Impressionante e irrepreensível. Resta comprovar ao vivo.
Os temas continuam a ser bastante longos, variando entre os 6 e os 17 minutos, embora no caso deste último estarmos perante um exercício instrumental de Noise cruzado com Drone - situação que acaba por permitir dar algum descanso antes dos últimos dois momentos que compõem este álbum. Longos, mas não enfadonhos, com estruturas dinâmicas embora exista uma reduzida variação rítmica, mas que conferem uma coesão entre todas as músicas bastante assinalável, permitindo que a degustação se prolongue até ao final deste trabalho.
Superando, claramente, o seu primeiro disco, os Salome com este "Terminal" têm boas hipóteses de se tornarem uma das propostas de referência no segmento Sludge/Doom, restando-nos esperar por mais novidades vindas do outro lado do oceano. (15/20)

English:
If there were a soundtrack to a scene of brutal beatings, but in slow motion, of any movie series B or C, certainly the theme of Salome would be on the table ready to be picked. The corrosive Sludge, dusty and harsh rhythms added to the slow and painful doom, makes this proposal and the mixture achieved a nice goal which would serve that purpose perfectly.
The first moments do not guess what's to come, rather, appear to be part of an album of post-rock or an experimental part of any band that leak out psychedelia from every pore. However, nothing that you wait or withdraws, behold, Aaron Deal of the battery and the guitar of Rob Moore blow up without any permission, joining shortly after Katherine Katz with his demonic voice to us for the next hour rammed in seven acts.
The hardness of the simplicity of the riffs and rhythms are still here scoring presence, following the debut release from 2008, although we note a more refined guitar work, giving another feature to these compositions. Katz's voice continues to be expelled as that under a state of torture and then demonic possession, so are their visceral screams and growls. Impressive and perfect. It remains to show live.
The themes continue to be quite long, ranging between 6 and 17 minutes, although in the latter case we are facing a financial instrument crossed with Noise and Drone - a situation that ultimately enable us to give some rest before the last two moments that make this album . Long but not boring, although there is dynamic structures with a reduced rhythmic variation, but they bring a cohesion between all the songs very wide, allowing the taste will last until the end of this work.
Overcoming clearly his first album, the Salome with this "Terminal" have a good chance of becoming one of the proposed reference segment Sludge / Doom, leaving us to wait for more news from across the ocean. (15/20)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Electric Wizard - Black Masses (2010)

Três anos depois do reencontro com os bons discos, através do lançamento de "Witchcult Today", os britânicos Electric Wizard regressam neste final de ano com "Black Masses".
Este novo registo da banda liderada por Jus Oborn e Liz Buckingham, apresenta-nos mais oito temas que percorrem as tradicionais paragens (ou será melhor viagens?) a que o colectivo nos tem habituado ao longo de quinze anos de carreira, ou seja, Stoner/Doom Metal com uma forte propensão para a introdução de elementos mais psicadélicos, um som bafiento, um cenário enevoado pelo denso fumo que povoam sempre estes registos e histórias onde imperam as drogas, o oculto e o horror.
Missão difícil esta de suceder ao melhor trabalho depois de "Dopethrone", portanto.
A fórmula aqui empregue não foge aos ditames que já conhecemos; o que aqui temos é, na realidade, uma mistura do que Oborn foi criando, aqui numa espécie de "baralha e volta a dar". Os temas acima da média não são coisa rara: o tema que dá título a este registo, a que se segue "The Nightchild" ou a mais experimental "Satyr IX" provam isso mesmo; a capacidade de escrever grandes temas continua incólume; no entanto, essa qualidade não se espalha por todo o trabalho, encontrando-se aqui e ali alguns fillers, "Venus In Furs" e "Turn Off Your Mind", por exemplo, não garantindo o mesmo impacto que "Witchcult Today" teve (embora o contexto também seja bem diferente, ressalve-se esse ponto), para além de uma homogeneidade mais palpável que assegurou um ressurgimento em grande deste colosso.
Muito longe de poder ser visto como um trabalho menor na discografia da banda, "Black Masses" acaba por juntar o que muito bem e menos bem foi fazendo durante estes anos, resultando num álbum que será tolerado facilmente pelos seus seguidores e uma faca de dois gumes para quem prestar o primeiro contacto com este projecto. Mas a música tem destas coisas e resta-nos aproveitar a qualidade que emana ali para os lados de Dorset. (13/20)

English:
Three years after the reunion with good records, by releasing "Witchcult Today", the British Electric Wizard are returning this season with "Black Masses".
This new recording of the band led by Jus Oborn, and Liz Buckingham, presents us eight songs that run through the traditional stops (or should one travel?) that the collective has accustomed us over fifteen years of career, of Stoner/Doom Metal with a strong propensity for the introduction of the most psychedelic, sound stale, a misty landscape by dense smoke that populate these records and stories always prevail where the drugs, the occult and horror.
Difficult this mission to succeed to the best work after "Dopethrone" therefore,
the formula used here does not escape the dictates that we already know, what we have here is actually a mixture of what Oborn was created here a sort of "shuffling and giving back." The topics above the average are not rare thing: a theme that gives title to this record, the following "The Nightchild" or the more experimental "Satyr IX" prove it, the ability to write great themes has survived, however that quality does not spread throughout the work, and there is some fillers here and there, "Venus In Furs" and "Turn Off Your Mind," for example, not guaranteeing the same impact as "Witchcult Today" had (although the context is also very different, it is emphasized that point), in addition to a more tangible, which ensured homogeneity a major resurgence in this colossus.
Very far from being seen as a minor work in the discography of the band, "Black Masses" eventually join that very well and was doing less well during these years, resulting in an album that is easily tolerated by his followers and a knife from two edged sword for those who provide the first contact with this project. But the song has these things and we can only enjoy the quality that emanates from there to the side of Dorset. (13/20)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Entrevista a Howie Bentley (Briton Rites)


Entrevista exclusiva com Howie Bentley, mentor dos Briton Rites, que lançaram um dos álbuns mais marcantes deste ano, intitulado "For Mircalla". O nosso interlocutor foi Tony Hopkins, que esteve à conversa sobre este projecto, literatura e sobre os Cauldron Born.

Vários anos passaram desde a dissolução dos Cauldron Born . O que é que tens feito desde então?

Quando os Cauldron Born terminaram, eu parei de tocar guitarra por alguns anos, para além de dar aulas. Virei as mãos para a escrita de ficção original, mas percebi que não era muito bom nisso nem tinha aptidões para esse tipo de escrita. Estar parado sem estimular a minha criatividade, foi agravando o meu estado de espírito, por isso não demorou muito para eu voltar à música.

Objectivamente falando, a banda Briton Rites é o teu "novo" projecto. Gravaste e lançaste o primeiro álbum da banda intitulado “For Mircalla”, bastante recentemente. O que te fez acordar da tua inactividade em termos musicais?

Embora eu tenha parado de escrever música, nunca parei de ouvir Heavy Metal. Fui acossado pelo Doom há alguns anos atrás. Li algures, que um dos membros dos Candlemass (uma das minhas bandas favoritas), estava a ter um bom desempenho, numa banda chamada Reverend Bizarre. Ouvi o álbum “Crush The Insects” e a influência dos Black Sabbath foi notória e teve um impacto bastante grande em mim. Um dos membros da banda, na parte de trás da capa do álbum tinha vestida uma camisola da banda Witchfinder General. Fiquei saudosista, pois esta foi uma das minhas bandas favoritas no início dos anos 80. Fui buscar os álbuns de Witchfinder General, que tinha guardados e comecei a ouvi-los novamente. Este facto, também me fez recordar que os Black Sabbath são indissociáveis do Ozzy. Comecei então, a ouvir todos os álbuns antigos de Sabbath. Sempre fui um fã das duas bandas e senti que as estava a redescobrir

Dei comigo a ouvir álbuns antigos de Heavy Metal britânico, próximo das comemorações do Halloween. Por esta altura, também estava a ler uma história de terror, escrita por Joseph Sheridan Le Fanu, intitulada “Carmilla”. Acabou por tocar-me bastante e provocar em mim o desejo de escrever algumas músicas na tentativa de conseguir capturar o tipo de atmosfera que Le Fanu tinha criado com essa obra. Com toda esta envolvência, tive um daqueles momentos de inspiração. Foi então que eu tive a ideia de formar os Briton Rites.

Qual foi a reacção/aceitação do álbum?

Até agora as respostas têm sido positivas. Tem havido uma boa aceitação. Muitos fãs de Doom Metal consideraram-no o melhor álbum de 2010. Foi considerado o álbum do mês por uma das maiores revistas de Heavy Metal Alemã, a Heavy.

Consideras que o álbum teria conseguido uma aceitação semelhante, se lançado há uma década atrás, ou na década de 90? Talvez este seja um indicativo de como os fãs de Metal têm mudado ao longo dos anos?

Não. Há um interesse muito maior pelo Metal agora, do que havia há dez anos atrás. Durante os anos 90 o Metal era um tabu. Eu acho que se tornou mais aceitável, porque agora as pessoas estão mais expostas a este estilo musical através da internet. A internet é uma faca de dois gumes, porém, torna o mundo mais acessível, nomeadamente a música, que tende a perder seu impacto, assim como todos os downloads gratuitos.

Descreveste Black Sabbath e Witchfinder General como as principais influências na tua composição para este álbum e mostra definitivamente, que os tempos das faixas são lentos e os riffs são enormes. Dito isto, de alguma forma vês os Briton Rites como uma versão moderna do Doom Metal ou um tributo aos deuses da escuridão? Qual foi a tua intenção ao escrever esta colectânea de canções?

Quando iniciei este projecto, eu não tinha intenções de reinventar a “roda”, no que diz respeito ao Doom Metal. O Doom Metal tradicional é apenas isso para mim. Eu estou basicamente a fazer uma homenagem ao antigo Metal britânico, enquanto coloco a minha própria marca sobre ele.

Acreditas que as qualidades fundamentais do Doom Metal e a própria sonoridade são levados em conta pelas bandas de hoje em dia?

Talvez, para algumas bandas. Acho que a maioria dos músicos que se dedicam ao Doom não são assim tão bons. Presta atenção a bandas como Sabbath, Trouble ou mesmo os Pentagram e vê a musicalidade que integram, a música que fazem, em seguida, ouve outro tipo de bandas e vais perceber o que eu quero dizer. Eu acho que algumas bandas levam demasiado a peito o minimalismo no Doom.

O novo álbum pode parecer um tanto idiossincrático em relação a ti, assim como para alguém que conheça o teu trabalho passado; o trabalho de guitarra mostra muito menos influências de Malmsteen, em que as pessoas poderiam vir a associar neste trabalho com a tua antiga banda. Os riffs mais lentos, presentes neste trabalho, têm a ver só com uma questão de estilo ou este álbum é simplesmente um trabalho que mostra um lado de Howie Bentley que não conhecíamos?

Eu sempre gostei de Doom Metal. Em algumas músicas dos Cauldron Born, estão presentes elementos de Doom, como por exemplo na faixa “Unholy Sanctuary”, mas isto é considerado mais Doom Épico (mais ao estilo de bandas como Candlemass ou Solitude Aeturnus), ao contrário do Doom Tradicional de Briton Rites. Comecei a ouvir Black Sabbath muito cedo em 1981. O Doom Tradicional é uma das vertentes que mais gosto dentro do Heavy Metal.

Alguns riffs de guitarra baixo presentes neste álbum foram tocados por ti. Os preenchimentos são de bom gosto e numerosos, muito parecidos aos de Geezer Butler. Será que ele te inspirou nesta tua abordagem?

Sim, o Geezer Butler é uma grande influência no meu modo de tocar baixo. Lembro-me de passar por uma fase na minha adolescência, em que tive que tomar uma decisão muito séria, definir o rumo que queria para a minha vida em termos musicais, tocar guitarra ou tocar guitarra baixo. Eu tinha Randy Rhoads e Geezer Butler, de um lado e Steve Harris do outro. Geezer, Steve Harris e Timi Hansen. Estes são os meus três baixistas favoritos.

O vocalista Phil Swanson, dos Hour Of 13 e Seamount, foi convidado para fazer a gravação das vozes para este registo. Como é que ele acabou por se envolver neste projecto?

Inicialmente, era eu que iria fazer todas as vozes do álbum, mas um casal de amigos sugeriu que eu ouvisse o Phil Swanson, dos Hour Of 13. Quando eu ouvi o Phil, percebi que ele era a pessoa indicada  para dar vida às minhas letras. Ele tem essa qualidade "de bruxa" na sua voz e encaixa perfeitamente na minha música. Perguntei-lhe se estava interessado em participar no meu projecto ao que ele respondeu prontamente que sim. Funcionou perfeitamente e foi óptimo trabalhar com ele.

Ao ouvir a faixa final do álbum, "Karnstein Castle", fiquei surpreso quando descobri uma voz diferente, que não era a de Phil Swanson ; então fui ler o booklet e descobri que eras tu a fazer essa voz! O que te levou a fazer isso?

Bem, como eu disse, já tinha planeado inicialmente fazer todas as vozes no álbum. Aquela era uma música muito especial para mim por isso queria ser eu a participar nela originalmente. O Phil não levantou qualquer tipo de problema.

E quanto ao grito muito à King Diamond no final da música? Isso foi inesperado!

Isso simplesmente aconteceu. Eu realmente também não o esperava. Acho que são apenas algumas influências enraizadas em mim.

Richard L. Tierney, autor de “Sword And Sorcery”, concedeu-te permissão para usares o seu poema"All-Hallowed Vengeance"  e o adaptares à música. Como se proporcionou esta colaboração? O que achou ele da ideia do Heavy Metal tornar-se a trilha sonora dos seus escritos?

O Richard Tierney é um dos meus autores favoritos. Entrei em contacto com ele há cerca de sete anos atrás. Eu e ele começámos, desde então, a falar regularmente. Enviou-me um poema há já algum tempo e sugeriu que eu deveria defini-lo como música. Era um poema bem-humorado e inteligente, ao que lhe disse que realmente não iria colocar na minha música, todos os elementos humorísticos nele presentes, mas que gostaria de usar muita da sua poesia para a música. Ele disse-me que eu poderia usar qualquer um dos seus poemas e adaptá-los à minha música. Claro, eu fiquei muito satisfeito com isso. Considero-o um grande poeta, junto com Robert E. Howard e Clark Ashton Smith. O Richard costuma ouvir música clássica, por isso é provavelmente um pouco estranho para ele, ouvir as suas letras neste tipo de contexto musical, mas tenho a certeza que não é de todo fora do seu agrado.

Recentemente adquiri a nova colecção de poesia do Richard intitulada “Savage Menace” e vi que os Briton Rites foram citados na bibliografia como tendo gravado "All Hallowed Vengeance", o que me fez “ganhar o dia”.

Citaste há bocado, a obra de 1872, “Carmilla”, de Joseph Sheridan Le Fanu e Hammer Film Productions, com três filmes de vampiros, como a principal fonte de inspiração por trás do presente tema distinto gótico, que paira nas letras do teu album “For Mircalla”. O trabalho H. P. Lovecraft e de Robert E. Howard parecia ser o fornecedor de inspiração dos principais temas líricos dos Cauldron Born. Há alguns conceitos actualmente do teu interesse, de origem literária, cinematográfica ou outros, que gostarias de adaptar para música, num trabalho futuro?

Há tantos, que eu não sei como é que os poderei usar todos. Também tenho uma história que escrevi sobre a mascote dos Cauldron Born (Thorn). Estou a pensar em utilizá-la para fazer futuramente um álbum.

O artista Lionel Baker, que criou obras de arte para projectos como os Saint Vitus, Chastain, Griffin, Vicious Rumors, e para a tua anterior banda Cauldron Born, é responsável pelo desenho e pintura à mão da capa deste álbum. Deste-lhe instruções para a produção da capa do álbum? O que achas do resultado final?

Costumo dizer, que eu visualizo e ele traduz a minha visualização em pintura e pinta da forma como ele a vê. O Lionel, geralmente, faz um trabalho melhor, quando eu não sou muito detalhado na minha descrição. Eu realmente gostei do seu trabalho e acho que a capa do álbum dos Briton Rites ficou bem.

Lançaste o “For Mircalla” por tua conta e risco, pela editora Echoes Of Crom Records. O que esperas desta nova etapa? Gostarias de deixar alguma mensagem aos nossos leitores?

O meu objectivo inicial, era apenas lançar a minha própria música pela Echoes Of Crom Records. Conheci e ouvi uma banda oriunda da Sibéria, de seu nome Blacksword e tomei conhecimento que o seu álbum de estreia seria lançado por esta mesma editora, a 22 de Agosto. Esta banda tem o seu próprio estilo, aquilo a que chamamos USPM (United States Power Metal). O álbum intitula-se “ The Sword Accurst “ e irá agradar com certeza aos fãs do início da era de Dickinson dos  Iron Maiden, os Sanctuary, Cauldron Born e o amplo “Jag Panzer”, álbum dos Destruction.

Que bandas assinaram pela editora até ao momento? É possível fazeres uma referência à sua actividade?

Até agora, as únicas bandas que assinaram pela Echoes Of Crom Records somos nós, Briton Rites e os Blacksword. Há por aí mais algumas bandas que me suscitam interesse a nível profissional. Também penso em lançar um novo álbum dos Cauldron Born no próximo ano.

O que reserva o futuro para os Briton Rites? Existem planos para tocar ao vivo? Tenho também conhecimento que já escreveste e projectaste o segundo álbum!

Um dos objectivos é lançar pelo menos três álbuns com esta banda. Poderão surgir mais, mas por agora eu só tenho dois planeados. Quanto aos concertos ao vivo, eu estou disposto a fazê-lo se o Phil também estiver interessado em participar neles comigo, contudo se tocarmos ao vivo em festivais terão de ser os promotores a suportar as despesas.

Quanto ao segundo álbum já o tenho escrito e projectado. Neste momento estou a tentar conciliar as duas bandas, Briton Rites e Cauldron Born.

Claro que eu não poderia deixar de mencionar os Cauldron Born! Qual é a situação actual da tua antiga banda? Declaraste recentemente que estavas em conversações com David Louden (vocalista da banda …And Rome Shall Fall), com vista a gravar novo material, mais pesado, para os Cauldron Born.

Parece-me que o lançamento de um EP dos Cauldron Born será uma realidade. Esperamos que seja lançado até ao final do ano pela Echoes Of Crom Records.Tenho estado em estúdio a trabalhar em algumas demos de canções em bruto. Na altura devida, irei fazer um anúncio formal sobre este lançamento, no nosso site.


English:
(Interview conducted by Tony Hopkins)
Several years have passed since Cauldron Born disbanded. What have you been up to since then?

When I disbanded Cauldron Born back in 2003, I stopped playing guitar for a few years, aside from teaching lessons. I tried my hand at writing original fiction, but I wasn’t very good at it. Being without a creative outlet was aggravating me, so it wasn’t long before I came back to music.

Relatively speaking, Briton Rites is your “new” brainchild. You recorded and released the band’s first album For Mircalla fairly recently. What awoke you from your musical slumber?

Although I had stopped writing music, I never stopped listening to heavy metal.  I got on a big doom kick a few years back. I read somewhere that one of the guys in Candlemass (one of my favorite bands) was really high on a band called Reverend Bizarre. I picked up Reverend Bizarre’s Crush the Insects album, and the Black Sabbath influence hooked me. One of the band members on the back of the Reverend Bizarre album was wearing a Witchfinder General shirt and that got me missing Witchfinder General, an old favorite of mine from way back in the early ‘80s. I dug out my Witchfinder General albums and started listening to them again, and in turn, this reminded me of early Ozzy-era Sabbath. So, I started listening to all of the old Sabbath albums again. I was always a fan of those two bands, but I was rediscovering them.

I was listening to those old British heavy metal albums, and it was just a few weeks before Halloween. I was reading Joseph Sheridan Le Fanu’s Gothic Horror novella Carmilla and it made such an impression on me that I had to write some music in an effort to try to capture the sort of atmosphere that Le Fanu created with Carmilla. I was carving a jack-o-lantern for Halloween, and all of a sudden I had one of those moments of inspiration. It was then that I got the idea to form Briton Rites.

What has the initial response been to the album?

So far, so good.  A lot of doom fans have been saying it is the best album of 2010.  It was the album of the month in one of Germany’s biggest heavy metal magazines, Heavy.

Do you think you would have gotten a similar reaction had you released the album a decade ago, or in the 90s? Perhaps this is indicative of how metal fans have changed over the years?

No. There is a lot more interest in heavy metal now than there was even ten years ago. Back in the '90s "metal" was taboo. I think it has become acceptable now because more people are exposed to it through the internet. The internet is a double-edged sword though, because even though it has exposed more people to metal, it has also made everything so accessible that it tends to lose its impact, as well as all of the free downloading.

You've described Black Sabbath and Witchfinder General as primary influences on your songwriting for this record and it definitely shows; the tempos are slow and the riffs are massive. That said, do you see Briton Rites as a modern take on doom metal or a tribute to the gods of gloom? What was your intention with writing this collection of songs?

When I started Briton Rites, I had no intentions of reinventing the wheel, as far as doom metal. Traditional doom metal is just that, to me. I am basically just paying homage to early British heavy metal, while hopefully putting my own stamp on it.

Do you believe that the qualities so fundamental to good and proper doom metal are still retained and observed among bands today?

Maybe with a few bands. I think most of the musicians who play doom aren't that good. Listen to how musical a band like Sabbath or Trouble is, or even Pentagram, then listen to some of these bands now and you will see what I mean. I think that some bands take the minimalism too far now in doom.

The new album may seem a bit idiosyncratic of you to someone familiar with your past work; your guitar playing shows much less of the Malmsteen-esque pyrotechnics that people may have come to associate with your past band. Was the shift to slow doom riffing a big stylistic leap for you, or is For Mircalla simply a side of Howie Bentley that we haven't heard?

I have always liked doom metal. You hear some doom elements even on Cauldron Born songs like Unholy Sanctuary, but this is epic doom (more like Candlemass or Solitude Aeturnus), as opposed to the traditional doom of Briton Rites. I started off listening to early Black Sabbath back in 1981 or so. Traditional doom is one aspect of the many things I love about heavy metal.

You also played the bass parts on this album. The fills are tasteful and numerous, very reminiscent of Geezer Butler. Did he inspire your approach?

Yeah, Geezer Butler is a huge influence on my bass playing. I remember going through a phase as a teenager when it was a serious decision that I felt like I had to make in my life, to dedicate myself to being either a guitar player or a bass player. I had Randy Rhoads on one side and Geezer Butler and Steve Harris on the other. Geezer, Steve Harris and Timi Hansen, those are my three favorite bass players.

Vocalist Phil Swanson of Hour of 13 and Seamount was enlisted to lay down the vocals for the recording. How did he become involved in this project?

I was originally going to do all of the vocals on the album, but a couple of friends suggested that I hear Phil on the Hour of 13 debut. When I heard Phil, I knew he was the guy to bring my lyrics to life. He has this “witchy” quality to his voice and it just goes perfectly with my music. I asked him if he would do it and he said right away that he would. Worked out perfectly and he was great to work with.

Listening to the album‘s final track "Karnstein Castle", I was surprised when a voice other than Swanson's came from my speakers, so I scrambled to the CD booklet and found that you were the one singing! What made you decide to do this?

Well, like I said, I had originally planned to do all of the vocals on the album. That was a really special song to me and I wanted to sing one myself. Phil was really cool about it, too.

How about the King Diamond-like scream near the end of the song? That was unexpected!

That just kind of happened. I didn’t really expect it either. Certain influences are just ingrained in me, I guess.

Sword and sorcery author Richard L. Tierney granted you permission to set his poem "All-Hallowed Vengeance" to music. How did that collaboration come about? What did he think of the idea of metal music becoming the soundtrack to his writing?

Richard Tierney is one of my favorite authors. I contacted him about seven years ago, and he and I have corresponded regularly since then. He sent me a poem years ago and told me that I should set it to music.  It was a cleverly humorous poem and I told him that I don’t really put any humorous elements in my music, but that I would love to set a bunch of his serious poetry to music. He told me that I could set any of his poems that I wanted to music. Of course, I was pretty excited about that, as I consider him to be a master poet of the weird, along with Robert E. Howard and Clark Ashton Smith. Dick mainly listens to classical music, so it is probably a bit strange for him to hear his song in that sort of musical context, but I am sure he gets a kick out of it, too.

I recently got Dick’s new collection of poetry titled Savage Menace and saw that Briton Rites was mentioned in the bibliography as having recorded “All-Hallowed Vengeance.” That made my day.

You've cited Joseph Sheridan le Fanu's 1872 novella Carmilla and Hammer Film Productions' three vampire films as the main inspiration behind the distinct gothic theme present in your lyrics on For Mircalla. Robert E. Howard’s and H.P. Lovecraft’s works seemed to provide the main lyrical motifs for Cauldron Born. Are there any concepts currently occupying your interest, of literary, cinematic, or other origins, that you would most like to turn into lyrics for a future album?

There are so many, that I don’t know how that I am going to get to them all. I have a story that I have written about the Cauldron Born mascot (Thorn) that I am thinking of making a concept album about next.

Artist Lionel Baker, who has created artwork for projects like Saint Vitus, Chastain, Griffin, Vicious Rumors, and your own Cauldron Born, is responsible for the haunting hand-painted cover for this album. Did you give him any initial instructions before he began work? What do you think of his final product?

I usually tell him what I visualize and he takes it and paints it the way he sees it. He usually does a better job when I am not too detailed in my description. I really like his artwork, and I think the Briton Rites album cover turned out good.

You released the For Mircalla CD on your own label Echoes of Crom Records. What do you hope to do with this new label? Would you like to issue a mission statement for our readers?

Initially, I had planned to only release my own music on Echoes of Crom, but then I heard this band from Siberia called Blacksword.  Blacksword’s debut album is due out on Echoes of Crom Records on August 22. Blacksword play their own style of USPM (United States Power Metal). The album is called The Sword Accurst and will appeal to fans of early Dickinson-era Iron Maiden, Sanctuary, Cauldron Born and Jag Panzer’s Ample Destruction album.

What bands are signed to the label at the moment? Give us an update on the label's current activities.

So far, the only bands on Echoes of Crom are Briton Rites and Blacksword. There are a couple of other bands that I am looking into working with at this point, and I plan on releasing a new Cauldron Born album sometime next year on Echoes of Crom.

So what does the future hold for Briton Rites? Are there any plans to play live shows? I also read that you've already written the second album!

I planned on releasing three Briton Rites albums. There may be more, but right now I only have two more planned. As far as live shows, I am willing to do them if Phil is, but if we play any festivals the promoters are going to have to cover the expenses.

I do have the second album written. Right now I am trying to juggle Briton Rites and Cauldron Born.

Of course I couldn't forget to mention Cauldron Born! What is the current status of your old band? You stated recently that you were in talks with David Louden (vocalist on ...And Rome Shall Fall) and looking to record new material, along with a Heavy Load cover, under the Cauldron Born moniker.

It does look like a Cauldron Born EP is going to happen. Hopefully, it will be released by the end of the year. And next year I plan to have the full length out on Echoes of Crom. I have been in the studio working on some rough demos of songs. I will make a formal announcement soon on our website.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Insaniae - Imperfeições Da Mão Humana (2010)

Quatro anos após "Outros Temem Os Que Esperam Pelo Medo Da Eternidade", os portugueses Insaniae lançam o seu segundo opus, este "Imperfeições da Mão Humana", título deveras sugestivo para um trabalho deste género.
Ao longo destes seis temas, que continuam a ser vocalizados em português, temos uma continuidade do trabalho já feito, um prolongamento do Doom/Death Metal já conhecido, mas que aqui avança, mesmo que com alguma timidez, para terrenos um pouco mais atmosféricos, muito por culpa de uma melhor colocação da voz de Isabel Cristina e de uma maior exploração de diferentes cenários dentro desta sonoridade,  principalmente através do trabalho das guitarras, situação que não se verificava no passado. Mais e maiores momentos de melancolia que depois contrastam com passagens mais pesadas e compassadas - embora, a quase totalidade deste registo ande por andamentos bem arrastados -, onde o jogo de vozes se vai encaixando e imbuindo mais alguma emoção a estes pesarosos, cinzentos e longos temas.
Os dois temas, "O Covil" e "Tradição Ancestral", apareceram já no split lançado com os Mourning Lenore, no ano passado e demonstram essa linha de continuidade já referida, mas é na faixa "O Covil", que somos agarrados pelas guitarras de Diogo Messias e Luís Possante e arrastados por terrenos ásperos e espinhosos, lentamente e, depois, largados sem réstia de piedade. Situação idêntica repete-se, novamente, em "Trono Abdicado", que encerra esta proposta. São dois belos temas, onde os condimentos do Doom/Death se conjugam nas doses recomendadas, proporcionando dois excelentes momentos, provavelmente os melhores desta hora de música.
No entanto, há que realçar que muito do valor deste álbum vem da homogeneidade conseguida das composições e da procura de estender a sua sonoridade a novos territórios, ainda que de forma ténue.
Não estamos perante algo original ou que vá tornar-se um marco na história do Doom/Death - do português, talvez! -, mas a qualidade dos temas, a evolução patente relativa a "Outros Temem..." e a qualidade da produção são suficientes para estarmos perante mais um bom trabalho, que em nada deve ao muito "ruído" que nos chega de além fronteiras. (14/20)

English:
Four years after "Outros Temem Os Que Esperam Pelo Medo Da Eternidade" the Portuguese’s Insaniae released their second opus, this “Imperfeições da Mão Humana", a very suggestive title for a work of this kind.
Throughout these six themes, which continue to be voiced in Portuguese, we have a continuation of the work already done, an extension of the Doom/Death Metal known already, but here goes, even though with some shyness, to land a little more atmospheric, much the fault of a better placement of the voice of Isabel Cristina and greater exploration of different scenarios within this sound, especially through the work of guitars, a situation that was not the case in the past.
More and more melancholy moments after that contrasts with the heavier passages and unhurried - though almost all of the register and walk by dragging tempos - where the game goes into place and voices imbuing some more excitement to those grieving, gray and long themes.
The two themes, "O Covil" and "Tradição Ancestral", appeared in the split with Mourning Lenore released last year and show that line of continuity cited, but it’s in the track, "O Covil", that we are grabbed by Diogo Messias and Luis Possante’s guitars and dragged by rough terrain and thorny, slowly and then dropped with no shred of mercy. A similar situation is repeated again in "Trono Abdicado" which concludes this proposal. They are two beautiful themes, where the condiments of Doom/Death conjugate in recommended doses, giving two excellent moments probably the best ones in this hour of music.
However, it should be noted that much of the value of this album has achieved the homogeneity of the compositions and seeking to extend their sound into new territory, albeit tenuous.
We are not dealing with something original or go become a landmark in the history of the Doom/Death - the Portuguese, maybe! - but the quality of the themes, developments in patent relating to "Outros Temem ..." and quality of production is sufficient to be before more good work, which owes nothing to a lot of “noise” that comes in from overseas. (14/20)

Link: http://www.myspace.com/insaniae